Reflexões do Leopardo

Reflexões do Leopardo
Reflexões do Leopardo

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016









     

Hoje, vou então tentar fazer uma síntese das declarações dos 10 Candidatos à Presidência da República Portuguesa no debate em directo havido ontem na RTP 1 a partir das 21 horas. Os pivôt's que lideraram o debate foram Carvalho dos Santos e Daniel qualquer coisa (os meus leitores que me desculpem, mas não consegui fixar o apelido), dois pivôt's conotados com a Direita, porém contidos nas questões ácidas.

Tratarei as intervenções dos candidatos não na ordem sequencial do tempo, mas como se cada uma delas fosse ininterrupta e, como habitualmente, fá-las-ei acompanhar das minhas reflexões críticas pessoais.

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                                                                                                                                                                   Henrique Neto afirmou que os partidos políticos são disfuncionais e que criaram promiscuidade entre política e negócios. (Sabemos que ele próprio foi um dos fundadores do PS com Mário Soares, é uma das referências históricas do PS, ao qual continua a pertencer, sendo simultaneamente empresário privado).

Neto asseverou também que deve existir mais do que uma estratégia para sair da crise portuguesa. Em sua opinião, EDGAR SILVA foi claro quanto a isso, porém Nóvoa e Marcelo "enrolaram", ou seja, "a mentira faz-se por acção, mas igualmente por omissão". "Nóvoa e Marcelo são os candidatos do "sistema"".

Diz-se de acordo com a reposição dos direitos dos trabalhadores, todavia em relação às 35 horas semanais de trabalho "está de acordo, mas...".
A respeito do rendimento mínimo dos trabalhadores até considera pouco a exigência da CGTP/IN, pois os trabalhadores devem estar motivados, portanto, bem pagos.

Neto criticou com dureza que as contas da Presidência da República até hoje tenham sempre ultrapassado o previsto e que não sejam retiradas consequências nem julgados os responsáveis: "É uma vergonha!" Teve a oportunidade de constatar a pobreza de muitas famílias, falou com elas, e até agora todos os PR's assobiaram para o lado, todos permitiram parcerias público-privadas.

Em síntese, Neto "arredondou" o discurso nas várias estratégias simultâneas para sair da crise, nas horas semanais de trabalho, na sua própria promiscuidade empresarial-partidária, mas deixou uma imagem televisiva forte.


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Marisa Matias pronunciou-se a favor dos litígios deverem tentar ser resolvidos pacifica, negocial, politicamente, em qualquer situação, e não através da força armada.

No entender dela, "estamos a viver um momento de estabilidade". Não lhe passa pela cabeça que os Orçamentos de Estado previstos para 2016 e 2017 não sejam aprovados na AR. Porém, o mesmo não se aplica ao OE de 2015, que deve ser devolvido à AR, pois as perdas dos bancos não devem ser pagas pelos contribuintes.

Em sua opinião, é preciso ser claro - como o foi EDGAR SILVA - em relação aos apoios partidários : todos os candidatos têm apoios partidários (excepto Jorge Sequeira)! Um PR deve mostrar a cara aos cidadãos! Não se pode simplesmente dizer, como Paulo de Morais, que o mal é a Corrupção Generalizada, é preciso apontar onde está. (Afirmação difícil de sintonizar com a  afirmação da candidata de que vivemos num período de "estabilidade". Na verdade, uma "estabilidade" que muitíssimo se assemelha a uma acesa luta de classes entre os que exploram e os que são explorados).  

Quanto à questão das "reformas vitalícias", rejeita-as e considera-as uma vergonha! (Afirmações difíceis de compatibilizar com as da líder do BE, Catarina Martins, que num comício, à tarde, asseverou que só os militantes do BE as tinham rejeitado. E são difíceis de compatibilizar por duas ordens de razões: primeiro, é uma política antiga do PCP repudiar estas "reformas vitalícias" e mais do que um dos seus representantes já apresentou propostas, em autarquias e na AR, para as "reformas vitalícias" serem eliminadas e as propostas do PCP foram chumbadas; em segundo lugar, porque estas "reformas vitalícias", uma vez atribuídas, não podem ser rejeitadas, pois são depositadas na conta à ordem da pessoa a quem foram atribuídas ).

Afirmou Marisa, como exemplo da sua resiliência, que o facto de enfrentar os poderosos complexos farmacêuticos (é verdade que estes complexos se inserem entre os 5 mais rentáveis a nível mundial, juntamente com os negócio da guerra e dos armamentos, da droga, do petróleo, do tráfico de "carne branca") até já lhe valeram ameaças de morte... pelo telefone! (A experiência tem mostrado que estes terríficos complexos, que se interligam, quando se sentem realmente atingidos não se ficam por ameaças telefónicas). 

Interrogada sobre o caso do Governo Grego e da deriva para a direita do Syrize , peça central desse governo, Marisa embaraçou-se, atabalhoou, escondeu-se atrás de generalidades vagas: "Que é preciso defender a Constituição, não só a capa, mas o que está dentro da Constituição; que é preciso combater a precariedade no trabalho".
Entende-se o embaraço de Marisa. O BE no seu todo e em cada um dos seus pólos de poder engrinaldou em arco com as vitórias do Syrise, com as suas farroncas, com as suas promessa sem consistência - chegaram mesmo a dizer que o que era preciso "era tê-los no sítio" "e avançar em frente" -, quando se tornava cada vez mais evidente que o Syrize não tinha realizado o trabalho prévio, preparatório, a nível de apoios e alianças internas e internacionais, que permitisse sustentar as promessas feitas.

Apesar das inverdades, das meias-verdades, das omissões, dos atabalhoamentos, Marisa marcou uma presença televisiva pela veemência com que defendeu as suas ideias.



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A primeira pergunta que os pivôt's dispararam sobre EDGAR SILVA foi : "Acha que um homem pode perder a Fé?  A ardilosa falsa questão portava no bojo o claro intuito de fazer resvalar a desconversa para os escorregadios terrenos da religião e de baralhar as águas entre a racionalidade da política e o irracional e subjectivo da religião.

EDGAR deu-lhes a brilhante e já clássica resposta de que a Presidência da República é um cargo laico e de que seria ofensivo, mesmo obsceno, usar o prestígio de qualquer uma das religiões para o fazer reverter em favor da sua candidatura. Mas que não renegava o seu passado de sacerdote nem a sua licenciatura e mestrado em teologia e teologia sistémica, dos quais guardava sobretudo uma aguda atenção aos trabalhadores, aos explorados, aos marginalizados da vida, aos pobres.

E entrando propriamente no tema proposto, EDGAR SILVA afirmou que lutará dentro das suas competências, atribuídas na Constituição da República Portuguesa, por uma Sociedade de Esperança, onde cada homem e cada mulher possam realizar-se. Esta dimensão de esperança é diariamente diminuída pela pobreza, pela miséria.

Interrogado sobre que atitude tomará caso o PCP não viabilize o Orçamento de Estado (OE), EDGAR SILVA asseverou que a solução deve ser assumida na AR, dado que existem lá outros partidos. Porém, deve recordar a todos que esta solução tem que ser compatibilizada com a "Dívida Social", dívida brutal que atinge, nomeadamente a Educação, o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Em qualquer caso, o Povo Português poderá estar seguro que, se for eleito, será sempre um Presidente de todos os portugueses e será em função disso e dos interesses que julgar maior de todos os portugueses que decidirá, mesmo que o Comité Central do PCP tenha outra posição. É apoiado pelo PCP e pela CDU, não é comandado por nenhuma das organizações políticas. PR, PCP, CDU conservam cada uma das instâncias a sua independência própria.
O PCP representa um "certificado de garantia" para a sua Presidência, dado o seu passado histórico de luta e a coerência das suas posturas e actuações, mas a Presidência da República não tem que estar confinada a um quadro partidário. Aliás, a base de apoio à sua candidatura tem vindo a crescer.

Questionado sobre qual é o seu objectivo ou objectivos, Edgar esclarece que um dos seus objectivos é informar os cidadãos/ãs dos seus direitos e deveres, mas, sobretudo, informar os trabalhadores do seu direito à Saúde, à Educação, à Cultura, ao Ambiente.

Em relação à Corrupção é muito importante apontá-la, mas ainda mais sugerir e buscar os meios para a combater - combater o branqueamento de capitais, combater a fuga fiscal.
É absolutamente contra o regime das "subvenções vitalícias" e sobre a reivindicação das 35 horas de trabalho semanal julga justíssima não só para os funcionário públicos como para os trabalhadores das empresas privadas.

Só não concluirei que as intervenções de EDGAR SILVA foram brilhantes porque o candidato já nos habituou de tal forma a elas que só nos espantaria se fugissem a esse carácter exemplar.

Aliás, o temor que a sua convivialidade e poder de convicção infundem na Direita é tal que, esta manhã, na Rádio pública, canal 1, os comentadeiros encomendados não se referiram sequer a EDGAR SILVA como se o candidato não tivesse estado presente no debate sob batuta !...

E como a missa já vai longa, embora não fosse essa a minha intenção, findo por aqui.             Orate frates !      


    

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Pinceladas impressionistas nas candidaturas presidenciais e na política internacional



Uma boa parte das candidaturas presidenciais começaram a Resultado de imagem para foto de maria de belém"arredondar", ou seja, 


estão a ficar tão parecidas umas com as outras que é difícil perceber em que é que se distinguem.
                                                                                    Nomeadamente as candidaturas de Henrique Neto, de Maria de Belém, de Paulo de Morais e do inenarrável, do incalável, do inimaginável Marcelo Rebelo de Sousa.                                      São todos "independentes", todos a favor dos trabalhadores (nos quais incluem o grande patronato), todos contra o "sistema" (o que quer que isso signifique), todos a favor do pagamento da dívida externa (depois de reequilibrada, o que quer que isso seja), todos de acordo que os compromissos militares são para cumprir - isto é, ao lado da NATO/EUA/Pentágono/CIA - , todos em uníssono a favor da Paz no planeta (o que é impossível de conciliar com a orientação anterior dado que a NATO está em guerra em todos os quadrantes da Terra - na Ucrânia, num cordão de bases em torno da Rússia, no Próximo, Médio e Extremo Oriente, na América Latina logo a iniciar no México, nas fronteiras da China, sem perder de vista o Japão, a Índia e veleidades europeias).
No que respeita a independência é pública a "independência" de Henrique Neto, histórico fundador do PS e empresário privado; a "independência" de Maria de Belém com décadas de militância no PS, onde já foi Presidente do partido e pelo qual já foi Ministra da Saúde e deputada na AR.
A"independência" de Marcelo Rebelo de Sousa e de Paulo de Morais são igualmente públicas: do primeiro, o papel de comentador, em todos os meios "mirdiáticos", há décadas ao serviço do PSD; do segundo, filhote ideológico de Rui Rio, vice-autarca do Rio no Porto, deputado pelo PSD na AR, com vários e importantes cargos na Assembleia, sempre indicado pelo PSD.







Mesmo António Sampaio da Nóvoa e Marisa Matias não escapam ao "arredondamento" ou rotundidade. Nóvoa insistindo numa "independência" pouco credível, visto que alcançou a Direcção da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Lisboa com o apoio fulcral do PS e que foi com o mesmo apoio fulcral que se guindou a Reitor da Universidade Clássica de Lisboa. A rotundidade de Nóvoa tem-se acentuado com o decorrer da campanha aparecendo progressivamente mais encostado às sensibilidades centristas e direitistas do PS.






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Marisa Matias, com o BE a integrar o Governo, com o BE a claudicar em compromissos centrais da sua campanha, como o salário mínimo, a reestruturação da dívida externa, o crescimento da economia, e Marisa a enovelar-se em trapalhices sobre as suas votações no Parlamento Europeu, "arredonda", semelhando ser mais matias que mariza.
Com Nóvoa e Marisa temos mais névoas que novas.

A estas rotundidades escapam EDGAR SILVA e o Tino das Rãs.

EDGAR SILVA escapa, claro está, pela positiva. Os compromissos que assumiu na sua candidatura colam com a actividade política praticada na Madeira ao lado e a favor dos/das jovens alienados pela pobreza, pela droga, pela prostituição, colam com a actividade política a favor dos espoliados da sociedade. O ex-ditador da Madeira, Alberto João Jardim, ao processá-lo por "subversão social", prestou-lhe involuntariamente um elogio.

EDGAR SILVA é inegavelmente o candidato transparente comprometido com a Paz - a favor da dissolução dos blocos militares, nomeadamente a planetária NATO -, com a Constituição da República Portuguesa - que prevalece sobre a Europeia -, dos oprimidos, dos explorados, dos pobres.
    
Os mais de 6.000 apoiantes, amigos, militantes, camaradas que encheram o antigo pavilhão da FIL em Lisboa, no domingo passado - depois de outro enorme no Porto -, e as dezenas de encontros entusiasticamente participados, de lés a lés no País, são testemunho do sucesso da sua campanha.   
       
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Tino das Rãs - ou Tininho das Arrãs como ele próprio preferiu na candidatura anterior - pela negativa, abaixo da linha de água da decência. É o populismo rasteiro, vácuo de qualquer substância. É a palhaçada arvorada com matreirice saloia (a região e os saloios que me desculpem !). 
Na sua região em sentido lato, conseguiu decerto as 7 mil e quinhentas assinaturas de apoio à sua candidatura à porta das igrejas, das feiras, dos mercados, de porta em porta. E agora desloca-se mesmo a Bruxelas (com dinheiros do Estado, tá belo de ver!) , pois "tão portugueses são os que estão cá dentro como os que estão lá fora". Ainda o vamos televisionar em New Jersey, Macau, Paris, Goa. 
Em termos de desvorgonha é do melhor que se fabrica em qualquer parte ! "Um must da Cartier ... 

Após teclar sobre o Tininho das Arrãs só me ocorre garatujar sobre Barac Obama, apesar da enorme desproporção dos personagens e da sua influência nos destinos imediatos do planeta. Porém, apesar da ciclópica desproporção dos personagens, a estatura moral das criaturas anda ela por ela. É nula !

Obama que dá a face à política "cowboy" do terrorismo de Estado norte-americano, que coloca todo o planeta à beira da terceira guerra mundial - nuclear como é evidente -, que encabeça a política de rapina das riquezas estratégicas do globo, que lidera a exploração de 98% da população mundial, há 3 ou 4 dias que irrompe nos "mírdia"como campeão do "mundo livre". Que ameaça a Coreia do Norte por pretender possuir a bomba de hidrogénio como se só os States" tivessem o direito de possuí-la e usá-la. É preciso topete ! É preciso desfaçatez ! Topete e desfaçatez que só medram no vácuo ético. Onde muitos vêem no presidente norte-americano pela primeira vez um negro (com o pitoresco de ter um cãozinho português...), eu vejo um presidente multimilionário representante dos interesses multimilionários do Grande Capital internacional. 

Isto num momento da situação internacional, onde a arrogância das forças de extrema-direita e abertamente nazis arrostam as luzes da ribalta e sobem ao palco em França, nos EUA, na Alemanha, na Turquia, na Arábia Saudita, em Israel, na Eslováquia, etc, etc.

De facto, é preferível ficarmo-nos pelo Tininho das Arrãs. As consequências são infinitesimamente menores...    





 

sábado, 16 de janeiro de 2016

Cata-Ventos e Amores Transversais

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Repentemente os "mírdia" começaram a regurgitar declarações de amor de alguns candidatos a PR.

A Rosinha de Belém pipilou que "anda há 40 anos a transbordar de afectos" (iniciou, portanto, a vida afectiva aos 26 (sic!)).
Fico a repensar o que teria acontecido ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) se não fosse esta "afectividade" toda, pois a "tia"já foi Sra.Ministra da dita Saúde e alguma coisa ainda resta, muito combalida, da Saúde Pública. É preciso mais que uma Rosinha, mesmo de Belém, para asfixiar o SNS.

A Marisa Matias, há 3 dias atrás, em Coimbra (região das suas nascenças) soluçou que recebeu "a maior prova de Amor do seu parceiro do BE João Semedo que, engripado e rouco, extraiu-se da cama, guindou-se à sua campanha na cidade do Penedo da Saudade, para lhe dar um beijinho. Este evento altissimamente "mirdiático",  somado à presença dos progenitores na campanha da filhota, acabou de liquefazer em eflúvios amorosos o já tremebundo coração da candidata. 
Em minha acidulada opinião, a candidata tem mais de "matias" que de "mariza".

Por último ( "the last but not the least" neste concurso de "jokes") o inenarrável, o inapagável, o incalável cata-vento nacional que dá pelo epíteto de profe Martelo tem vindo a explodir num foguetório " de que é a Esquerda da Direita, o Alto do Baixo e o Baixo do Alto, o Centro e Epicentro do Terramoto Afectivo que varre todo o País, de Vila Real de Santo António a Chaves, passando pelo cabo Carvoeiro, São Gregório, até à ilha do Pico" que, na verdade (dele e dos recém divorciados PÁF) "é transversal aos Partidos, grupos, grupelhos, Igrejas, maçonarias e clubes desportivos de todos os tamanhos, feitios e génios".
Portantos, com o profe Martelo deitado, (unicamente posição em que pode jazer "atravessado") em cima do País, que mais podemos fazer Nós, os Patuleias, por nós próprios? Enterrar o profe Martelo, evidentemente ! Enterrá-lo tão fundo que nem olores da sua pestilência possam escapar-se da cova!

Como nota de humor final, os "mírdia" comunicaram-nos oficialmente que "as sondagens" ao andamento das campanhas à Presidência iam agora começar. O que quer significar que a dezena (pelo menos) de sondagens já realizadas (incluindo as da afamadíssima Universidade Católica) o não foram, o não foram à séria (sempre o afirmámos) e que daqui p'ra diantemente é que o vão passar a ser. Comunicados oficiais estes que ficam enquinados do veneno que as sondagens idas projectam sobre as actuais em curso.
And that's all folkes ! 
       

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Lixos e Amores Impossíveis pendentes

O realizador com Victória Guerra e José Mata
"Amor Impossível"

Esta minha reflexão destina-se a aclarar aspectos que o não foram suficientemente.

Nunca cheguei a dizer o nome do último filme de António-Pedro Vasconcelos: "Amor Impossível". E, de facto, a estória real na qual se inspira era um amor impossível, porque não se tratava de amor, mas de uma obsessão violenta que termina com o assassínio da jovem mulher e a prisão do matador obsecado.                                                                                   Porém, o filme, não obstante as óptimas interpretações, é também um amor impossível, dada a carga de referências e citações intelectualóides e os rodriguinhos de que está atuchado. Que a Paz estenda o seu manto sobre todos os amores impossíveis...

No que respeita à prosa a que dei o título de "Os meus lixos" constatei por comentários que ela não era suficientemente explícita. Disse eu que os sonhos engendrados a partir do real, em certas condições, poderão por sua vez modificar o real. O que quero significar é que se os sonhos reflectirem com exactidão, na sua essência, a realidade, poderão posteriormente modificá-la se incorporarem dela o que representa um avanço para os seres humanos e a desembaraçarem do que entrava o seu progresso.

Ainda quanto ao personagem dessa estória, o vendedor ambulante fugidio, que vive confortavelmente numa penumbra, num lusco-fusco de vida e afectidade, o que pretendo é metaforizar nele uma espécie de seres humanos ( que, creio, não muito frequentes) que não pedem mais à vida que sobreviver tanto do ponto de vista material como emocional. Julgo invulgar, que qualquer ser humano não pretenda ser, nem que seja por momentos, para um círculo familiar ou um grupo de amigos restricto, um foco de atenções que dá e recebe prazer.

Este ser humano que não aspira a mais que sobreviver, que julgo invulgar, tem o meu respeito, contudo penso que a sociedade actual lhe sonega justamente a capacidade de sonhar ser mais.                                                                                                                                                                      E, dado que temos andado a falar em eleições, onde votará um homem/mulher assim? Provavelmente em candidato nenhum, ou então talvez num qualquer para onde tiverem corrido as nuvens desse dia. Talvez exactamente para um dos quais ele não é um ser humano, mas apenas um voto.          


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Os meus lixos

 Os meus lixos               Tudo o que eu disser de seguida sobre o ser humano que tentarei reflectir na sua essência profunda será sempre de mais e de menos (tal como o belíssimo desenho que pedi emprestado para o figurar).
De mais, porque irei lançar uma luz excessiva sobre um ser que vive e quer viver na penumbra, no contra-luz de um ocaso de inverno triste. De menos, porque qualquer ser - até as imponderáveis aranhas ou líquenes a desenvolver-se a metros e metros de profundidade do solo - têm a necessidade vital de um fiapo de luz para subsistir.

Perguntam-me se ele existe? Claro que existe. Pois se sonhei com ele! Como é sabido, os sonhos constroem-se a partir do real, e o real, mais lentamente, em certas condições que integram e ampliam o real, também a partir dos sonhos.

Mas podem encontrá-lo em muitas esquinas de Lisboa, esquinas de qualquer cidade ou vila portuguesa, num canto de feira. É relativamente fácil de reconhecê-lo: transmite o ar de quem acaba de poisar ou se prepara para partir com a sua traquitana. É, possui uma traquitana tão simplex quanto ele próprio e, por ser simplex, difícil de descrever. Uma coisa a modos semelhante a dois armários baixinhos com rodas, atrelados entre si, de uma cor cinza azulada a diluir-se na atmosfera ambiente.
Este nosso ser humano é um verdadeiro campeão da arte camaleónica do disfarce. Onde aparece, desaparece. 
E a traquitana? Um verdadeira caixa de Pândora! De gavetas espalmadas, que se abrem e fecham num ápice, espreitam óculos escuros de marca, telemóveis hi-tec, ipad's, ipod's, ai-sepodes, lenços de seda, écharpes, turbantes.

Ainda não me tinha acabado de perguntar como esta caverna de AliBáBá podia albergar esta miríade de maravalhas tão arrumadinhas como lenços de papel numa embalagem de plástico, quando me cintilou na íris um artefacto dos meus encantos. Não era um, eram vários, deitadinhos lado a lado, a luzir dourado e aço. Navalhas !
Pedi-lhe que reabrisse a gaveta dos meus encantamentos. Retorquiu-me naquela sua voz fugitiva, de surdina: "São os meus lixos. Também os prefiro". E, velozmente, exibiu-as a cintilar em luares de prata.
O escrivinhador que estas doudices tecla nunca usou Navalhas senão para cortar papel, abrir livros ou envelopes, mas se um dia houver de assaltar o palácio de inverno da Reacção portuguesa, será de navalha entalada nos dentes ! Porquê de navalha? Talvez pelo som magrebino do aço, talvez por ser a espada curta dos expoliados.
E a estória praticoconcretamente finda aqui, pois quando deveríamos iniciar os prolegómenos às negociações subsequentes, brotou do solo um fiscal, o meu evasivo vendedor evaporou-se e eu respondi ingénuo às mansas mansas falas do fiscal que nem tinha percebido bem quem o homem era, pois me parecera um tanto mais para lá do que para cá. E a coisa fechou-se sob o fungar suspeitoso do fiscal e o meu fungar acatarroado.
Lá dizia o Profeta que a Verdade tem mais faces que os olhos poliédricos de uma mosca.    

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

A lojeca dos gajos e o centésimo Aviso à Navegação

Resultado de imagem para imagens de pequenas lojasCaros Amigos não tencionava tornar a escrever sobre a "lojeca dos tipos", tinha repensado o assunto e dizia de mim para mim, "talvez não sejam maus rapazes, apenas um pouco esgrouviados, porém hoje quem não é um pouco esgrouviado a começar por mim próprio?..." Eis senão quando atentei mais particularmente e reparei que tinha passado de "amigo" a "cliente". Ah não, isto não, sou "cliente" eu que ando para aqui a teclar um blog sobretudo a pedido das criaturas da lojeca? Então vão ficar com uma ideia de até onde pode ir a fúria de um touro enraivecido !...

Para já, para já, levam com o cartaz de "Lojeca dos Gajos"que é o que lhes serve como uma luva.
Depois, depois, para os definir basta descrever mais por miúdo um dos seus clientes costumeiros (pelo à vontade exibido). Lembram-se de eu ter falado de um mastronço, de sexo indeterminado, cabelos compridos, aos caracóis, de umas cores suspeitas entre o louro e alaranjado? Um que tinha o rosto visível cravejado de pregos, botões, anilhas?... Esse mesmo!
Faltou-me, porém esquissar o mais óbvio (frequentemente o óbvio é o mais difícil de apanhar !). E o mais óbvio era que a criatura, nos poucos centímetros de pele à mostra, estava pintado em cores variegadas. Ou seja, a criatura era um imenso "graffitti" em movimento!... Não existe prédio nem muro em Lisboa que o vença.

Ora, uma pequena loja apertada não oferece espaço suficientemente "ancho" para duas enormidades assim: um graffitti em movimento e um ser que em determinados momentos é um foguetão da NASA disparado para a estratosfera marciana (ainda por cima só para saber se lá existe água... interessante era saber se lá existe vinho). 

E lá me ia esquecendo do centésimo aviso à navegação (recomecei a numeração porque lhes perdi a conta). Olhem que o filme do António-Pedro Vasconcelos, sim esse que foi galardoado nas estranjas com um prémio subido, é uma maçadoria pretenciosa, atuchada de intelectualices e rodriguinhos, a que não escapa sequer "o inspirar-se em episódios reais" e uma maçadoria interminável. Se lhe retirassem uma hora de projecção ninguém se queixaria tanto (talvez por isso, no dia em que fui visioná-lo, estávamos 2 pessoas na sala: eu e a minha mulher).

E devo dizer, em abono da minha verdade, que o resultado não é culpa dos actores que representam todos muitíssimo bem, incluindo o próprio Vasconcelos na tirada que interpreta. Não, em minha subjectivíssima opinião, a culpa é do Vasconcelos realizador e autor do guião que o fez resvalar para... aquilo.