Reflexões do Leopardo

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segunda-feira, 17 de julho de 2017

Uma Ilha que flutua no meio de Gente Comum

O título desta crónica é recriado a partir de dois espectáculos do Festival de Teatro de Almada , revelando-se perfeitamente adequado, metaforicamente falando, à situação nacional e internacional.

O incêndio de Alijó , que não surpreende mas que vai fazendo vítimas, continua a devastar o belo concelho transmontano, produtor de bom vinho, nomeadamente o "Favaios", para além de iguarias famosas como as alheiras de caça e os cabritos no forno.
O incêndio ocupa um batalhão de bombeiros, aviões-cisterna - enfim, o costume, e sempre insuficiente - porém, previsões para o seu termo só no rescaldo da terra ardida, das perdas humanas, das condolências oficiais, das promessas de comissões e averiguações até à mais ínfima fagulha.

O desaparecimento de explosivos e armas de Tancos , as demissões de chefias militares, as mini-remodelações ministeriais diárias - sem haver um apuramento de responsabilidades - configuram uma situação política surrealista, que as arrogantes parlengas do chefe Costa ( "os outros triquiticam, nós fazemos" )  não ocultam ou esbatem.

A República Popular da China , numa situação mundial de propalada crise económica, prossegue a marcar a diferença com crescimentos económicos surpreendentes e iniciativas científicas insuspeitadas até há bem pouco.

Ah, o Estado e a Administração cowboy anunciaram oficialmente que vão criar um Exército do Espaço . E eu a julgar, na minha inocência leopárdica, que isto eram favas contadas há muito.

Ora, nestes inteirins planetários, papei mais dois espectáculos excelentes no Festival de Almada.
Um deles, inspirado no comediógrafo francês Labiche,  intitulado "Uma ilha flutuante", dos Theater Basel e Théâtre Vidy-Lausanne, assume-se como uma sátira acerada à alta burguesia, usando ritmos desconcertantes - ora de uma lentidão exasperante, ora de uma rapidez difícil de acompanhar - o todo servido em alemão e em francês.
Um "chef-d'euvre" que muito gostaria de rever, pois, eu, de tedesco entendo raspas, e os écrans com as traduções resumem apenas o essencial. Pena, por exemplo, que não exista uma edição com a tradução integral da peça. Eu vou votar nesta peça, na expectativa de a voltar a ver para o ano.

A outra peça magnífica foi "Gente Comum", da romena Gianina Carbonariu, posta em palco pelo Companhia romena Teatrul National Radu Stanca, falada na língua romena, com boas traduções no topo do cenário. A encenação e o cenário são de uma expressividade e concisão prenhes de inventiva. Os seis actores/actrizes em cena desdobram-se numa multiplicidade de personagens com posturas profissionais, sociais, políticas diversas, sempre em representações óptimas.
"Gente Comum" denuncia a situação de todos aqueles que, em dado momento da sua vida, "põem a boca no trombone" por imperativos de ordem profissional, social ou éticos e, de uma forma geral, são esmagados pela ordem concentracionária existente. 
O público do palco grande da D. António da Costa, apinhado nas bancadas, assistiu à obra com um nó na garganta, pois o que é denunciado para a Roménia, Itália, Calábria pode facilmente ser encontrado em qualquer território desta Europa "Connosco". No final, o público "obrigou" os actores a virem agradecer à boca de cena a obra com que nos brindaram.
Eu falei com a responsável da Companhia, transmiti-lhe o meu encanto pela peça deles e ensaiei colocar algumas "questões delicadas", mas quer o meu inglês quer o da senhora eram pobres e a senhora permaneceu sempre numa postura mui formal.    
Em minha rasa opinião, eis mais uma peça candidata a vencedora do Festival ( e vão 7 ! ).  



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Viva o Festival, viva a luta cultural, ideológica e política

O Leopardo sempre confiante         

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