Reflexões do Leopardo

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sábado, 26 de março de 2016

Agradecimentos, Vitupérios & Sempre, sempre o mal-parido Des-Acordo Ortográfico

Estamos numa quadra festiva, as famílias reunidas, poisa sobre nós o luar beatífico de Sua Excelência Excelentíssima o Senhor Presidente, luar prenhe de "emoções", "afectos", "transversais", internacionais, (não sentem?), vai daí óspois soltei a brida aos cavalos e resolvi agradecer a todos os meus Amigos o apoio que me têm prestado nestas navegações primigémias pelos mares da escrita, "toujours, toujours", nunca dantes navegados, afora o Camões.

Começo pelo Diogo. Tinha que começar por algum dos Amigos e o Diogo pertence àqueles que acham que se eu meto uma vírgula aqui, um travessão acolá, é genial (talvez seja... o Diogo é um rapaz inteligente... que eu tenho um mau génio levado da breca todos confirmam... já é um princípio...).
Não, oh seu estúpido, não é aquele Diogo que parece uma vaca a arregalar os olhos de garoupa por trás de umas lentes de fundo de vidro de garrafa!! O meu Diogo é uma figura apolínia que esvoaça em torno dos versos que declama. É um Artista.
Outro dos meus generosos Amigos é o João. O João que com um certificado de cinco (5 !) palavras - "Entra que pertences ao Clube." - me garantiu que eu também estava incluso nos escritores-poetas. Esta até a mim surge como uma generosidade excessivamente generosa. Não era preciso exagerar.
Gaita, gaita! Será por ser Páscoa? O senhor aí, com cara de "deficiente" (no sentido italiano do termo), não é esse João que caiu na Lunda com uma avioneta cheia de diamantes, dentes de elefante, amais o pai. Sim, não é esse que tem uma cara reconstruída que semelha um frankestein bem sucedido, esse que, não sei porque bulas, finge que capitaneia o Ministério da Cultura, esse que, amais o pai, personifica uma das "sensibilidades" mais retrógradas e anti-comunistas do PS. 
O meu João é um letrista, príncipe dos poemas sintéticos, de fisga no bolso das"jeans", estilhaçando a sarcasmos vidraças de preconceitos. O meu João é um Artista.

Agora, de seguida, não posso falar nos meus amigos Manel e Maria, pois atão, se o fizesse o vulgo dos brasileiros do outro lado do Atlântico haviam de figurar duas criaturas - ele, de boné, bigode e botas de atanado, ela, com duas verrugas negras na cara, carrapito no cocuruto do toutiço, saias até meio da canela, buço negro de fazer inveja ao adolescente mais precoce.
Seria difícil fazer compreender ao vulgo dos brasileiros que nunca visitaram Portugal que essas imagens pertencem à minha infância - que recordo com uma imensa ternura e me alimentam a determinação -, hoje não se encontram nem com uma candeia, e que quando pronuncio Manel e Maria tanto posso estar-me a referir a Camaradas, de jeans e ténis, com os quais realizo actividades de resistência e luta, como ao escol da intelectualidade portuguesa que pela palavra, pela música, pelo risco, pela cor, pelos fotogramas, ajudam a manter a fogueira dos "amanhãs que cantam".

E, entrando na parte final deste blogue, é essa a razão pela qual não posso aceitar este mal-parido Des-Acordo Ortográfico de 1990. Pois, se Eu estivesse a cantar "Brasiú" ou "tchau" ou "née?..." estaria de facto a gozar, a fazer troça dos nossos irmãos brasileiros.
Este meu profundo desacordo com o dito Acordo AO/90 em nada interfere com o respeito que tenho pela variante brasileira do Português, nem pela ilustríssima literatura brasileira em relação à qual me sinto devedor e que desejo aprofundar.
Se existe algo que comungo com o genial Fernando Pessoa foi quando ele grafou "a minha Pátria é a minha língua". Pessoa (que, como se sabe, era bilingue - em português e inglês) traçou uma fronteira: não se fala ou se escreve apenas numa língua; pensa-se nessa e com essa língua.

Eu adiantaria mesmo como uma teoria a investigar: os meios com os quais se escreve - estiletes de metal na argila, no couro ou no papiro, aparos em penas de pato, canetas de tinta permanente, esferográficas em papel, clicar teclas numa máquina de escrever ou, hodiernamente no computador condicionam e sobre-determinam a nossa escrita e, porventura, o nosso pensamento.
Contudo, deixemos estas teorias de um escritor para um eventual investigador que decida levá-las a sério, vamos agora ao que interessa no praticó-concretamente (tiro o meu chapéu de vénias ao Lobo Antunes, ao qual respiguei a "trouvaille"). O que interessa no praticó-concretamente é vergastar o senhor Malaca Casteleiro ou Malaca Castel-Queijo ou Martelo Queijo-Matraca  (para a criatura em questão qualquer designação serve) .
E vergastá-lo como? Da forma que mais o fizer sofrer. A minha ideia é atá-lo a um poste público, olhos vendados por uma banda preta, e serem-lhe atirados aos tímpanos todas as interrogações, dúvidas, críticas que aos alunos, professores, pais, avós, cidadãos em geral, fitas previamente gravadas (caso não apareça gente durante as noites) ocorrerem durante dias, semanas, até a criatura começar a dar sinais óbvios de loucura.
Nessa altura retira-se do poste, submete-se a tratamento psiquiátrico adequado, após o qual será enviado pelo País fora, com um gravador, a fim de repetir a exemplar façanha de Michel Giacometti : ouvir e gravar como fala o Nosso Povo. Se tudo cumprir a contento, será reabilitado para restaurar a honra manchada da sua família.


Resultado de imagem para fotos ou imagens de declamações na Calçada de Santana  Resultado de imagem para fotos ou imagens do letrista português João Monge

Resultado de imagem para fotos ou imagens de João Soares        Resultado de imagem para fotos ou imagens de João Soares Resultado de imagem para fotos ou imagens de Diogo Freitas do Amaral   Resultado de imagem para fotos ou imagens de José Malaca Casteleiro    

                                            Resultado de imagem para fotos ou imagens do Acordo Ortográfico de 1990


E assim termino.
Estas são as minhas amêndoas da Páscoa.
Afinal não disse mal de ninguém.

O Leopardo
       


          

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