Reflexões do Leopardo

Reflexões do Leopardo
Reflexões do Leopardo

sábado, 5 de março de 2016

Carlosoliveirando: neorealismo, híper-realismo, surrealismo

No esforço de raspar um pouco o sarro (e um sarro daqueles nunca sai inteiramente) de ter escrito sobre Maria Luís Albuquerque, criatura que obviamente perdeu todo o senso (se é que alguma vez  o possuiu) da fronteira entre o que é eticamente admissível e o que o não é, vou agora escrever sobre um génio da literatura portuguesa e da literatura mundial (embora a sua tradução seja um trabalho para gigantes), Carlos de Oliveira (como terão adivinhado pelo título).

Estou em leituras de "Finisterra", porventura a abóbada da sua obra de poemas, romances e ensaios epistemológicos disfarçados.
Arrasto a leitura porque a teia narrativa, poemática e ensaiística que Carlos de Oliveira tece em "Finisterra" não convida a leituras de pista fórmula 1, quer porque o prazer da leitura me impõe um passo de passeio onde páro a cada momento para observar de perto uma folha, cheirar uma corola, apalpar a casca rugosa de uma árvore. Ele há obras que só valem lidas assim (ou com velocidades variegadas e marchas atrás súbitas, inesperadas e muitas).

Bom, em curto e brusco (que, já percebi, os meus leitores estão muito intoxicados pelas práticas do Facebook), eu penso que Carlos de Oliveira nos demonstra em "Finisterra" ( Aqui acaba a Terra ?...) que o neorealismo ao aprofundar-se nos conduz a um híper-realismo - pelo uso dos instrumentos de observação e medição - e que o híper-realismo nos desvela a subjectividade de quem observa, pois a observação é conduzida pelos interesses conscientes e inconscientes do observador (Se em "Finisterra" acaba a Terra, começa o quê?... Ou seja o neorealismo/híper-realismo/surrealizado desagua onde?... Em que novos mundos?...).

Ao ler "Finisterra" penso aqui e ali, não por acaso, em William Faulkner, Evarest da literatura norte-americana, que começa o seu romance "O Som e a Fúria" (1929) pela descrição de um jogo num campo de golfe realizada através das observações e associações mentais de um louco. Em "Finisterra" a narrativa é parcialmente conduzida por uma criança que reproduz num tabuleiro construído a partir de um tampo de mesa, com materiais diversos (areias, limalha, conchas, pedritas), o seu horizonte de visão - o visto e o visionado - no muro do seu quintal.
Carlos de Oliveira não segue a conclusão de Faulkner - "A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem significado nenhum" - paráfrase de Shakespeare no "Macbeth (Cena V, Acto V), Shakespeare, uma das paixões de Faulkner, que dizia trazê-lo sempre num dos bolsos do seu casaco. "Finisterra" termina numa abertura para novos mundos de significados que não podem ainda ser definidos, mas podem ser enunciados nos seus contornos.
E, depois de Carlos de Oliveira terminar as suas falas, é da mais elementar prudência que eu não ouse teclar mais nada.



   Resultado de imagem para fotos ou imagens de Carlos de Oliveira        Resultado de imagem para fotos ou imagens de Carlos de Oliveira      Resultado de imagem para fotos ou imagens de "Finisterra" de Carlos de Oliveira


 Resultado de imagem para fotos ou imagens de "Finisterra" de Carlos de Oliveira      Resultado de imagem para fotos ou imagens de "Finisterra" de Carlos de Oliveira


Amplexos mui amistosos do

Leopardo



Sem comentários:

Enviar um comentário