Reflexões do Leopardo

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Reflexões do Leopardo

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Quando eu morrer quero ir de burro !...

Os meus Amigos interpelaram-me com uma certa aspereza: "Sobre quem é que eu ia blogar depois de ter abordado uma gigante da estatura da Cesária Évora ?...".
É claro que é um argumento absolutamente irrelevante após eu ter teclado opiniões sobre gigantes de estatura equivalente das áreas da Ópera, da Música "Clássica" e do Jazz, do Teatro, da Literatura, das Artes Plásticas e da Arquitectura.

Porém, depois de ter abordado um manancial de emoção contida, vertida gota-a-gota, como "a diva dos pés descalços, a rainha da morna" , impunha-se-me reflectir ponderamente sobre quem escreveria a seguir.
E deu-me na veneta optar por Mário de Sá-Carneiro ( não, não me refiro a esse político menor, fundador do projecto reaccionário AD , cuja única postura digna de algum mérito - para um católico, apostólico, romano - foi ter-se divorciado da legítima e ter-se amancebado com Snu Abecassis - outra católica - facto que todos os anos é ressuscitado à conta de uma avioneta vítima de um atentado terrorista, facto que se irá perpetuar pelos mistérios não-resolvidos da vida política tuga )  , poeta e ficcionista do "Orpheu" , companheiro do Fernando Pessoa, ao qual decerto invejava a genialidade e os heterónimos.
Devo expressar à puridade que eu Leopardo Ibérico de antanho tinha e tenho uma inclinação de sempre pelo Mário de Sá-Carneiro - filho de famílias abastadas, homossexual, narciso, que se suicidou em Paris - único poeta do qual eu conheço uma quadra de cor, sem necessidade de recorrer a uma Wikipédia:

"Eu não sou eu
nem sou o outro,
sou qualquer coisa de intermédio
pilar da ponte do tédio que vai de mim para o outro."

Considero que é um texto de uma beleza e concisão artesanal notável e uma confissão de experiência de vida que nos atinge como um murro no estômago. Só está ao nível dos Enormes !

Contudo, escolhi da esplêndida obra de Sá-Carneiro um outro poema que acho o traduz melhor a Ele e a mim :

"Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas !

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andalusa ...
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro !..."

Este poema foi escrito em Paris , em 1916, em plena 1ª guerra mundial, pouco antes do poeta se suicidar... 

Os meus Amigos também me atezanam porque eu nunca escrevo direito o nome desse idiota nacional reconhecido por "Emplastro". Denomino-o sempre por "paspalho" ou "espantalho" ou outra coisa qualquer. Ora, a criatura já faz parte do anedotário patriomonial - ainda vai acabar encaixotado na Torre do Tombo - logo, ganhou direito ao seu cognome de puerilidade.

A um nível vários patamares acima, situa-se a minha Amiga Teresa Porto, viúva do ilustre  e falecido crítico teatral Carlos Porto, a qual Teresa Porto igualmente pode ser denominada de Maria Teresa de Albuquerque, visto que é descendente de Afonso de Albuquerque, o "Terrível", conquistador e vice-rei das Índias, o qual ainda hoje é estudado em West Point . Ela própria me mostrou a sua árvore genealógica, imensa, de descendente do "Terrível" ...    

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E hoje nesta esquina me quedo,
um tanto emparvecido com a genialidade de Outros, 
todavia, mais amanhãs que cantam nos aguardam,

Saudações fraternas do
Leopardo  

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