"Actualizando..."

As crónicas são como a Vida, nunca estão actualizadas ... vão-se actualizando, até que a Ceifeira Cega, indiferente ao que se realiza e à moral, lhe põe o fim derradeiro.

Por exemplo, eu, ontem, já tinha expedido as minhas reflexões, com os resultados dos grandes "teams" nacionais, azuis, verdes, vermelhos, aos quadradinhos pretos e brancos , todos a jogar espantosamente e a perder inexplicavelmente, e vão os bracarenses e perdem igualmente inexplicavelmente. Nem já as pequenas alegrias do futebolês nos são permitidas !... É perseguição dos deuses olímpicos, uns madraços vingativos, invejosos da nossa descendência de Ulisses e Homero.

As Bolsas também não ajudam - pelo menos a minha deve ter um furo em parte incerta . Agora é a Bolsa de Xangai e a de Tóquio a abrirem ambas em baixa .

A nível interno, as notícias acompanham a tendência para o disparate. 

Segundo o "Jornal de Notícias", aumentam as denúncias de "bullying" nas Escolas : 4.000 este ano. "Bullying" , descendente das práticas medievais de Coimbra, sensivelmente pioradas e generalizadas a todo o País.

O Metro do Porto - entregue à gestão e ao lucro de empresas privadas ( as tais que só elas é que sabem ... ) - circula apinhado e com falta de carruagens .

Entrando no domínio do caricato, dão-nos a saber que se pode emagrecer saudavelmente comendo apenas batatas - cozidas, assadas, fritas, em puré, a murro. Um norte-americano demonstrou-o, passando de 140 para 100 kilos, no período de 12 meses. A única perguntita que gostaria de colocar ao habitante das terras do Tio Sam é se dá algum prazer viver assim... Todavia, ele há gostos para tudo. Quem come "donuts" por que não há-de comer batatas ?...

Ainda no domínio do verdadeiramente cómico, toma-se conhecimento que Miguel Sousa Travar , afivelando a sua cara de menino estouvado que vai partir a loiça toda da "Geringonça", tornou-se o novo Nobel ( já bastante decrépito ) ...  de Penafiel ! 

Então não é que o avelhentado menino Miguel , com o apoio do pelouro cultural da cidade a quem a ideia pareceu jeitosa, encheu a povoação de panfletos com a sua gaforina irreverente, cartazes idênticos, e balões dependurados das árvores, ganhando o mui recente festival literário de uma coisa denominada "Escritaria" ( nome que julgo adequado porque se associa de imediato a "Gritaria" ).

Decerto o miguelito passará a fazer parte das glórias penafielenses, juntamente com os telhados de xisto, os castros, os vestígios pré-históricos, o Museu da Broa, os dois castelos altaneiros. Neste caso interrogo-me que mal fez a antiquíssima povoação de Penafiel ao demiúrgico escriba a quem roubam romances da caixa negra do computador pessoal... 

Aqui chegado, devo confessar que toda esta croniqueta não foi mais que um pretexto para falar dessa deusa inca, Maria Bethânia, que, do alto dos Andes , muito por cima das nossas aturdidas cabeças, faz resplandecer essas vozes de protesto e aviso contra as Ditaduras ( quando atinge o apogeu, com 19 anos, era a ditadura militar dos Coronéis  ) . Por exemplo, esse grito imperial de Resistência, "Carcará" , que ainda hoje me ressoa nos neurónios, nas emoções, nos ossos, igual ao primeiro dia em que o ouvi.

Claro que Maria Bethânia, compositora e cantora, é a irmã de Caetano Veloso, a voz mais doce da música ligeira de altíssimo nível, o qual é igualmente cantor e compositor.

Bethânia, nascida na Bahia, a convite de Nara Leão mudou-se para o Rio de Janeiro, a sua carreira ganhou asas ( já vendeu mais de 26 milhões de discos ) cantou, entre muitos outros, com Gal Costa, com o mano, com Gilberto Gil - o qual sorria eternamente, durante as actuações com cara de parvo, mas que de parvo não tinha nada, vindo a ser ministro da Cultura com Lula da Silva. Bethânia, católica fervorosa e praticante de algumas crenças do "candomblé" ( o que é vulgar na América Latina, na qual o marxismo-leninismo caminha de braços dados com variantes à viola de catolicismo ). 

Pois, Maria Bethânia vem a Lisboa, ao Coliseu dos Recreios, nos dias 21 e 22 de Outubro, festejar 50 anos de carreira. Disparou de imediato para a jornalista que admirava imenso, entre os cantores portugueses, Amália Rodrigues, uma cantante do Povo e para o Povo.

Lamento que Bethânia me pareça não conhecer Camané - a Amália do nosso tempo, em voz masculina - ao qual atribuem hoje, em Sanremo, o prémio Tenco .



   



                                                        



Saudações confiantes

na luta colectiva organizada

do Leopardo