Reflexões do Leopardo

Reflexões do Leopardo
Reflexões do Leopardo

quarta-feira, 9 de março de 2016

Marcuse, Herr Dr.Mabuse & Guss Hall

Um dos personagens interessantes e hilariantes do filme dos irmãos Cohen "Salvé! César" é o líder da sociedade secreta de argumentistas "comunistas"superlativamente interpretado por Max Baker (como referi na edição anterior).

Este personagem é um comunista na real acepção da palavra - considerando, evidentemente, interpretações e execuções das práticas comunistas que, mantendo os traços orientadores cruciais, têm variado nas adaptações criadoras às condições sócio-culturais das nações em que se inserem   e às circunstâncias históricas em que ocorrem - , desde o marxismo de Marx e Engels ao leninismo de Lénine, ao estalinismo de Stálin, ao brezhnievismo de Leonid Brezhnev, ao hochimismo de Ho Chi Minh e do general Vo Nguyen Giap (estratega incontornável da guerra de guerrilha que derrotou os poderosos e experientes exércitos coloniais francês e norte-americano), ao cunhalismo de Álvaro Cunhal? Não é!!

O personagem-líder da sociedade secreta de argumentistas comunistas inspira-se de facto em Herbert Marcuse representado no filme dos Cohen por um actor que se assemelha fisionomicamente  a Marcuse.
Quem foi Herbert Marcuse ? Nascido em Berlim de uma família de judeus assimiladosMarcuse  (n. a 19.Julho1898- m. a 29.Julho.1979) morre nos EUA, onde ensinou até à morte nas principais Universidades norte-americanas.

Marcuse, que entre 1917 e 1918 pertenceu ao Partido Social-Democrata Alemão, participou num Conselho de Soldados durante a Revolução de Berlim de 1919 (derrotada), o que o levou a abandonar o Partido.
H.Marcuse é desde cedo influenciado por Martin Heidegger e pela sua obra "O Ser e o Tempo" ( obra metafísica, na esteira da fenomenologia de Edmond Husserl ). Heidegger que se inscreverá no partido nazi ("nacional-socialista") e que será reitor da Universidade de Friburgo já sob o pleno domínio de Hitler na Alemanha. Nos entretantos, Marcuse havia chegado a assistente de M.Heidegger, fugindo da Alemanha em 1933 com medo da repressão hitleriana dada a sua ascendência judaica.
Marcuse exila-se primeiro em Genebra e posteriormente nos EUA, sendo um dos fundadores e principais líderes da Escola de Frankfurt, que dialoga fundamentalmente com Freud e a psicanálise, donde derivam as suas obras emblemáticas "Eros e Civilização" e "O Homem Unidimensional" que vêem a solução na satisfação dos desejos individuais humanos (necessariamente de raiz erótica) e, posteriormente, no desenvolvimento da tecnologia que, por si só, terá efeitos revolucionários.

Existe neste conglomerado de teses alguma coisa do que é considerado comunismo?... Nada. Aliás, Marcuse fez questão de desfazer equívocos, escrevendo que o processo de libertação proletária se perdeu ao admitir o surgimento de "sistemas totalitários"como o nazismo e o estalinismo. Isto é, traçou um sinal de igualdade entre nazismo e estalinismo.
Além de que lhe é atribuído o lema (tão querido dos hippies dos anos 60) ou a inspiração para ele: "façam amor, não a guerra" ("make love, not war")

Porém, a questão que se pode pôr é: os irmãos Cohen têm conhecimento disto quando realizam o filme?
Não podem deixar de ter, porque ou eles ou os seus colaboradores, não podem correr o risco de filmar ligeiramente tontices. O que os Cohen estão a radiografar não é o comunismo norte-americano é, mas o que uma multidão de norte-americanos, analfabetos políticos, pensa que é.
Aliás, até porque, homens cultos como inegavelmente são os Cohen, e com a equipa de colaboradores que têm, estão informados sobre o Partido Comunista dos USA - CPUSA - e do seu militante mais representativo, Gus Hall.

Gus Hall (de ascendência finlandesa, nascido a 8.Out.1910, na cidade rural de Cherry, no Minnesota, e falecido a 13.Out.2000, em Manhattan, New York, com 90 anos) representa as orientações fundamentais do CPUSA que defendeu uma democracia apoiada na Carta dos Direitos Civis dos USA, participando e ajudando a organizar as comunidades afro-americanas na luta, que disseram Não à Guerra do Vietname, que apoiaram a URSS de Leonid Brezhnev, que rejeitaram o "euro-comunismo", que lutaram contra a Glasnot e a Perestroika, que acusaram Mikhail Gorbachev e Boris Yeltsin de "demolirem o socialismo" existente.

John Edgar Hoover , anti-comunista empedernido, chefe lendário do FBI durante décadas, descreveu Gus Hall como "uma poderosa ameaça ao "Americanismo"" ( o que, vindo de quem vem, só pode ser tomado como um elogio) e nas memórias escritas por si e por um biógrafo da sua confiança, J. Edgar Hoover confessou que durante décadas perseguiu Gus Hall sistematicamente - Gus Hall foi preso diversas vezes, passando na totalidade mais de 10 anos enjaulado em cela solitária ou em cela vizinha de um gangster famoso - e denegriu e distorceu a sua imagem, as suas palavras, posições e actividades.

Enfim, os "comunistas" do filme dos Cohen representam a imagem que o norte-americano comum terá deles: um Herbert Marcuses tontos e delirantes, perdidos nas concepções do "homem unidimensional". Marcuses que mais fazem lembrar um "herr" Dr. Mabuse, personagem de novela e de filme alemão (direcção de Fritz Lang, 1922), mestre do disfarce, da telepatia e da hipnose que comete os crimes através de uma rede de intermediários, suas marionetas.       

Resultado de imagem para fotos ou imagens de Herbert Marcuse       Resultado de imagem para fotos ou imagens do Dr. Mabuse Resultado de imagem para fotos ou imagens do Dr. Mabuse                   Resultado de imagem para fotos ou imagens de Gus Hall 
Resultado de imagem para fotos ou imagens de Gus Hall       Resultado de imagem para fotos ou imagens de Gus Hall     Resultado de imagem para fotos ou imagens dos irmãos Coen


Despeço-me por hoje,

Vou a correr verificar se não me enfiaram algum Óscar debaixo das almofadas

Leopardo avisado... morre sem Óscares. 

Sem comentários:

Enviar um comentário