Reflexões do Leopardo

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sábado, 5 de novembro de 2016

Tentando focar "Constelações"... se a sorte me bocejar"

Confesso que não pensava voltar ao tema desencadeado pela peça "Constelações" , que vai no Teatro Aberto (á Pç. de Espanha/Lisboa), do jovem dramaturgo inglês Nick Payne, encenada por João Lourenço, peça que não apreciei grandemente, mas que tem magníficas interpretações dos actores Joana Brandão e Pedro Laginha, porém vieram à baila questões epistemológicas e alguns dos meus pacientes leitores pediram-me que explicitasse melhor, pois isso de epistemologia, para eles, era tão criptógráfico como chinamarquês.

"Epistemologia" deriva da palavra grega "epistémé"- introduzida por Platão - com o significado de "conhecimento verdadeiro", por oposição a "conhecimento na aparência verdadeiro". Um "conhecimento verdadeiro" fundado em "ideias eternas", imutáveis, portanto.
Isaac Newton foi o último cientista e teólogo a defender a concepção de um um conhecimento científico imutável, baseado na matemática e na geometria, aliado, aliás, de uma concepção teológica da Natureza.
Einstein deitou por terra a concepção newtoniana, ao afirmar a teoria da Relatividade, teoria que postulava que a Energia é uma constante que depende das variáveis da massa (do corpo) e da velocidade. Teoria sintetizada na famosa fórmula E = mc2 . Considerava Einstein que a teoria de Newton era suficientemente explicativa para as velocidades derivadas da gravidade terrestre, mas inexacta para velocidades próximas da velocidade da luz (300.000 km por segundo), considerando igualmente que a velocidade da luz era inultrapassável, o que determinava um Universo esférico, e a impossibilidade de regredir no tempo.

Após leccionar durante anos os rudimentos da epistemologia no Ensino Secundário e de os discutir em conferências no Ensino Superior, tornou-se hoje habitual encontrar em todas as teses de mestrado e doutoramento um, dois, três capítulos reservados a apresentar os princípios epistemológicos em que se fundamentam. Nomes como os de Maxwell, Heisenberg, Max Planck reaparecem regularmente. 

Mui resumidamente para não afastar de vez os meus leitores mais fiéis, teclo que James Clerk Maxwell, físico e matemático escocês (n. a 13.Junho.1831, em Edinburgo; m. a 5.Nov.1879, em Cambridge) uniu no electromagnetismo , a electricidade, o magnetismo e a óptica, demonstrando que os campos eléctricos e magnéticos se propagam com a velocidade da luz. Segundo ele, a luz propaga-se em ondas electromagnéticas (1864). 
O seu trabalho teve inúmeras aplicações práticas - por exemplo, a lente "olho de peixe" - e serviu de base à teoria da relatividade restrita de Einstein.


Max Planck, físico e matemático a usar pela 1ª vez a expressão "física quântica", em 1931, (Max Karl Ernest Ludwig Planck; n. 1858/m. 1947), em 1900, propôs a concepção de que a energia é enviada em "pacotes", que designou de "quanta" (etimologia latina para "quntidade") . "Quanta" que , posteriormente seriam designados de "fótões". Concepção que afirma a natureza da luz  descontínua, logo contrária à explicação de Maxwell.
Inicialmente,  Albert Einstein ficou tão irritado com a concepção de Planck que terá proferido a expressão igualmente famosa "deus não joga aos dados".

Werner Karl Heisenberg (n. a 5.Dez.1901, em Würzburg, m. a 1.Fev.1976, em Munique) foi um físico teórico alemão (recebeu o prémio Nobel da Física em 1932 "pela criação da mecânica quântica"), teorias cujas aplicações práticas levaram à descoberta, entre outras, das formas alotrópicas do hidrogénio.
Heisenberg, em 1925, estabeleceu as bases da formulação matricial da mecânica quântica e, em 1927, publicou um artigo no qual apresentou o Princípio da Incerteza ou Princípio de Heisenberg, no qual sustenta que é impossível medir simultaneamente e com precisão absoluta a posição e a velocidade de uma partícula. Erros desprezáveis ao nível macroscópico, mas importantes no estudo das partículas atómicas. As duas grandezas podem ser determinadas de forma exacta separadamente, porém, em simultâneo, quanto mais exacta for uma delas, mais incerta se torna a outra.
Heisenberg teve contribuições teóricas destacadas no estudo do núcleo do átomo, do ferromagnetismo, dos raios cósmicos, das partículas subatómicas. Foi um dos líderes principais no planeamento do primeiro reactor nuclear alemão e no programa de construção da bomba nuclear dos exércitos nazis (factos que provocaram o fim da amizade e da investigação conjunta com o físico Niels Bohr, igualmente prémio Nobel).

Na actualidade, os físicos-matemáticos que investigam estas matérias usam ora a teoria da natureza ondulatória da luz, ora a teoria da natureza descontínua da luz, conforme cada uma das teorias se mostra mais explicativa  dos fenómenos em estudo. E todas essas investigações, ora teóricas, ora experimentais se traduzem em realizações muito concretas: estações espaciais, megatelescópios do Universo, tentativas de investigação de outras formas vivas para além das terrestres, tentativas de comunicação com outros seres inteligentes do Universo, etc, etc. 

Ora, estas concepções têm pouco a ver com o uso superficial que o dramaturgo inglês Nick Payne delas faz na sua peça, fantasiando-as de "mundos paralelos".
A existência de "mundos paralelos" a nível psicológico é fácil de constatar se realizarmos entrevistas simples à saída de um filme, de uma peça de teatro, de um festival musical, de um estádio de futebol, de um comício. Afirmar a existência de "mundos paralelos" a nível psicológico é afirmar o óbvio e é uma banalidade.
Compreendêmo-la ainda melhor quando Payne confessa numa entrevista que, após a morte do seu pai com o qual tinha uma ligação afectiva muito profunda, desejava que existissem outros mundos onde pudesse reencontrá-lo. É compreensível e podemos sentir-nos solidários afectivamente. Freud, Yung, a Psiquiatria têm ajudado a desvendar esses mundos. 
Querer transplantar estas atmosferas psicológicas para o mundo muito concreto das partículas e sub-partículas atómicas é uma tremenda patetice.

Desvarios que reencontramos quando o Presidente do SCP, o sr. B.de.C. acusa os tablóides de uma "cruzada" contra o seu clube (depois de ter incriminado os árbitros e a FPF), e o treinador da sua equipa de futebol sénior, o míster JJ, naquele dialecto pessoal inimitável, declarar que "a sorte não tem bocejado o Spórtem". De facto, a sorte continuará a "não bocejar o Spórtem", enquanto os referidos senhores não deixarem de procurar o azar no exterior e não o identificarem nas insuficiências dos seus jogadores e nas suas estratégias de futebolar. 

Também a nível da política nacional "se boceja" enquanto Suas Excelências Excelentíssimas, o Primeiro e o Segundo, considerarem que vivemos suspensos das eleições para a Presidência dos cowboys, das campanhas de guerra da NATO , das ordens e chantagens do Banco Central Europeu, da chanceler Merkel, de "herr Schültz.     


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Saudações desconfiadamente confiantes,

apelando à luta organizada de massas

do Leopardo

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