Até hoje o Teatro Municipal Joaquim Benite (TMJB/Almada) - que foi onde entrevi sonolento a peça (?), - não tem publicado os textos que teclei sobre as obras a que lá assisti - durante o Festival ou extra-Festival - justificando que eu digo "excessivamente bem" dos trabalhos lá representados, o que não é condicente com a sua necessária modéstia. Tem congelado os meus textos numa honrosa e submersa pasta da Imprensa, que fará parte do historial do TMJB.
Este texto também o não publicará decerto por razões inversas (mas, garanto, não foi por isso que o escrevi, embora uma vez por outra me ocorra que esta discriminação de que sou objecto será de natureza honorífica...).
Ora, a questão é que a obra "Dramas de Princesas..." , da austríaca Elfriede Jelinek não é uma peça de teatro, mas um texto filosofante - entumecido de "eufrásias" à procura de Sócrates (o filósofo grego) -, debitado ora numa histeria cénica, ora numa morbidez de casa mortuária. E um texto filosofante que pretende defender a condição feminina colocando-se na perspectiva errónea de que entre homens e mulheres se trava uma verdadeira luta de classes.
A perspectiva está errada e provoca mais que provavelmente efeitos adversos para a condição social feminina, até por que as mulheres da alta, média alta e média burguesias não se identificarão entre si e muito menos com as mulheres do proletariado e do "lumpen". E não se identificarão porque a fronteira da luta de classes não é aí que se situa.
As actrizes e actores ( Alexandra Viveiros, Alexandre Pieroni Calado, Gustavo Salinas Vargas, Paula Garcia, Sandra Hung, Sofia Dinger), "co-criadores", são co-responsáveis pelo que se passa na cena? Só na medida em que assumiram representar o texto, pois julgo mesmo que, uma vez dentro do espírito e do ritmo do texto ( que rapidamente se torna previsível), desenvolvem interpretações excelentes.
Falta-me acrescentar que eu - amante desde a tenra infância da Ópera, espectáculo que desde o seu parto sempre se pretendeu ser um espectáculo global, envolvendo todas as outras formas de Arte - nada tenho contra a concatenação numa peça de teatro do vídeo, do canto, da declamação, das vozes "off", mas o resultado final deve-nos entrar primacialmente pelos sentidos, pela emoção, pelo coração, não por via da Razão, caminho por excelência da Filosofia e da Ciência.
Não pensem que tenho em vista com esta reflexão crítica uma finalidade destrutiva. Mas, aos Amigos, só devemos oferecer o que julgamos que seja a verdade.
Amplexos amistosos do
Leopardo
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