Reflexões do Leopardo

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Reflexões do Leopardo

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Juni Dahr

Tinha prometido dedicar uma das minhas reflexões à grande encenadora e actriz norueguesa Juni Dahr, directora do Visjoner Teater, que trouxe ao Festival de Almada - talvez o melhor festival de teatro da Península Ibérica - na Casa da Cerca, em 2016, a sua peça "Hedda Gabler", a partir do texto de Henrik Ibsen - autor carismático do repertório tradicional norueguês - com a qual tem corrido o planeta, e devo confessar que esta reflexão foi das mais difíceis de teclar que me couberam em sorte.
Não, claro está, pela enorme encenadora/actriz ter tido a gentileza  de me declarar um actor nato - após um "workshop" de 4 dias, 20 horas (que me soube a pouco...) - mas, porque é difícil condensar em poucas linhas a quantidade de orientações que nos transmitiu no praticó-concretamente sobre o teatro e o espectáculo.
Difícil explicar em paleio escrito escorreito em que consiste a sua concepção de "site specifc" ( em tradução literal lusa, talvez, "sítio específico" ) e que pretende indicar : descobrir o local exacto onde a verdade do encenador, dos actores/actrizes se encontra com o acolhimento sensível, intuitivo, do público. Para Juni , a verdade reside na representação das actrizes/actores, o que sustenta as suas afirmações "A verdade em palco é a verdade" ou "eles não falam sobre aquilo que dizem, falam de outra coisa. E é sobre isso que uma peça inteira é." ou "Não representem. Explorem." ou "Tentem virar o jogo. Sempre que pensam ter encontrado uma resposta, tentem colocar outra pergunta. Experimentem sempre o caminho alternativo." 
Concepção desastrosa em termos financeiros ( palavras da autora ! ) pois, implica pouco público, inúmeras récitas, para o escasso público de cada uma delas poder entrar no jogo : "No teatro dizemos : "Isto é real. Isto é a realidade para nós que aqui estamos. E, ao mesmo tempo, é mentira". Este é o ponto crítico do teatro. O público e os intérpretes fazem uma espécie de pacto. "As regras são estas. Agora podemos começar a jogar." 

Um pouco da biografia de Judi Dahr ajuda-nos a entender muito bem que ela não tenha sido outra coisa senão actriz de teatro ( o que ela tem dificuldade em admitir... ). "Eu costumava criar histórias, representar e inventar peças na minha imaginação, com as minhas irmãs, com o nosso cão, com amigos, durante toda a minha infância. Podia estar horas a fio profundamente concentrada [ ... ] A minha mãe era jornalista e levava-me muitas vezes para o emprego, e eu adorava quando o que ela tinha de fazer era escrever uma crítica de teatro. [ ... ] Na escola adorava representar e, no Secundário, escolhi como principal disciplina o Teatro. [ ... ] Os nossos professores eram alguns dos maiores encenadores e actores de teatro. Partilharam connosco as suas experiências, os seus sucessos, mas também as suas dificuldades. Sentíamo-nos parte da comunidade teatral." [ ... ] No Teatro Nacional de Bergen, também tive a oportunidade de trabalhar e de interpretar muitos dos grandes autores clássicos ( como Sófocles, Shakespeare, Tchecov, Dostoievski, Strindberg e Fosse ), assim como teatro moderno, vanguardista, musicais, comédias e peças infantis. Fiz de Cinderela mais de cem vezes.

Até aqui acompanho Juni, percebendo que uma Europa Unida nunca passou senão de uma balela e que na UE sempre existiram várias velocidades, vários ritmos. Porém, continuo a acompanhá-la quando expressa que queria "saber mais sobre as brilhantes representações dos filmes americanos. Queria saber mais sobre o "método" e sobre a "técnica Marlon Brando" ( que tinha pouco de "técnica" e, sim, de uma intuição inata para representar, segundo as próprias palavras de Marlon Brando, crítico implacável do Império Ianque ). Sim, tive aulas no Actors Studio e estive inscrita na Universidade de Nova Iorque em 1986-87."
[ ... ] " O Visjoner Teater foi fundado, na sequência da atribuição de uma bolsa Fullbright, para que eu pudesse ter a minha própria companhia e me pudesse candidatar a apoios. A bolsa Fullbright ( em tradução à letra, "Luz Total" ) permitiu-me ficar nos Estados Unidos e dar continuidade à minha investigação artística [ ... ].

Continuo a acompanhar Juni Dahr, todavia começam a acastelar-se nos meus neurónios desconfiados de Leopardo algumas questões cruciais : quem "quer" dentro do "querer" de Juni ? E como é que esse "querer" se entretece com a meta ideal de procurar "um ser humano livre" e como é que essa busca a conduz, em 1980, ao Solidarnosc e a Lech Valesa - agora totalmente "apagados"... - "que haveria de transformar por completo o sistema político na Polónia e, mais tarde, na Europa" e a introduz na União Soviética "a 18 de Agosto de 1991, despertando para uma nova situação política em Leninegrado/São Petersburgo depois do golpe contra Gorbachev ( sim, aquele senhor da manchinha na testa, que, hoje, não alcança mais de 1 %  na sua antiga pátria, e que tem rampa de lançamento na Itália, donde é disparado para conferências a 20 mil, 30 mil €uros a peça ... ).

A pergunta que, hodiernamente, coloco a Juni Dahr é onde iremos encontrá-la : na Síria, contra os Assad ? Na Coreia do Norte contra Kim Jong-Un ? Em Jerusalém, a favor do Estado Sionista de Israel ?
Talvez, a nossa artista, criativa, nos represente outras alternativas ? Qui ça ? Qui ça ? Hasta quando ...   


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Saudações confiantes e divertidas 

do Leopardo

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