Reflexões do Leopardo

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quinta-feira, 6 de abril de 2017

Vai de ciganadas !...

Algum diabo me deve ter rogado uma praga que não consigo ir de folga com a consciência tranquila (claro que tenho consciência!, é mesmo a única coisa que me resta, pois o "arame" é todo sugado pelos impostos).
A preparação da invasão da Síria de Assad prossegue pela arreata da Nato/Pentágono/CIA , com o Governo lacaio franciú a pôr-se em bicos de pés, tipo "prima ballerina" de sapatilhas de pontas, e a "parler" que não existem dúvidas que é da responsabilidade do Governo de Assad o uso de munições tóxicas contra a sua própria população e que não descansará enquanto não sentar no banco dos réus dos Tribunais Internacionais a famelga Assad.
Putín, falando pela Federação Russa, alega que uma investigação séria ainda não foi realizada, que pode ter acontecido um paiol de munições explodir pelo rebentamento próximo de uma bomba. Que mantém o seu apoio ao Governo Assad .

Os "mírdia" acordaram hoje a focar a nossa atenção na Comunidade Cigana existente na Europa e no rectângulo luso. Que estão entre nós, faz 500 anos (quando foram corridos dos reinos dominados por Castela ao tempo de Isabel, a Católica). Que existirão uns 40.000 em praias, barrancos e serras portugas. Que apenas 8 ( sic!) frequentam a Universidade. Que o Governo  "in charge" vai conceder bolsas e formação a 40 "mediadores" (de etnia cigana) para facilitar o diálogo com a Comunidade Cigana e tentar diminuir o abandono escolar precoce dos jovens ciganos ( por exemplo, o casamento de muitas jovens ciganas persiste a ser negociado pelas famílias ainda antes da idade púbere ).
Em minha opinião, o Flamenco traduz, não uma paixão da cultura cigana pelas touradas andaluzas, mas o cultivo da memória de uma etnia para sobreviver à miséria, à fome, à morte , ao seu eclipse histórico (ao contrário das Sevilhanas, dança de corte; Goya pintou delicada e exemplarmente as Sevilhanas, pois a simples referência aos guitanos era passível de ser considerada crime). 
Com o andamento que a carruagem tem tido, para o sr. Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo , hoje os guitanos são os europeus pobres do Sul, "dados à vinhaça, ao mulherio e hostis a trabalhar sem pausas"...

Quanto às Óperas "Pagliacci" de Ruggero Leoncavallo e "Der Zwerg" ("O Anão) de Alexander von Zemlinsky ( compositor austríaco, de ascendência judaica, que teve o seu primeiro período de  ascensão com a tomada do poder pelos nazis na Alemanha, e o seu ressuscitar musical após a sua morte em 1942  ) são "drammi per musica" incontornáveis para leitores tão cultos como os meus.
A sua "mise en scène" no Teatro Nacional de São Carlos (ao Chiado) é exemplar na sua concepção, encenação, cenografia, cantoras e cantores, Orquestra, direcção musical, Coro e direcção do Coro, figurinos, jogo de luzes.
De facto, não é simples juntar num mesmo espaço cénico, duas Óperas de um acto, com inspirações quase opostas, uma ligada ao "verismo" (de filiação social, naturalista, com arquétipo em Émile Zola), a de Leoncavallo, a outra ligada ao "ultra-romantismo" (toda voltada para a subjectividade, o interior do "ego", a interdependência emocional em que estamos uns dos outros), a de Zemlinsky (que depois da composição e execução desta obra ficou para sempre ferido de paixão pela soprano Alma, que posteriormente o trocaria por Mahler, soprano que haveria de aderir ao nazismo, achava Zemlinsky grotesco e não quis correr o risco de dar à luz dois/três filhos que não fossem da pura raça ariana, loiros, de olhos azuis).

Posso usar esta Ópera "O Anão" para explicar ao meu Mestre e Amigo Jaime Silva, a razão pela qual um dia lhe disse que não me saberia pintar a mim mesmo a partir do meu interior. Não se tratava de uma "ruse" da minha parte. De facto, imaginamo-nos a nós próprios através dos olhares dos outros.

Devo ainda tecer algumas considerações sobre o grande chefe sioux Touro Sentado ( "Sitting Bull" na terminologia cowboy ). Touro ( Tatanka, na língua nativa ) Sentado , na realidade foi um dos poucos chefes indígenas, que nunca se deixaram iludir nem assinou tratados com os colonizadores brancos (começou a assistir a negociações com eles aos 8 anos de idade e a recusar assinar tratados aos 12 anos !...).
Tudo isto é esmiuçado numa obra monumental, redigida ao longo de décadas, por Dee Brown, um branco amigo de "peles vermelhas" que residiam em "reservas". Logo em sua infância um desses índios das "reservas" (na verdade, campos de concentração inférteis, sem água, sem búfalos, ou desertos inóspitos onde só sobreviviam as serpentes, os lacraus, os insectos, os pequenos roedores) disse-lhe sorrindo que o que se via nos filmes de cowboys era exactamente assim mas ao contrário.  Este irónico comentário impressionou tão profundamente o jovem Dee Brown que dedicou uma vida inteira a documentar-se para escrever (num estilo bastante enfadonho, valha a verdade) o livro "Enterrem meu coração na curva do rio" (ou Bury My Hearth at Wouded knee: An Indian History of the American West").
Apesar do estilo literário bastante enfadonho (valha a verdade...) de narrativa científica (com inúmeras fotos de chefes índios, de tratados assinados, de mapas, de trajes e objectos índios) a obra conheceu um sucesso insuspeitado, sendo traduzida em 19 línguas e vendendo milhões de exemplares. 
O notável canastrão que é Kevin Costner utilizou  muitas informações recolhidas nesta obra para realizar e interpretar o único filme de jeito que lhe reconheço até agora: "Danças com Lobos", que lhe valeu 7 ou 8 Oscares. Embora, tenha distorcido alguns aspectos ( por exemplo, ainda hoje não está esclarecido quem iniciou a prática sistemática dos "escalpes", se os índios, se os colonos).
O aclamado Buffalo Bill nunca passou senão de um aventureiro, traidor dos "peles vermelhas", pisteiro da Cavalaria Yanque,  por vezes portador de tratados astuciosos para dividir as tribos índias e as atrair para situações armadilhadas. O seu carácter aventureiro e simplez de espírito tiveram responsabilidade na maior derrota da Cavalaria Yanque a defrontar as tribos nativas : a batalha de "Little Big Horn".
Buffalo Bill passeou-se depois pelos "States" com um espectáculo circense em que parodiava sem querer "a conquista do velho Oeste". É contudo seguro que Touro Sentado, chefe índio paradigmático e carismático, NUNCA fez  parte dele, como parece que Hélder Costa afirma na sua peça em cartaz. Não é uma nicância inodora, incolor e salubre.



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  Saudações índias do

Leopardo   

  

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