Reflexões do Leopardo

Reflexões do Leopardo
Reflexões do Leopardo

sexta-feira, 24 de março de 2017

Açordêses

Um estimado camarada veio-me transmitir a sua opinião sobre o Acordo Ortográfico/90. Considera que alguma coisa já precisava de ser mudada, que outras coisas são inaceitáveis, que o erro fundamental foi a forma como o AO/90 foi lançado, não tendo havido uma discussão prévia sobre ele.

Respondo-lhe nesta edição do blogue que um dos erros crassos do AO/90foi assentar no princípio de que o critério principal para a mudança deveria ser a Fonética. Nunca o foi em nenhuma Língua - desprezando a Etimologia,a Sintaxe, a Semântica, e atropelando-as - e no caso do AO/90 , com uma clara prevalência do português do Brasil sobre o português de Portugal, língua-mãe.

Lembro-lhe o caso do Inglês de Inglaterra, os que mais expandiram a sua língua a nível mundial(foi "o Império onde o Sol nunca se punha")depois dos Romanos, que nunca fez Acordo algum em tempo nenhum, nem mesmo com os seus queridos filhos (posteriormente patrões)cowboys(Shakespeare,Oscar Wilde continuam a ser representados no belo inglês de Oxford , nas Ilhas Britânicas).

O AO/90 constituiu claramente uma OPA do Governo brasileiro sobre o Governo português para facilitar a entrada das grandes empresas brasileiras nas ex-colónias portuguesas, dado o muito maior potencial do Brasil em enviar professores seus e o seu material didáctico para essas regiões.
É sempre uma elementar perguntita a colocar: a quem é que um Acordo beneficia economicamente...

Aliás, o AO/90 acabou até mesmo por abranger um país centro-africano - a Guiné Equatorial - onde nunca se falou, ou se fala, nenhuma variante do português, ou regiões administrativas da Índia - Goa, Damão e Diu - onde o português não constitui mais que uma recordação estropiada. Por exemplo, tenho uns excelentes amigos provenientes de Goa que, após 42 anos de residência no rectângulo nacional, se expressam numa miscelânea,onde os sujeitos raramente acertam com o tempo verbal, os substantivos e os adjectivos são reduzidos a um círculo restrito, as conjunções e preposições pérolas raras.
Não é de estranhar que o Governo brasileiro tenho aceite como parceiro negocial pelo lado português o doutoreco Malaca Casteleirodado os seus exíguos conhecimentos da matéria em causa, o seu nulo peso negocial, a sua avidez pelo pilim envolvente, o próprio reconhecimento da sua incompetência pessoal, que já admite rever o Acordo tão recentemente assinado.
Ao doutorico Malaca Cauteleiro não lhe suscitou nenhum prurido cerebal que a Associação Portuguesa de Escritores e a Sociedade Portuguesa de Autores rejeitem o AO/90 nem que centenas e centenas de intelectuais prestigiados (escritores, tradutores, letristas, guionistas, músicos),do lado português e do lado brasileiro, recusem usar o Açordêz.

Pode ainda ajuntar-se que o Brasil nunca implementou o AO/90 .A rica Angola,com enormes assimetrias económicas e culturais no interior, com a região do Lobito a reclamar o francês, tem mais em que pensar. Moçambique, com 3.200 quilómetros na longitude maior, vivendo essencialmente da agricultura e da pesca, com inúmeras etnias internas, a sua unidade sempre ameaçada pelo terrorismo da Renamo , a passada e pesada influência afrikander, a sua primeira prioridade está longe de ser a aplicação do AO/90. No que concerne a Cabo Verde sempre falou crioulo que só entendemos com tradutor adequado, apesar de gostarmos imenso de ouvir Cesária Évora a cantar descalça o "Nhá Crétcheu".

A questão que se coloca é o que fazer com o AO/90, que, entretanto, entalou bem entalado uma geração de alunos em Portugal e uma geração de professores tão desorientados como os seus alunos?
Evidentemente que não é remendar o Açordêz da discórdia, verdadeira falcatrua frankeinsteiniana, mas rasgá-lo, queimá-lo, e, porventura, depositá-lo nos resíduos tóxicos de Almaraz.E expedir para lá o sr. Malaca-Castel-Queijo na expectativa de que se dê bem com a atmosfera..É uma questão de autonomia cultural, um imperativo nacional,um imperativo patriótico! 

Um outro assunto tem agitado os tablóides: os alunos da Universidade Nova de Lisboa exigiram o cancelamento de uma conferência do sr. doutor Jaime Nogueira Pinto ,conferência que lhes tinha sido imposta. E exigiram o seu cancelamento mui judiciosamente, pois Nogueira Pinto é um fascista salazarento assumido, que tem vindo a ensaiar um processo de edulçoração,assim uma espécie de fascista com o qual se pode dialogar democraticamente. 
Uma recente gravação vinda a lume testemunha que, na altura da libertação de Angola do jugo colonial salazarento, o sr. Jaime Nogueira Pinto encontrava-se a jantar na casa do general Silvino Silvério Marques,prontos para emitirem ordens e resistir de armas na mão ao processo de descolonização em curso, quando recebem a notícia que o almirante Rosa Coutinho, "o almirante vermelho", acabava de chegar a Angola , representando o poder triunfante em Lisboa, e se preparava para entregar o poder às forças de libertação angolanas, decerto o MPLA.
Rosa Coutinho era visto pelo distinto grupo de fachos reunido na supra-citada sala de jantar como a própria encarnação do Belzebú chifrudo e vermelhusco,chispando terrores, as quais destacadas notabilidades salazarentas, num desânimo, braços caídos, verteram as mimosas "pérolas" que seguem. General SSMarques para a consorte:"Manda a mainata fazer as malas !". Consorte para Sexa gen. SSMarques :"Nunca as desfiz."
Enternecedor, não é?! E esclarecedor.

Ora, os alunos da Universidade Nova perceberam perfeitamente que os fachos só aparentam tornar-se dialogantes quando estão em perda. Uma vez triunfantes sacam dos varapaus...ou das câmaras de gaz. Aliás, depois da sua referida exigência de cancelamento, já sofreram umas visitas dos encapuçados trauliteiros do PNR.

Entendimento igual não tem Rúben de Carvalho, que vai alimentando umas conversadinhas com o supra-citado sr. Jaime Nogueira Pinto - ideólogo fascista que nunca publicamente traiu os seus ideais - nuns diálogos de fins de semana, crismados em momento infeliz de "Radicais Livres".
Ninguém duvida do amplo saber nem das intenções democráticas de Rúben de Carvalho ao participar nas citadas conversas radiofónicas: aguarda seguro que o confronto de ideias demonstre à saciedade quem tem razão e quem a não tem.

Porém,as citadas conversas, em horário nobre, assentam em 3 enganos cruciais:
- que os "radicais livres" são radicais pessoais, independentes de ideologias políticas partilhadas, constituídas em partidos políticos (qualquer dos intervenientes são personalidades destacadas de partidos políticos conhecidos);
- que os extremos ideológicos, no fundo, se tocam (os dialogantes até riem em conjunto e com frequência !)
- que um fascismo pode ser democrático, não está destinado a "ditar", impor pela força.

As conversas "Radicais Livres" são tão simpáticas para o semanário de Direita "Expresso" que as aponta como um paradigma de diálogo político "civilizado", "exemplo a seguir". Seria extraordinário que um tablóide enaltecesse iniciativas que ferissem os seus valores...

No meio de tudo isto o esgrouviado Presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem expeliu paleio acintoso para os Povos do Sul da Europa. Qualquer coisa como "as gentes do Sul gastam tudo em copos e mulheres, trabalhar nikles, batatóides". Mais ponto menos vírgula, o holandês (que não é "voador" como pretendia Wagner)foi de uma vezada xenófobo, racista, sexista. Porém, apesar de muito criticado, assevera que foi mal interpretado, que não pedirá desculpas e não se demitirá. Que está bem apoiado no ministro alemão das Finanças,herr Wolfgang Schäuble e em Mario Draghi,Presidente do Banco Central Europeu,e político italiano em queda livre no seu País.

Como se tudo isto não chegasse (para pior basta assim), o Toni das Guitarradas, secretário-geral da ONU , cujo assento no cargo havia quem profetizasse que seria uma mais-valia para Portugal harpejou, lá do alto assento aonde atrepou, que determinados montes em Israel foram, inegavelmente, santificados em primeiro lugar por "judeus". O que provocou de imediato um protesto e a exigência de um pedido de desculpas por parte das Autoridades do Governo Palestino por tais afirmações não serem conformes à verdade dos factos.

Neste entremez, Sua Excelência Excelentíssima o nosso Primeiro Dinossáurio atirou-se aos ares da indignação com o boicote dos alunos da Universidade Nova (que raio de democracia é esta em que os fascistas já não podem fazer propaganda!...), estica trémulo o dedo indicador contra o Presidente do Eurogrupo, mas assobia para o lado no caso do Toni das Guitarradas (talvez, avento eu, por estar em jogo Israel sionista, a Administração neonazi das Trampas e a NATO, guardiã da Paz no planeta). Ou seja, Sua Incellênssia o nosso Primeiro Dinossáurio prossegue nas águas turvas de umas no cravo, muitas na ferradura. Que o deus dos montes Golan lhe valha... 



Resultado de imagem para fotos e imagens do Acordo Ortográfico/90 Resultado de imagem para fotos e imagens do debate entre Rúben de Carvalho e Jaime Nogueira Pinto



Saudações confiantes na luta organizada, debatida, colectiva

do Leopardo

Sem comentários:

Enviar um comentário