Reflexões do Leopardo

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domingo, 3 de abril de 2016

Aos domingos é cozido à portuguesa!

Caros Amigos, esta edição não possui o mínimo propósito de lhes fornecer qualquer informação útil. Julgo que será mesmo completamente inútil. Uma parvoeira pegada, provavelmente com notas falsas. Corresponde tão só ao desejo de me divertir eu próprio. Depois de um fim de semana perfeito, que poderia eu querer senão advertir-me eu mesmo?...
Ora vejamos: 
Na 5ªfeira, o Glorioso ganhou. Uma goleada. Escusavam de ser tantos, não se achincalha assim um adversário digno. Na 6ªfeira, o Teatro Municipal Joaquim Benite - TMJB - levou à cena uma peça, "Frei Luís de Sousa", da maior suculência formal e substancial. No  sábado, o Verdadeiramente Glorioso (muito bem, observo que lentamente, mui lentamente, algo vão aprendendo: ninguém perguntou quem é o Verdadeiramente Glorioso...; se continuarem por esta via, para a semana trago uma "bottiglia" de crf  a fim de a secarmos) promoveu uma sessão, no Fórum Lisboa, de merecido enaltecimento e defesa da Constituição da República Portuguesa - "uma das Constituições progressistas mais equilibradas na via do socialismo e comunismo do planeta".

Do futebol, do qual não entendo rigorosamente népias, não vou falar-lhes (para mim significa somente um afecto gerado na infância e uma lealdade para com a minha família pobre, mas estas coisas NUNCA se renegam!).
Do "Frei Luís de Sousa" e do seu autor, o senhor João Leitão da Silva, que posteriormente passou a assinar-se Almeida Garrett, porque era vaidoso com'ó caraças e o Garrett foi pirateá-lo a uns Gerott, talvez irlandeses, o que lhe dava umas fumaças de fidalguia, ainda sei quase "niente", à parte este facto de ser mui entumescido do seu Eu, usar espartilho, frisar os cabelos com ferros quentes pela noite. E fez fortuna com a palavra "Ninguém..." repetida uma vez e outra como no fundo de um poço,  na mesma peça, por um monge falso. Assim também eu...
  
Ele, Garrett, que desembarcou no Mindelo, com o Imperador D. Pedro para libertar Portugal do infante D.Miguel e dos miguelistas, ultramontanos da época que catrafiavam os liberais nas enxovias e os tratavam a cargas de porrete - uma delas o forte de Almada, onde pontificava um brutamontes e o seu filho, ambos Teles Jordão, ambos assassinos, que muito haveriam ainda de se distinguir, mais a sua descendência, na História de Portugal pelos mais reaccionários motivos.
Ele, o liberal Garrett, um dos introdutores no nosso País do Romantismo, que acabou visconde, par-do-reino, ministro dos Negócios Estrangeiros. Talvez tenham sido vidas como estas que vieram a justificar a expressão: "foge ladrão, que te fazem barão!; para onde?, se me fazem visconde." 
Portantos, do Teatro, do "Frei Luís de Sousa", de Almeida Garrett, "à séria", como soe dizer-se agora nessa linguajar pato-bravo dos "tios" e "tias", não estou ainda em condições de lhes teclar.

Da sessão no Forum Lisboa, para divulgação e defesa da Constituição Portuguesa, e sobre a qual já grafei não sei onde, puxarei apenas para cima apenas o Coro dos Alentejanos do Feijó que nos obsequiaram a todos com a sua emoção, a sua modéstia, a sua perseverança para o reconhecimento do Cante Alentejano como património da UNESCO.

Desta maneira, após um fim de semana tão conseguido - no qual até fomos poupados aos ataques de fúria do sr. Bruno de Carvalho e do seu verrinoso treinador, quer o Sporting ganhe ou perca - e combinado que não nos dispersaremos por nódoas tão oleosas como Sua Excelência Excelentíssima ou o sr. Malaca Castel-Queijo (o enorme Eça escreveu que nódoas dessas só saíam com benzina, porém, na hodiernidade, com a gordura que existe, só queimando mesmo o pano) resta-nos falar sobre o Cozido à Portuguesa.

O Cozido à Portuguesa ,em dois restaurantes das minhas relações, é uma peça da Cultura Nacional que igualmente deveria entrar para o Património da UNESCO e para o Panteão Nacional ( porventura ao lado do sr. Barroso que, de tão inchado, lá deve dar entrada em breve ). Entretanto se estudará sob que forma material o Cozido à Portuguesa deve dar entrada no Panteão. De imediato, imediatamente, é urgente constituir uma Comissão de Sábios para estudar e fazer propostas sobre a matéria. Serão pagos em almoços.

Ora retornando aos dois restaurantes das minhas relações - pois a minha experiência deles é necessário levar em conta - neste último domingo foi o que se poderá avaliar.
Encomendei o Cozidinho Cinco Estrelas costumeiro. Transcorridos uns vinte minutos (o que para mim é um sinal benéfico de que a comida talvez não esteja toda feita há horas e apenas foi aquecida no micro-ondas) surgiu o primeiro prato de enchidos, donde era ausente, porém, o chóriço. Os atenciosos "camerieri", porque torna porque deixa, explicaram que naquela manhã o belo chóriço à portuguesa não se tinha apresentado ao serviço. Poderiam substitui-lo pelas farinheiras, chouriço mouro ou de sangue que me apetecesse.
Principiei a mirá-los de esquina. Apesar do meu apreço pelos outros enchidos e pela sua excelência " che non si trova" noutra culinária, "ne anche" na basca, "quella che piú si avicina", não há Cozido à Portuguesa digno do nome sem Chóriço à Portuguesa.
Pior: transcorridos mais dez minutos apareceu o feijão um tanto encruado e dez minutos de impaciência na peugada, surdiu o arroz espapaçado, a penca, a couve galega, os grelos, o nabo tudo igualmente espapaçado, malhado na eira.
A rapaziada "camerieri", gente simpática, tudo do Benfica, desculpas mil. Que o tinto era por conta da casa. Se quizesse cambiavam o Cozido pelo "Bife da Casa", tiro que acertava sempre na "mouche", com fatias de presunto de Chaves, pão torrado, dois ovos a cavalo, a escorrer molho de sangue e cerveja.
Comi o Cozido, encharquei-me em "dona ermalinda tinto", em "crf's", mas a magia estava extinta. Abandonei o restaurante 3 horas após. Não desisto de constituir um "lobbie" para a candidatura do Cozido à Portuguesa na UNESCO e para a sua entrada no Panteão Nacional. Uma vez não são vezes. E suspeito que isto poderá ser ardil do senhor BdeC. Aquilo é gente de peixes na grelha e vinho branco gelado.


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O Vosso Leopardo

a rebolar-se de gozo

nos ramos mais altos da floresta

"de menina e moça me levaram cedo da casa de inha mãe..."
     

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