Reflexões do Leopardo

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segunda-feira, 31 de julho de 2017

A Venezuela Revolucionária sob o fogo do Imperialismo

Há 25 anos atrás, em 1992, no regresso de umas férias em Cuba, a Ilha da Liberdade, tive a sorte de ter que fazer um desvio e uma estadia de 3 dias em Caracas. A Venezuela, não vivia então um Processo Revolucionário, rumo ao Socialismo , bem pelo contrário, era explorada pelas grandes multinacionais yanques que sacavam dela tudo o que havia para sacar - especialmente petróleo e metais raros - , partilhando com algumas empresas locais os sobejos - essencialmente produtos alimentares, bebidas, óleos, artigos de limpeza.
Nessas empresas locais incluíam-se algumas de portugueses - a maioria oriundos da Madeira - , que manifestavam um desprezo razoável pelos venezuelanos, excepção feita para as venezuelanas jovens e belas ( falei com 2 ou 3 deles na viagem de avião para Lisboa; um deles, amigo pessoal de Mário Soares , trazia numa caixa de sapatos, com ostensivo desprezo, uma medalha qualquer, herói de qualquer coisa, que o Bochechas lhe houvera dependurado ). Para mim foi um voo nauseabundo, porém muito instrutivo.
Apesar, ou exactamente, sobretudo, por este quadro soció-político a América camóne não estava preocupada com as liberdades ( que não existiam! ) da população miúda venezuelana. Os "libertários" mírdias "ocidentais" não vislumbravam ponta de problema democrático na amachucada e esventrada Venezuela.

O aeroporto civil que servia Caracas, não ficava ao mesmo nível topográfico da capital venezuelana, situava-se nas faldas da montanha, 35 quilómetros mais abaixo e a subida para a capital percorria-se de táxi.  Tínhamos sido insistentemente avisados que só deveríamos tomar um táxi oficial, embora custasse o dobro, pois uma rede de táxis privados constituía na realidade uma rede de gangsteres locais, que o mais certo seria deixar-nos a meio da montanha, semi-nus, esbulhados de todos os dinheiros, jóias, passaportes, documentos importantes que possuíssemos.
Mas, como já teclei, a Venezuela de então pertencia ao círculo bem-aventurado de Washington e os mírdias "ocidentais" não enxergavam nela nenhum questionamento de carácter  democrático ou libertário.

Foi por estas razões que o meu primeiro crucial "ponto" político me foi oralizado em portinhol por um velho motorista de um táxi oficial, longo e negro cadillac ou pakard norte-americano : a Venezuela não tinha falta de nada, era riquíssima em petróleo, o "ouro negro", em metais raros como o níquel, o zinco, o rádio, o ouro, a prata; possuía cereais e verduras mais que suficientes para alimentar toda a população ; o seu único obstáculo era a pata dos EUA que não lhes saltava do cangote e não parava de roubar tudo o que tinham de valor.

A descrição do velho taxista não se revelou excessiva nos dias que se seguiram. Os meus companheiros, apesar dos numerosos alertas anteriores e das indicações no próprio  hotel de 5 estrelas que os cubanos nos haviam reservado, insistiram em visitar as enormes e largas avenidas de Caracas com uma parafernália de objectos cuja ostentação era de alto risco mesmo na capital diurna: máquinas fotográficas "dernier cri", relógios, jóias, os passaportes originais (não as fotocópias).
Reparámos que alguns motoristas de táxis circulavam com um revólver no assento ao seu lado e não paravam nos sinais vermelhos pelo temor de serem assaltados nesse preciso instante. Ao fim de pouco tempo percebemos que a polícia venezuelana, equipada com espingardas-metralhadoras,  pistolas, inter-comunicadores, chanfalhos até aos tornozelos, capacetes de metal no toutiço, nos acompanhavam no propósito óbvio de darem alguma protecção àqueles estrangeiros esparvoados.
Todavia, os mírdias "ocidentais" nada languçavam de democraticamente anormal na Venezuela dessa época. Os mírdias "ocidentais" assobiavam placidamente para o azul cerúleo do céu da Casa Branca... Enfim, enfoques... 

Nos dias actuais tudo mudou. Após Hugo Chaves ter dado início a um Processo Revolucionário rumo a um Socialismo real ( e não a uma daquelas contrafacções que se enfiam numa gaveta da qual se perde a chave ), os mírdias "ocidentais" despertaram da catalépsia de décadas em que jaziam, desatando todos a berrar aqui d'el rei que a Venezuela chavista -  herdeira dos ideais de Simon Bolivar e de Martí - trilha péssimos caminhos, caminhos que se afastam da Democracia e das Liberdades tal como elas são entendidas no "Ocidente". Isto é, tal como elas são impostas por Washington, pela Casa Branca, pela CIA, pelo Pentágono, pela NATO Reestruturada .

E matraqueiam-nos em todos os "noticiários" com a mesma cassette, transferindo o odioso do retrato assim pintado para Nicolas Maduro, uma vez Chaves morto.

Se, por um acaso dos Távoras, nalgum noticiário surge alguma voz mais equilibrada, de um português proprietário na Venezuela, de visita ao terrunho natal, português que transmite "existirem regiões mais favoráveis à Oposição, outras mais favoráveis a Maduro - como a de Caracas - mas, que as votações para a Assembleia Constituinte se estão a processar, de uma forma geral, ordeiramente, e que, de forma nenhuma, se pode dizer que a Venezuela está à beira da guerra civil" - então, aí, o "noticiário" entra em histeria e proclama "urbi et orbi" que aquela é uma voz isolada que não acompanha o Coro universal.
E o mírdia que emprestou microfone a tal "blasfemo" logo ajunta que os "States" do Trampas, o Brasil do Temer, a Colômbia e o México enfeudados aos "cowboys", a Argentina do clero pedófilo não irão reconhecer o resultado das votações para a Assembleia Constituinte da Venezuela
É fácil perceber porquê. As imagens que com dificuldade conseguem transpor as inúmeras barreiras hertzianas da "Imprensa Ocidental" , alcunhada de "livre", mostram uma Oposição à Revolução Venezuelana encapuçada, armada com foguetes lança-mísseis, metralhadoras pesadas e ligeiras, vários tipos de granadas, armas de mira telescópica próprias para atiradores especiais (os "snipper's), Oposição encapuçada cujo armamento mais artesanal que ostenta são cocktail´s molotov.
Ora, todas estas armas implicam gentes treinadas a usá-las, com muitas horas de treino e instructores adequados. As armas não disparam por si. Manejadas por mãos inexperientes podem mesmo vir a ser fatais para quem as usa. Precisam de instructores ... e de financiadores. 
É, aliás, curioso, que uma das mortes nas votações para a Constituinte, se tenha registado em Caracas, capital e centro da região favorável a Maduro, morte ocorrida não entre os opositores encapuçados reaccionários, mas entre as forças policiais de Maduro...
   
Os mírdias "ocidentais" , encandeados que estão com os holofotes de Washington , não dão conta que Cuba, a Nicarágua, a Bolívia apoiam a Venezuela de Maduro, que o vice-presidente venezuelano assegura que 80% da população votou tranquilamente.
Os mírdias "ocidentais" acamparam desavergonhadamente nos bandos da Reacção venezuelana e propagandeiam , agora sem qualquer ética jornalística, a Greve Geral reaccionária agendada para daqui a 2 dias e a promessa de continuar a guerrilha armada.

No rectângulo nacional e ilhas Sua Excelência Excelentíssima, o Senhor do Martelo, neste caso concreto, optou pelo esclarecedor "nim" ( que talvez queira significar, "nem com eles, nem sem eles" ), todavia, desta feita, sem afectos, abraços, beijinhos. Só carão grave, sem "smiles". Os tempos dificultosos a isso obrigam...


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Leopardos de serranias mui antigas

não deixam cair as patas nem a confiança  



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