Reflexões do Leopardo

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segunda-feira, 9 de julho de 2018

A Estreita Fronteira de Demarcação entre a Arte e as Técnicas Profissionais de Replicar

O magnífico Festival de Teatro de Almada, levado a cabo pelo Teatro Municipal Joaquim Benite/TMJB ( embora com muito menos apoios financeiros da actual Presidente da Câmara - tava a linda Inês posta em sossego lá nos seus Parises... ) , continua a apresentar um elenco de peças prometedor dos maiores entusiasmos.
Após abrir o Festival com a reposição da peça premiada no ano anterior - "Apre", peça da Companhia Francesa "Le Fils du Grand Réseau" - obra de dois actores e uma actriz encantadora que nos deixou de novo de queixos descaídos de admiração, no segundo dia brindou-nos com as peças "Lulu" e com "Kalakuta Republik" , a confrontação das quais provocam a minha presente reflexão.

"Kalakuta Republik" , da Companhia oriunda originalmente de África , "Faso Danse Théatre" , peça para três bailarinas ( duas negras, uma branca ) e quatro actores ( todos negros ) , agarrou a enorme plateia ao ar livre da Escola D. António da Costa ( mil e muitos lugares ) desde os primeiros minutos, num ritmo infernal de duas horas e tanto, onde se acendiam e apagavam para se reacenderem outra vez o desejo, a sedução, a raiva, o ódio, a violência, o exigir de um mundo novo, mais justo, um mundo solidário, um mundo Socialista. 
"Kalakuta Republik" é bastante uma dança - que cruza as raízes de uma África negra com bailado moderno europeu - mas , que não recusa a representação, o uso dos gritos selvagens, os voos dos homens em ânsias de libertação. Os corpos simulam comer-se a si próprios e uns aos outros no sacrifício supremo de ultrapassar as barreiras que os tolhem.
Em certo sentido é um panfleto político, que nunca parece sê-lo e que sempre nos surpreende pela resolução dos conflitos representados no palco. Os cenários, minimalistas, sobrepõem a pobreza das cidades africanas actuais aos rastos sangrentos das guerras que têm devastado África faz décadas.
É simples de descrever num texto, exige um exercício de criatividade impossível para mim de concebê-lo e figurá-lo num palco .

Confrontado com "Lulu" que se me oferece dizer ? "Lulu" é uma peça, com um elenco numeroso de actores e actrizes - muito centrado nos corpos desejáveis de duas delas - encenada por Nuno M Cardoso, saído de um "círculo teatral alternativo do Porto", que utiliza uma parafernália de recursos técnicos abundantes: simulação de dois palcos no mesmo palco, miscigenação de canto, dança e declamação, uso variegado de diferentes iluminações.
É igualmente um panfleto político ( no que não vejo mal nenhum, pois, desde Sófocles , Eurípedes, Ésquilo , se o teatro não problematiza a política, fala de quê ?... ). O que eu considero de menos acertado nesta peça, é que é um panfleto político, nunca nos deixa esquecer que o é... e é facilmente previsível. É claro que se sente tratar-se de um grupo profissional de actores e encenador. Uma equipa de amadores, por mais dotados, não levaria a obra a cabo. Porém, aquele "quantum satis" de sal imaginativo - mui provavelmente impossível de definir - não está lá. Admito, com Mário de Carvalho, que "quem disser o contrário é porque tem razão".

E antes que esta reflexão resvale para níveis de amargura e violência desgostantes até de teclar ( já que terei de os expurgar em nova reflexão... ) hoje, fecho por aqui.   


Resultado de imagem para fotos recentes da peça teatral francesa "Apre"Resultado de imagem para fotos recentes da peça "Kalakuta Republik" Resultado de imagem para fotos da peça "Lulu" de Nuno M Cardoso


Saudações fraternas do

Leopardo

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