Reflexões do Leopardo

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Reflexões do Leopardo

terça-feira, 19 de julho de 2016

O último dia do Festival de Teatro de Almada... deste ano.

Quase me apetecia começar esta croniqueta teclando "foi mais do mesmo", porém não seria justo.
Cá o Leopardo tinha depositado umas esperanças que "Thanks for Vaselina" da "Carrozzeria Orfeo", quebrasse o estranho mutismo sobre a avançada galopante da terceira guerra mundial, nuclear, liderada pelos "States", mas ná, nada, "niente", "nulla di nulla".
A peça representada pela "Carrozzeria" representou pela enésima vez mais uma versão do lumpem-proletariado atravessado pelos problemas do comércio da droga, da transexualidade, da prostituição, da religiosidade, do complexo freudiano de édipo, dos feios nunca amados ou desejados - uma rapariga gorda que aspira, ao menos, a ser sodomizada - até, mesmo, por impulsos súbitos e inconsequentes para um terrorismo falacioso de "esquerda". A peça foi mal encenada e interpretada? Não, não foi, todavia também não trouxe ar fresco nenhum.

Se o Leopardo só tivesse frequentado o Festival de Teatro de Almada deste ano, julgaria ter entrado num curso acelerado, em doses maciças, de terrorismo verbal, de recorte "sérysista". Ele era droga, sexo, transexualidade , pistolas em riste em tudo que era canto do palco. Enfim, o Festival de Teatro de Almada e o seu actual director lá sabem os problemas que os agitam.

A noite foi salva pela Compañia Mercedes Ruiz , uma das companhias expoentes do Flamenco na Península Ibérica. Não vou tornar a repetir coisas que já escrevi numa das edições do meu blogue acerca do Flamenco.
O Flamenco (não as Sevilhanas, que são uma dança cortesã, de castanholas, "peiñetas", passes e rodopios metrificados) é uma dança de um Povo escorraçado da sua Terra natal, lá para as Índias, e que, de rejeição em rejeição, acaba por assentar arraiais num triângulo cujos vértices se encontram na Andaluzia, Múrcia e Estremadura espanhola. O Flamenco é uma dança visceral, saída das entranhas de um Povo, que de repúdio em repúdio, fala para as entranhas da Terra, exigindo-lhe nos ecos propagados do "cante", nos volteios dos "bailaores", nas patadas furiosas no solo, justiça. Justiça pela guerra sem quartel que lhes foi movida ao longo de séculos. Justiça pelas mortes sofridas, pela miséria, pela fome, pelas doenças, pelo preconceito, inimigo letal.
A Compañia Mercedes Ruiz, tem a sua estrela na "bailaora" que dá o nome à Companhia e que foi premiada pela originalidade da sua coreografia, em 2006, na Bienal de Sevilha. Mas, todo o resto do elenco está à sua altura: uma guitarra inimaginável nas mãos de Santiago Lara, réplicas excelentes a cargo dos  "cantaores" (um deles tenor e também "bailaor" inventivo ; o outro, baritono, escavando cântaros de uma sonoridade forte) e os restantes cúmplices da Festa Flamenca.

Logo, com a Compañia Mercedes Ruiz, o Festival de Teatro de Almada fechou com a Alma Flamenca e com Chave Vermelha. Que Viva El Flamenco !!!



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Amplexos confiantes,

de luta

do Leopardo

           

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