Reflexões do Leopardo

Reflexões do Leopardo
Reflexões do Leopardo

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

O Som e a Fúria & Buda - II Bobine

Na crónica anterior, quando lhes falei de "Lucky" e do fantástico actor que foi Harry Dean Stanton, olvidei dizer-Lhes que o Harry, além das fulgurantes interpretações no cinema, tocava também assiduamente com uma banda sua. Aliás, no filme "Lucky" deu-nos um cheiro disso, cantando ao despique com uns mariachis mexicanos, em honra de uma viúva mexicana ( de se arregalar o olho ! ) e do filho dela. Bom, se o Harry Dean Stanton se atrevia a soltar a voz, eu, Leopardo de outras eras glaciares, que não sou propriamente um doce rouxinol !, terei igualmente permissão para atroar os ares de tempestades que atravessamos. Aquele Harry era um portento ! Abria as asas dele e ajudava a abrir as asas dos outros !...

Porém, o que me traz hoje aqui é reflectir um pouco sobre "Nathan, o Sábio" ( "Nathan der Weise" no alemão de origem ) do importante iluminista ( 1729-1781 ) Gottold Ephraïm Lessing, obra teatral em cena no Teatro Municipal de Almada ( TMJB ) numa encenação de Rodrigo Francisco . 
Lessing , considerado um dos grandes vultos do Iluminismo alemão, poeta, dramaturgo, filósofo, crítico de diversas formas de Arte, foi um defensor do livre pensamento, da tolerância religiosa, crítico do anti-semitismo. Seleccionar e encenar "Nathan, o Sábio", uma das suas peças cimeiras, é uma escolha inteligente na época histórica que vivemos, na qual o neonazismo , mascarado de diversos figurinos religiosos, aposta em relançar o mundo, o Médio Oriente, a África, a Ásia, a Europa numa 3ª guerra mundial, desta feita nuclear, para prolongar o domínio do Capitalismo por mais umas centenas de anos.

Filho de um teólogo luterano, Lessing tinha sido destinado pelo pai a ser igualmente um sacerdote luterano, iniciando os seus estudos num seminário luterano, todavia o filho preferiu o teatro e, as suas peças, desde a adolescência, retratam já os dramas da classe burguesa e não os choques épicos e cavaleirescos da grande nobreza, abrindo caminho para os dramas sociais realistas. 
Rejeita o domínio do neoclassicismo formal e do teatro francês - nomeadamente Voltaire - opondo-lhe uma declarada preferência por Shakespeare. Em notas de originalidade, Lessing é dos primeiros a sublinhar que cada forma de expressão artística - música, teatro, pintura, escultura, etc - deve estar sujeita a condições específicas de manifestação.

Amigo do outrossim iluminista Mendelssohn , é curioso saber que ambos pressionaram Immanuel Kant - o enorme filósofo alemão campeão do racionalismo e um dos coveiros da metafísica medieval ( Marx cita-o como "um dos gigantes aos ombros dos quais subi e me permitiram ver mais longe" ) para que viesse a terreiro defender o Racionalismo e demonstrar a impossibilidade de provar a existência de qualquer Deus, baseado no raciocínio e na experiência sensível. A pressão foi enorme, pois o prudente Kant, que nunca se afastou mais de 30 quilómetros da cidade de Könisberg, só se resolveu a escrever o pequeno mas lapidar opúsculo "Como se orientar no Pensamento", após ter sido ameaçado por Lessing e por Mendelssohn de, ele, Kant, ser um adepto do judeu luso-descendente Spinoza (século XVII), isto é, de um panteísmo matemático-geométrico. Na época, ser acusado de spinozismo valia a forca !...

Portanto, portanto, a encenação de "Nathan, o Sábio", nos terríveis tempos que vivemos, justifica-se como uma opção sábia.
Em minha opinião, infelizmente a sua realização é comprometida pela encenação de Rodrigo Francisco que lhe imprime um ritmo demasiado sincopado, uma direcção de actores desacertada ( em minha chã opinião salva-se o João Farraia e a Maria Rueff ; até o notável Luís Vicente - o Nathan - sucumbe àqueles sussurros monocórdicos que nem os microfones conseguem transmitir para a plateia ; para já não falar da destrambelhada representação do Templário, símbolo do sectarismo católico, ora a gritar a sua cólera, ora espalmado no palco...).
Sempre na minha subjectiva apreciação, a lengalenga musical convida ao sono e os cenários oscilam entre alguns acertos esplêndidos e umas projecções que mais se assemelham a lamelas de células num microscópio.
Para além de tudo isto, o próprio texto de "Nathan, o Sábio" precisa de umas sábias micro-cirurgias, porque afirmar, no século XXI, que todos os seres humanos são irmãos ou primos direitos, descrevendo as árvores genealógicas, põe a plateia a rir, comentando que, assim, a Humanidade seria transformada numa legião de dementes, condenada a extinguir-se por degenerescência genética.

Contudo, contudo, tornarei a ver o "Nathan", encenado pelo Rodrigo Francisco, não o tenha eu apreciado em dia aziago ( foi a seguir à "Black Friday" ! ). Uma revisão da peça, pode ser que me inverta os cânones. Como escreveu Mário de Carvalho, "quem disser o contrário é porque tem razão".

Não obstante, existem aldrabices que precisam de ser referidas e fustigadas no momento como, por exemplo, a obra de uma jornalista qualquer, à qual a RDP/Antena 1, (em 9Dez.17) emprestou as antenas à vara larga para perorar sobre o próprio livro dela: "A Guerra das Coreias" . O suposto livro da doutora-jornalista, supostamente uma tese científica, não passa de um chorrilho de mentiras que se inicia no título.
A "tese doutoral" escrevinha sobre a Guerra travada no território coreano, entre 1950 e 1953, não entre as duas Coreias - que não existiam - mas entre as Forças Militares Norte-Americanas e uma Coreia em vias de engrossar o campo dos Países à procura do Socialismo concreto.

É verdade que esta guerra assinalou a primeira semi-derrota do Exército Ianque depois da 2ª guerra mundial. E a primeira semi-derrota porque o Estado Ianque foi obrigado a reconhecer a independência do território coreano acima do paralelo 38. A primeira semi-vitória porque as tropas cowboys conseguiram submeter o território coreano a sul do paralelo 38, sem que, todavia, as fugas de um lado para o outro do paralelo, nos dois sentidos, tenham estabilizado até ao presente.
Instabilidade que se reflecte em posturas políticas ao nível mais elevado na actualidade. Pyongyang, jogando num fio da navalha de alto risco, adverte que "bloqueio marítimo norteamericano-nipónico equivaleria a uma declaração de guerra" ("C.M"10.Dez.17). Alto responsável da ONU saindo de encontro com responsáveis da Coreia do Norte com a promessa de contactos regulares entre as duas partes ("O Jogo"9Dez.17).

Apesar da missa ir longa, é impossível não abordar a escandaleira que rebentou a propósito das "Raríssimas", instituição privada financiada com dinheiros do Estado, instituição chefiada pela Presidente Paula Brito Costa, a qual se terá locupletado em benefício próprio ( vestidos, viagens, jóias, etc) com verbas destinadas a deficientes ("D.N."11Dez.17) .
É completamente paupérrimo "pedir" que se "apure" como lamenta tristérrimo, com a morte nas íris, Sua Excelência Excentíssima, o Professor do Martelo quando corre uma Petição Pública com milhares de milhares de assinaturas a pedir o afastamento da titi Paula B.C. e a exigir o seu julgamento sem complacências.
Não é sustentável - como defendem pessoas bem intencionadas - que no caso das "Raríssimas" se trata de uma verba de 7 milhões e meio de €uros , um petisco (sic !), ao lado da mega-roubalheira da Tecnoforma que envolve verbas 100 vezes superiores, grande parte para tapar a desgraçada péssima gestão da Banca Privada.
É verdade que roubar um pão não é o mesmo que assaltar uma padaria. Roubar um pão, resolve-se com um puxão de orelhas, um ralhete ao garoto e a oferta discreta do pão com uma fatia de fiambre dentro. Mas 7 milhões e meio de €uros dá para comprar uma rede de padarias pelo país fora e implica a própria credibilidade e respeitabilidade do Estado. A fronteira entre o que é moralmente justo e injusto, o que é admissível e o que é inadmissível socialmente não depende apenas das verbas implicadas.

Como estamos em quadra natalícia, "ite, missa est"


Resultado de imagem para fotos ou imagens da peça "Nathan, o Sábio"    Resultado de imagem para fotos ou imagens da peça "nathan, o sábio"    Resultado de imagem para fotos ou imagens da peça "nathan, o sábio"



 Resultado de imagem para fotos ou imagens da Presidente da "Raríssimas", Paula Brito Costa     Resultado de imagem para fotos ou imagens da Presidente da "Raríssimas", Paula Brito Costa

                                         Resultado de imagem para fotos ou imagens da "Raríssimas" e da sua Presidente Paula Brito Costa


  
Saudações natalícias

com as prendas possíveis na peúga

as minhas prendas serão os Vossos comentários

Leopardo


  

Sem comentários:

Enviar um comentário