Reflexões do Leopardo

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terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O longo regresso a Casa

Comecei esta edição do meu blogue para Vos recontar uma série de assuntos de acordo com uma ementa habitual: o que está na ordem política dos últimos dias, entrelaçado com uma série de opiniões sobre filmes, peças de teatro, óperas, obras literárias.
Na verdade, nada que os meus visionadores fiéis não tenham já algum conhecimento prévio, ou que façam outra coisa que sacudir a poeira de obras caídas no olvido.

Assim, iria falar-lhes do actual presidente da República da Turquia, país que sob a liderança autocrática do senhor Recep Erdogan retrocedeu largamente umas décadas democráticas para trás, abandonando todas as conquistas progressistas do kemalismo - nomeadamente na emancipação das mulheres -, cujo Erdogan, a propósito de uns atentados terroristas e , agora, por mor do assassínio do embaixador russo na Turquia, não hesitou em atribuí-los aos Curdos, em particular ao PKK, mesmo sem esperar pela conclusão do inquérito policial e mesmo depois de se saber que o embaixador russo foi assassinado por um polícia da segurança especial turca.

Os "mírdia" também não hesitaram em palrar que a população ficou dividida com estas posturas do senhor Erdogan, apesar de se saber que os Curdos reclamam uma população de 25 milhões, distribuída desde o longínquo Afeganistão, passando pelo Médio Oriente (nomeadamente Iraque e Irão), até à Turquia propriamente dita (onde, no praticó-concretamente eram impedidos de falar ou cantar em curdo)
Porém, a Turquia, o que resta do antigo Império Otomano, ocupa toda a Península da Anatólia, com uma área (783.562 km2) sensivelmente superior à da Península Ibérica, França e Alemanha todas juntas, uma população superior a 75 milhões e meio, fronteiras com 7 países - Grécia, Bulgária, Geórgia, Arménia, Azerbeijão, Iraque e Síria - , saída para os mares Mediterrâneo, Egeu e Negro, e portantos, consequentemente, capacidade para cortar a saída do gás e do petróleo russo para o "Ocidente" e para a Síria
Neste contexto, a displicência ( pontuada por umas reservasitas de bom tom ) com que a NATO e os EUA aceitam a cumplicidade da Turquia de Erdogan ficam claras...

Nos entretantos sucedeu-me ir ver o filme que recebe o nome de "O longo regresso a casa" - na tradução inglesa intitula-se "Lion"- candidato a um Óscar, que sintetiza a estória real de um menino indiano que se perde da família, afasta de casa 1.600 km, e só volta a encontrar a sua aldeia, a mãe e uma irmã, 25 anos depois.
É uma obra que não se deve perder, pois é um "capolavoro", amassado em sensibilidade, em inteligência, em belíssimo ritmo e caligrafia fílmica, que demonstra que a miséria não se escreve com as mesmas letras na Europa, nos "States" ou nas Áfricas, nos vários Orientes, nas Índias.
Áfricas e Índias onde um resto de maçã, de yogurte representa uma refeição diária, onde uns calções, uma camisola interior é vestuário para diversos anos, uma caixa de cartão, uma cama que se defende como mobília.
A estória real é fácil de recontar: um miúdo de 5 anos ( Saroo ) perde-se do irmão mai velho, ( Guduu ), talvez de 12 anos, com o qual costuma roubar carvão dos combóios para sustentarem a família, distancia-se da sua pequena aldeia, onde só se fala "indi", viaja num comboio fechado e sem paragens até Calcutá, onde só se fala "bengali", onde ninguém se interessa pela criança a não ser para a fazer entrar no mercado da prostituição infantil.
Ao Saroo  sai-lhe a taluda: é adoptado por um casal australiano, vive na Tâsmania, consegue uma carreira de sucesso graças a uma inteligência de sobredotado, arranja uma namorada de origem britânica, até tomar consciência que a sua mãe adoptiva não coincide com a sua mãe genética. Aliás, Guduu , o irmão mais velho, é atropelado e morto por um autocarro na própria noite em que se perdem um do outro, sem que isso dê origem a qualquer inquérito. 
No final do filme e na vida real Saroo , depois de anos de porfiados esforços com os mapas do Google, consegue resolver a obsessão que se tornou tornar a encontrar a mãe genética e a irmã, juntá-las com os excelentes pais adoptivos que lhe calhou em sorte e a película termina num "happy end" .

Para além da lição que recebi da obra de que os "capolavori" só emergem de experiências de vida sofridas com o coração, a mente e todos os poros do corpo, compreendi de imediato que o que Lhes tenho andado a servir nos meus blogues são pouco mais que nada, "nulla di nulla", simples exercícios de estilo escrito que alguns excelentes Amigos e Camaradas lhes deu na bolha apreciar.
Todavia, como escreveu um tal Vladimir Ilych Ulyanov (de sua graça, Volodia, quando petiz), "só a verdade é revolucionária" e, agora, pelos santos natais, eu, um vero leopardo dos hermínios, não poderia oferecer-Lhes menos do que isso ou o que julgo que é a verdade.
Portantos, as edições do meu blogue finam-se hoje, aqui,  e só, eventualmente, as ressuscitarei para Os tentar impelir a participar num assalto aos "palácios de inverno". 

Até lá, verei se sou capaz de redigir os "Meus Memoriais do Convento", os meus "Cús de Judas", os meus "Maias".
Agradeço aos que nunca visitaram as edições do meu blogue e que nunca me alimentaram a ilusão de que andava a teclar algo que merecesse a pena. Mesmo os "Romeus e Julietas" só adquiriram a dimensão que adquiriram por se saberem desgraçados. Após ter dobrado várias voltas o Cabo das Tormentas dos dezoito anos, compreendemos que a única riqueza que podemos gerir parcialmente é o tempo presente. Talvez, todos Nós devamos a nós próprios, em dado momento, "um longo regresso a Casa".   

"Hasta siempre Comandante", acima, acima, gajeiro, acima ao mastro real, já vejo terras de Hespanha, areias de Portugal !...  

Pensava acertar umas contas com o senhorito B.de.C., porém talvez o Sporting Clube de Braga o tenha feito por mim, devolvendo-nos o honrado Sporting Clube de Portugal, ao qual o desporto e a cultura nacional tanto devem. As eleições para a Presidência do SCP no-lo dirão em 2017.  



Resultado de imagem para fotos ou cartazes do filme "Lion"      Resultado de imagem para fotos ou cartazes do filme "Lion"

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Saudações fraternas do

Leopardo

1 comentário:

  1. Devemos respeitar a decisão. Espero que apareças de novo com outro titulo qualquer. Um abraço e, como dizes, "até sempre".

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