Reflexões do Leopardo

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sexta-feira, 2 de setembro de 2016

As férias da minha empregada

Tenho uma empregada que, três vezes por semana, ao todo 12 horas, me limpa a casa, passa a roupa a ferro e alguns eteceteras mais.

Não comecem a objectar que sou um Leopardo a armar ao fidalgote. Nos tempos em que nasci, os Felídeos de grande porte não eram instruídos nestas artesanias domésticas e não posso sujeitar a minha Leopardezza a estas humildades. Sair-me-ia mais caro !

Já pensei em dispensar a minha empregada  ( que a vida está difícil e sobra sempre mês depois de o salário se acabar, apesar de a ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque de Albuquerque e Albuquerque, asseverar que o seu Governo deixou o País nos conformes; a Albuquerque ao cubo terá razão - que possui mais estudos do que eu - os nossos salários é que devem ser diferentes...), porém, sei que à minha serviçal os dinheiros que vem arrecadar aqui lhe dão muito jeito para compor o orçamento familiar.
Isto de lhe chamar "orçamento familiar" é uma expressão pró finório para designar os euritos que ela arrebanha em limpezas do mesmo género, em diferentes apartamentos. Euritos que, somados aos do marido, a sustentam a ela, ao consorte, a uma filha a entrar nos quarentas e com uma doença na espinal medula de tipo degenerativo, a um filho trintão, viúvo de uma ligação afectiva, viciado no computador, e ainda a um gato, preto, com tendências para se ausentar sem permissão e andar duas, três, quatro semanas por fora.

A vida da minha empregada é mais pranha de sentidos proibidos que a da senhora ex-ministra 
das Finanças. A dra. Albuquerque de Albuquerque e Albuquerque tanto quanto é público, obedece à chanceler Merkel, a Washington e ao Pentágono/NATO, a uns falares com o ex-rugby-man Barroso ou Barrascoso, (pois, o rapaz frequenta tanto os aeroportos internacionais, que cá, no terrunho, os maltêzes esquecem-se). A dra. Albuquerque ao cubo sub-serve, claríssimo, à Lehman Brothers (sob as várias capas que veste), a estes mais que aos outros todos. Mas a linha de vassalagens é bem hierarquizada, sem contradições. Manda quem manda, obedece quem deve.

Ora, a minha mulher de limpezas é apertada por forças que a constringem como um colete de barbas das madames do século XIX - é necessário esclarecer que a minha mulher a dias tem 1 metro e cinquenta e cinco de alto e pesa 100 quilos - e por forças em oposição que ameaçam esquartejá-la como se ela fosse puxada por vários cavalos em direcções contrárias.

Senão consideremos: a dona Hermenegilda (os seus pais, alentejanos de gema, atravessaram lua nefasta na época em que lhe escolheram o nome de baptismo) vive num T2 a Sacavém. Ela e o marido - "alantejano" igualmente - dormem no quarto de casal, a filha na sala, a divisão maior, por mor das suas enfermidades e do computador - o filho, na varanda, fechada em marquise, onde está sempre, também, ligado à Internet ou a carpir depressões derivadas do defuntamento da sua namorada, praticó-concretamente mulher, o gato marafado, na casa de banho, onde foi colocada uma rede na janela para lhe tornar as fugas mais dificultosas.

Ginja no topo do T2 da dona Hermenegilda, os seus vizinhos de andar, separadas por paredes de meio tijolo oco, são "uns pretos"constantemente a aumentar e diminuir em número, constantemente a cambiar de parceiros/as, "pretos" que negoceiam droga e armas por todo o Concelho, que já lhe ameaçaram o consorte com navalha na garganta, e que mataram mesmo um indivíduo lá no prédio, tendo a dona Hermengilda presenciado "os pretos" a arrastarem o cadáver para o elevador.

Eu e a Polícia Judiciária temos tentado incutir coragem na dona Hermenegilda ( a "Judite" conta com o seu testemunho para o julgamento). Mas, o meduncho, mais enraízado que erva daninha, ninguém lho saca. A Judiciária bem lhe assegura que tem um carro lá parado em frente, todos os dias, a horas desencontradas, que, enquanto "os pretos" sentirem os olhos afiados da Polícia em cima e o julgamento não ocorrer, nada lhe sucede.
"E não é que os malditos "escarumbas" mantêm aquelas músicas do cú-duro, ou lá o que é, a tocar todo o santo dia, em altos berros !!?..." ( este é um argumento que até em mim produz efeito ).

Vai daí, a dona Hermenegilda, este ano, decidiu que no seu mês de férias teria mesmo férias, queria ir à praia, viajar o seu quê, e não, como habitualmente, o ramerrão habitual, retiradas as limpezas nas casas dos patrões. Impôs isto à família, que amochou, ciente de quem era o proleta naquele agregado familiar, gato incluído.

De modos que a dona Hermenegilda e consorte andou uma semana para cá e para lá, entre Sacavém e a Costa da Caparica, a banhos. Porém, "não é que até o São Pedro lhe lançou um mau olhado", esteve sempre bandeira vermelha, quase não havia areia, só um barranco com rochas, mar bravio, banheiros a apitar por tudo quanto era sítio.
Não é que ela, Hermenegilda dos Santos, tencionasse meter-se às ondas, mas gostaria de molhar os pés níveos, os artelhos, vá lá, até aos canelos, se o mar estivesse mansinho. Nada, uma semana inteira assim.

Na semana seguinte, ao marido meteu-se-lhe na bolha que ou retornava este ano ao local do seu nascimento ou nunca mais o veria.
O marido é das bandas de Arraiolos, de forma que se meteram na estimada chocolateira que lhes dá serviço de automóvel - um velho citroen que fumega um pouco, mas nunca os deixou empanados na estrada - e rumaram a Arraiolos. Lá chegaram, tendo o marido constatado que o "monte" onde fora parido (sessenta e tantos anos patrásmente), tinha caído em ruínas, irreconhecível, só azinheiras, chaparros, silvas, bichos rastejantes.
O raio do consorte ficou num desespero tal que enfiou-se de imediato no "citro" e vieram de rota batida a encafuar-se, de novo, em Sacavém. Nem atendeu os pedidos da Hermenegilda para espreitarem, mesmo de um alto, Arraiolos. Parece que o diabo do homem só se sente bem num largo defronte do prédio dos T2, a beber um copito de branco, numa roda de amigos.

É claro que ela, Hermenegilda dos Santos, foi um bocadinho chata. Reconhece. Para "destressar" a esgana em que andava de lhe sair tudo às avessas moeu a paciência do consorte com todas as implicâncias que conseguiu imaginar. Tinha de ser. Não podia pagar sózinha a miséria de férias que teve.
Compreenda a sra. dra. Albuquerque de Albuquerque e Albuquerque ou não.

      Resultado de imagem para fotos de Sacavém            Resultado de imagem para fotos da Costa da Caparica

                                 Resultado de imagem para fotos de Arraiolos




Amplexos "arrabiatos",

porém sempre confiantes na Luta,

do Leopardo



   

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