Reflexões do Leopardo

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segunda-feira, 6 de junho de 2016

A estupidez humana quimicamente pura

Na passada sexta-feira, no meio de um caótico fim de tarde lisboeta, quando me dirigia para o TMJB, parei num modesto snack-bar - um balcão, 6 bancos de balcão, duas mesas, refeições ligeiras a 5 euros, imperiais e vinho à pressão, coca-colas, gasosas, enfim, o trivial  - , encomendei um café e um rissol. Enquanto engulia o apressado lanche, a televisão mostrava umas imagens do Ricardo Salgado, patrão do BES "velho", que deu com os burros na água com uma dívida gordíssima, ainda por pagar, de 22 milhões de euros. O pivôt da TV dizia qualquer coisa sobre o litígio em tribunal entre o batalhão de advogados do super-financeiro tecnicamente falido e o Estado português.

Terei alinhavado um comentário de circunstância dirigido ao proprietário do snack - única pessoa na loja, para além de um "homeless" barbudo, bêbado e da esposa do proprietário, na cozinha, em redor de panelas. Comentário lijeiro: "Vai ver que a este não lhe acontece nada. O processo jurídico vai arrastar-se, as provas mostrar-se-ão confusas, inconclusivas, beneficiará de uns perdões fiscais, umas amnistias, voltará para os palacetes e os "offshores"".

O que fui dizer... Desencadeei uma defesa acérrima do multimilionário, tecnicamente falido por uma "contabilidade inteligente", da parte do dono da lojeca de "comes e bebes".
O "argumentário" era sensivelmente assim : " É perfeitamente justo que os multimilionários sejam absolvidos, taxados por impostos mais baixos, condecorados mesmo, pois eles representam pr'áí 1% da população do planeta, logo consomem menos água, oxigénio, ozono, electricidade, gaz , petróleo, minérios, recursos e reservas do planeta Terra, assim devem ser os 99% restantes da população mundial que devem arcar com o grosso dos impostos, pois são eles quem mais consome."
E ajuntava triunfante, rematando para golo: "Além disso, além disso, sem bancos desaparece o comércio mundial. É lá que está o dinheiro, o "arame" é deles, e sem "pilim" não há negócios."

A minha alma  ("alma" do grego "anima", sopro vital, respiração; nada de confusões com uma substância imaterial, princípio religioso de ligação com deus ou deuses) estava estupefacta. Eu estava a observar ao vivo, "in loco", uma criatura da espécie humana que reunia em si um concentrado quimicamente puro da estupidez. Nem de encomenda se conseguia tão perfeito. A criatura defendia o Grande Capital com uma contrafacção superficial, mas ardilosa, da ecologia e polvilhava-a com uns rudimentos financeiros que teriam feito as delícias dos banqueiros venezianos do século XIII.
Porventura sentir-se-à psicologicamente do mesmo lado da barricada social e ideológica dos banqueiros por se ter incluído na categoria dos "patrões". Como se ele, emigrado do concelho de Tomar faz meio século, patrão de um exíguo estabelecimento (decerto arrendado), onde consome umas 16 horas do seu dia a encomendar géneros alimentícios, bebidas, verificar qualidades, discutir preços, servir ao balcão, varrer e lavar o chão, mesas, cadeiras, espelhos, casas-de-banho, e consome mais 3 horas no seu transporte diário, para ele e para a "patroa" (pode ser que também para uma serviçal negra, sobra das antigas colónias) para o lar nos subúrbios da capital, estivesse no mesmo patamar social e de riqueza dos Grandes do mundo actual, com os seus vários palacetes no centro de hectares e hectares de terreno, os seus serviços de contencioso, os seus serviçais (dos motoristas às criadas de quarto, aos/às massagistas, aos "personal-training", aos dietistas, aos contabilistas, aos médicos particulares, às amantes), as suas "limusines", os seus "offshores" secretos.

A minha estupefacção era tanta - ao vivo, "in loco", nunca tinha assistido a uma estupidez tão corajosa, tão inconsciente, tão manipulada, ou tudo junto num cocktail indiscernível - que disparei dois, três contra-argumentos débeis, só por desobriga, só para sair de honra mais ou menos lavada ( "que o dinheiro não era dos banqueiros, era nosso; já nem correspondia a lingotes de oiro, era todo dinheiro virtual, todo cuspido de fotocopiadoras")

Eu tinha acabado de assistir à base de apoio popular da Grande Finança Actual . Que os deuses do Olimpo de Camões nos protejam! E grandes doses de LUTAS DA POPULAÇÃO, organizadas pelos Partidos, Coligações, Sindicatos, Organizações Sindicais, sérias, consistentes, com provas históricas dadas, TAMBÉM !!!


          Resultado de imagem para imagens de pequeno proprietário de uma loja



                                     Resultado de imagem para fotos ou imagens de Ricardo Salgado

Do Leopardo,

confiante como sempre,

mas bastante zangado.            
    

1 comentário:

  1. todos os dias nos deparamos com alimárias como essas!
    os burros me perdoem são teimosos mas não são estúpidos, eu tinha um qd pequena, sei do que falo

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