Reflexões do Leopardo

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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

A Morte saiu à rua ...

Esta edição do blogue é desencadeada pela notícia da morte de DARIO  FO. O grande escritor de peças satíricas, mordazes, autor de ensaios sobre o teatro e a cultura, encenador, cenógrafo, actor, na tradição da Commedia dell'Arte, que se auto-defenia como um "giullare" da actualidade, ou seja, na esteira dos "giullari", artistas medievais, providos de uma carrossa-palco, que faziam de tudo nas feiras populares, ou bobos da corte que entretinham a realeza, acrescentava a esta militância de refundação teatral, uma militância política cáustica para o Capitalismo, favorável a uma sociedade nova, uma sociedade dos que realmente produzem a riqueza material e espiritual.
Em minha opinião, muito mais que o autor que, em 1997, foi distinguido com o Prémio Nobel da Literatura, DARIO FO é património da Humanidade e continuará vivo nos nossos corações.

Nasceu a 24 de Março de 1926, no pequeno município de Sangiano, província de Varese. Estudou pintura e arquitectura, mas foi na Arte Cénica que se notabilizou, repensando a função do Teatro e da  Cultura, acrescentando, nomeadamente, o papel do Público na obra teatral ( eu mesmo tentei usar, decerto desastradamente, algumas das medidas que propunha para estimular a participação da assistênmcia ) , ou preferindo não usar máscaras no rosto por considerar que os actores ficam prisioneiros das máscaras, sentindo-se nus sem elas. Escreveu mais de 100 peças , além de vários obras de ensaio, ilustrando algumas das suas peças e livros com desenhos seus - por exemplo, o último, "Darwin, ma siamo scimie da parte di padre o di madre ?" ( Darwin, mas somos macacos pelo lado do pai ou da mãe ?" )
Em 1969, lançou a peça o "Mistero Buffo", onde aborda passagens bíblicas no estilo dos trovadores medievais, obra que lhe trouxe uma notoriedade imediata.

Na sua actividade obviamente política representou um marco - nos Anos de Chumbo, 1970 a 1980 - a sua criação do "Soccorso Rosso Militante" ( "Socorro Vermelho Militante" ) que proporcionava assistência legal aos militantes de esquerda presos.
Em 1990, estreou "Il papa e la strega" ( "O papa e a bruxa" ) que apresentava um pontífice autor de uma encíclica inverosímel onde defendia a descriminilazação do uso da droga, o controlo da natalidade, o retorno da Igreja à pobreza.
Durante a governação de Silvio Berlusconi ( também denominado de Bunga-Bunga, devido às orgias que organizava nas suas mansões e piscinas privadas ) em espectáculos e monólogos, ridicularizou-o sarcasticamente.

DARIO FO foi encenado em Portugal, tanto quanto me lembro, por Joaquim Benite, pela Comuna  e por outros dos quais não tenho memória exacta ( talvez a Cornucópia, o TEC  e teatros do Norte)

Nos anos 90, tive o previlégio de assistir ao vivo a uma das suas representações a céu aberto, - na realidade um monólogo de uma hora e meia, em que era apenas assistido por duas lindas jovens que lhe iam fornecendo garrafas de água - numa belíssima "piazza", no centro de Florença, na qual foi aplaudido por uns milhares de pessoas, entre as quais os moradores dos edíficios, alguns centenários, cor-de-rosa, que formam a "piazza" e envolviam o palco. Depois do quarto de hora das palmas finais, saí dali em transe, estarrecido. No palco, FO, apesar de exausto, parecia possuir fôlego ainda para outro tanto...

DARIO FO foi acompanhado pela mulher, a espantosa FRANCA RAME, sua émula como actriz, escritora, encenadora. Recorda-me que os seus "Diálogos da Vagina" foram interpretados de forma magnífica pela belíssima GUIDA MARIA.
É divertido registar que  FO quando tomou conhecimento da peça e da intenção de FRANCA , ela própria, a representar, tentou proibir a consorte, argumentando que aquela peça lhes ia arruinar a reputação... 

FRANCA, mais nova que FO, faleceu em 2013. DARIO, que sofria de uma doença respiratória crónica, degenerativa, morreu num hospital em Milão, onde estava internado há duas semanas, vitimado pela dita doença a 13 de Outubro de 2016. 

DARIO e FRANCA deixam um filho, Jacopo, igualmente nos trilhos da actividade teatral.


No mesmo dia 13 de Outubro de 2016, em PortugalSua Excelentíssima Excelência o Sr. Presidente da República, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa leu, com um ar compungido, uma declaração, na qual assevera que os resultados da eco nomia portuguesa não corresponderam às expectativas, o que atira para o fundo da gaveta durante mais uns anos as aspirações da Plebe a aumentos salariais, a pensões de reformas. Quanto à sobre-taxa no IRS, já sabemos que é uma questão de "timing", segundo o pensamento de Sua Excelência


Sua Excelentíssima Excelência não terá 
reparado que, durante a leitura, lhe tinha escorregado para o chão a máscara de defensor isento da Constituição, do País e da Arraia Miúda, tendo retornado ao seu natural de afilhado de Marcelo Caetano, militante de proa do PSD,  dos ex-PSD/CDS, do ex-PÁF. Sugiro que alguém lhe sugira que apanhe do chão a escorregadia máscara, pois, em breve, poderá precisar dela...   







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Amplexos amistosos,

confiantes na luta colectiva e organizada,

do Leopardo  

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