Reflexões do Leopardo

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domingo, 23 de abril de 2017

Migraaaantes

O Teatro Municipal Joaquim Benite - TMJB - em Almada , transantontenmente estreou a peça "Migrantes" (eu prefiro o título do autor romeno Matéi Visniec, que considero mais sugestivo).
Devo declarar "ab initio" que aceitei o convite bastante contrariado, pois as referências ao nome de Visniec vinham acompanhadas de palavras do próprio, nas quais o senhorito esclarece que "em 1987 deixei a Roménia, fugi da ditadura (...) , cheguei a França, descobri ao mesmo tempo o capitalismo e a democracia. Mas hoje creio que que a tendência do primeiro para os excessos ameaça destruir a segunda. É surpreendente descobrir que o capitalismo manteve um lado quase humano...".
Ou seja, Visniec apresenta-se como uma versão romena do BE, que em determinados dias da semana pretende tornar o Capitalismo compatível com a Democracia.

Este peixe podre revisionista anda-nos a ser vendido "en rebaxas" pelo menos desde o lamentavelmente famoso relatório Willy Brandt, relatório que nos assegurava que a Europa que agora assenta praça nos traria uma cornucópia de benesses, onde todos os países teriam direito a votos com o mesmo peso. Poucos anos depois, tornou-se claro que Willy Brandt era um agente duplo ("a double cross agent") ao serviço do Grande Capital e do Estado alemão. As benesses escasseiam e a UE a vários pesos e velocidades é um facto escandaloso.

Mas, as afirmações do escritor Visniec resultam ainda mais contraditórias quando na sua biografia, da responsabilidade do seu "site", nos é afirmado que, na "ditadura comunista de Ceausescu", o escritor Visniec se "alimentava de Kafka, Dostoievski, Camus, Beckett, Ionesco, Lautréamont" (...) dos surrealistas, dos dadaístas, dos contos fantásticos, do teatro do absurdo e do grotesco, da poesia onírica e até do teatro realista anglo-saxão ( ! ) . E antes de 1987, afirma-se na Roménia com a sua poesia depurada, lúcida, ácida (...) e com peças de teatro que circulam amplamente no meio literário". 
Isto é, o universo "totalitário" de Ceausescu estava prenhe de janelas capitalistas de promessas e, uma vez na almejada França, começam a tombar no lombo do escritor Visniec catadupas de prémios: 2008, prémio da Imprensa em Avignon; em 2009, prémio da Imprensa em Avignon; em 2009, prémio europeu da Sociedade de Autores e Compositores Dramáticos de França; em 2016, prémio da literatura europeia Jean Monnet. 

Alguns dos meus leitores estarão a associar Visniec a Zita Seabra, cuja qual, malas aviadas do PCP, onde defendera com brilho a IVG e onde fora execrada por todas as forças obscurantistas nacionais, passou a defender exactamente o oposto e a receber prémios pelo limpidez literária e a justeza das ideias da parte das forças que um ano antes a vituperavam. A embriaguez do efémero triunfo levou-a a carregar no acelerador e a deixar saber que pertencia a um Grande Oriente Maçónico qualquer, amigoche do Grande Capital. Enfim, perfeito só Zeus porque habita no Olimpo, montanha mais alta que a Serra da Estrela e com o cume sempre gelado...

Após esta caterva de maledicências despejadas sobre Visniec, devo acrescentar que o encenador Rodrigo Francisco realizou um trabalho notável sobre a peça do romeno, depurando-a, reduzindo-a ao essencial, pondo à luz a sua crítica ao cinismo do "politicamente correcto", desfibrando a linguagem "merdiática" que tudo escamoteia ao entretecer o discurso político, social, ideológico de lantejoulas circences. Uma direcção de actores onde nada é deixado ao acaso, actores nos quais seria injusto destacar este ou aquela, sombreando inevitavelmente um conjunto que vale exactamente pela sua homogeneidade exemplar.

Nos actores, apenas deve ser apontada a projecção de voz, pois eu, que estava na segunda fila, ao centro, não consegui entender todas as "batute" de actores com uma voz tão boa como, por exemplo, Maria Frade. Mas, tal poderá ter-se devido ao nervosismo natural de uma "première".

É verdade que o final da peça mantém uma atmosfera niilista característica do romeno Visniec, todavia uma obra de teatro não é necessariamente um panfleto político de leitura unívoca.

O que critico ao encenador Rodrigo Francisco é a sua persistente opção por peças que sublinham os possíveis erros, desvios, malversões de sociedades que pretenderam instituir o socialismo rumo ao comunismo e que não lhe venha à ideia encenar obras que critiquem a cavalgada actual do Capitalismo direita a uma terceira guerra mundial nuclear ou que narrem os esforços e lutas que muitos Povos e Nações travam para resistir e derrotar as investidas da Besta Nazi, liderada pela Administração Donald Trump. Recordo a Rodrigo Francisco que a instalação das sociedades burguesas - um progresso em relação às brutais sociedades feudais - precisou de uma afinação de 5 séculos desde a sua eclosão na Sereníssima República dos Doges, em Veneza.

E, já agora, para purgar alguns dos furúnculos morais que me vão explodindo na epiderme da alma, quero mais uma volta explicitar que Io Appolloni se tem andado a queixar que saiu do PCP por falta de acompanhamento e diálogo democrático da parte do Partido em causa ( Appolloni publicou um livro, escrito por outrem mas com notas da sua autoria, que afirma essencial para as memórias do teatro português ). Quero aqui afirmar (dado que era eu, nessa altura, o responsável por acompanhar a suposta militância de Appolloni no Partido) que os lamentos de Appolloni são uma completa inversão dos factos, são uma rematada aldrabice.

Muitos saberão (mas nem todos) que para ser militante do PCP é necessário estar de acordo com as ideias gerais do marxismo-leninismo - expressas, por exemplo, no "Manifesto do Partido Comunista", obra para 90 e tal páginas - , com o "centralismo democrático" ( nas votações prevalece a vontade da maioria ) , com os Estatutos do Partido e pagar uma quotização mensal ( que é estabelecida pelo próprio militante e que não fixa fasquias mínimas nem máximas ).

Ora, durante o suposto tempo de militância de Appolloni no Partido, a actriz raramente compareceu às reuniões para que era convocada - excepto, quando elas poderiam servir para a sua promoção pessoal - ; ainda mais raramente abria a boca nessas reuniões; nunca entregou 10 cêntimos de qualquer quotização.

Também para os que o não sabem, o PCP não é "uma máquina" de formatar opiniões, todos os militantes possuem liberdade de exprimir os seus pontos de vista pessoais. A imagem que representa o PCP como "uma máquina" foi uma invenção conseguida pelas Forças Reaccionárias para roubarem ao PCP o seu rosto humano, de Partido constituído por seres humanos com problemas, dúvidas, afectos, opiniões pessoais e diversas sobre uma gama muito vasta de assuntos.

O que teclei sobre Io Appolloni, nada tem a ver com as suas qualidades como actriz, sobre as quais me abstenho de pronunciar. O que teclei sobre Appollni refere-se tão somente ao seu carácter moral que descreverei como o de uma "oportunista", sem honra ética.
E não me interessa ler o livro que editou justamente por esta falta de honra ética. A maioria dos Portugueses e a memória do Teatro Português guardarão de
Appolloni a memória equívoca de uma mulher a representar um nu feminino de costas... 




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Saudações confiantes do

Leopardo          

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