Reflexões do Leopardo

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Fiel a Fidel

A personalidade de Fidel Castro dominou a História do século XX e XXI. É uma das figuras incontornáveis - como Marx, Engels, Lenine, George Dimitrov, Staline, Mao Tsé-Tung, Ho Chi Minh, Vo Giap, Álvaro Cunhal - do caminho da Humanidade para as Sociedades Futuras do Socialismo e do Comunismo.
Como é do conhecimento público, Fidel sobreviveu pelo menos a cerca de 630 tentativas de assassinato (segundo uma "fuga" de um agente da CIA) e as especulações, inverdades e mentiras  em torno do seu legado foram companheiras constantes da sua vida política desde que a Revolução Cubana começou a triunfar no assalto ao Quartel de Moncada e na guerrilha iniciada na Sierra Maestra, acompanhado, entre outros, pelo igualmente lendário médico e guerrilheiro, de nascimento argentino, incendiário de corações e vontades, que a História retém sob o diminutivo simples de Che ( Ernesto Guevara de la Serna, assassinado na Bolívia a 9 de Outubro.1967, com 39 anos).

As especulações reaccionárias em volta da figura pessoal e política de Fidel (Fidel Alexandre Castro Rus) - tiveram início muito antes da sua morte a 25 de Novembro.2016, em Havana - sempre se atropelaram numa bicha interminável de aldrabices descabeladas e meias-verdades, entrelaçadas numa tela falsa, mas difícil de decifrar. Tentarei resumir as principais.
a) Que forjou uma fortuna pessoal de multimilionário à custa da Revolução Cubana.
Fidel respondeu-lhes ainda em vida "que o provassem em Tribunal e se deixassem de atoardas balofas".
b) Que foi um ditador autoritário, isolado do seu Povo, protegido por muros de guarda-costas, assente num culto da personalidade conscientemente montado.
A homenagem prestada à sua urna funerária (deixou testamento no sentido de os seus restos mortais serem cremados justamente para evitar cultos da personalidade) por milhares e milhares de cubanos que enchiam as avenidas principais de Havana, com centenas e centenas de estudantes, os testemunhos emocionados de mulheres e homens cubanos que falavam na "perda de um Pai" com as lágrimas a escorrerem-lhes pelos rostos, as mais de 50 delegações estrangeiras de alto nível que acompanharam a homenagem ( entre elas, uma do CC do PCP), demonstram precisamente o contrário.
c) Para os que comparam a Cuba de Fulgêncio Batista, a Cuba dos cubanos de Miami - um prostíbulo dos cowboys ricos - com a Cuba saída da Revolução, a comparação é de arrasar. Cuba é hoje uma nação respeitada, apontada ao Socialismo, sem analfabetos, com uma população com as necessidades de habitação, alimentação, saúde, escolaridade supridas, com enormes avanços em muitas áreas do conhecimento científico, com uma solidariedade internacional desenvolvida, acima de dúvidas, com um património ímpar entre as nações dirigidas para o Socialismo ( é de salientar que Cuba possui uma população, do ponto de vista numérico, sensivelmente idêntica à portuguesa, e a sua área marítima não atinge um décimo da nossa).

Merece igualmente ser falado o livro "Carta para minha mãe", de Georges Simenon, autor belga, catalogado entre os ficcionistas dos romances policiais de enredo psicológico ou psicanalítico. Autor de cerca de 400 obras, algumas vertidas para filmes e séries televisivas, traduzido em mais de 50 línguas, que vendeu 500 milhões de exemplares.
Pierre Assouline, um dos biógrafos de Simenon, sobre a "Carta..." escreveu "o livro escapa às normas, tanto pelo contexto quanto pelo poder evocativo (...) é uma crónica da incompreensão (entre a mãe e o filho) através da história de dois seres que nunca conseguiram mar-se por nunca terem sabido conversar. Simenon revela-nos o nódulo do seu sofrimento, o sofrimento de um grande escritor reconhecido por todos e em toda a parte, excepto pela sua própria mãe."
"Carta para minha mãe" escrito numa linguagem despojada, de frases curtas como murros, é de uma dureza mineral, ao desvelar-nos a natureza dessa incompreensão e desse vácuo de amor entre filho e mãe, dureza que nem o esforço, nas páginas finais, para abrir uma fresta de entendimento entre os dois familiares, atenua. Porém, que a obra lança um raio de luz sobre os complexos meandros das relações entre os seres humanos, é verdade que lança (embora eu tivesse que suspender a sua leitura várias feitas para poder prosseguir). A vida é uma flor de muitos aromas, mas exige coragem para ser assumida.


Ainda é preciso mais coragem, e um estômago forte, para assistir até ao fim ao filme "Miss Violence", de Alexandros Avranas. Filme metade crónica decalcada do real, metade metáfora sobre o período da história grega debaixo das patas dos coronéis.
Nenhuma ignomínia nos é poupada: a subjugação absoluta das mulheres aos homens, a prostituição e a pedofilia incentivada pelos pais, a violação das meninas pelos próprios pais, o "voyareurismo" fotografado, filmado e mercantilizado pelos pais, a subjugação humilhante dos homens-machos aos machos dominantes na escala do poder e do dinheiro, o suicídio das crianças violadas e o esforço para o esconder pelos parentes, as portas permanentemente fechadas dentro dos próprios lares e os segredos inconfessáveis que as portas encerram. As representações das actrizes e dos actores estão à altura do que lhes foi exigido.

Esperemos que a era Trump , sob a máscara do truão, não nos impulsione para tempos equivalentes, ou piores, que combateremos com a firmeza e determinação com que enfrentámos outras circunstâncias sombrias de vergonha e terror. Os seres humanos só podem ser vencidos na seu ânimo moral.


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Saudações preocupadas, mas confiantes 

do Leopardo
  

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