Reflexões do Leopardo

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quarta-feira, 13 de abril de 2016

A dívida eterna e as duas profissões mais antigas da história humana

Há quem esteja convencido que este fenómeno das dívidas externas que não param de crescer e que escravizam milhões e milhões de seres em todo o planeta, concentrando a riqueza num clube hermético de ricos cada dia mais restrito, é uma invenção do capitalismo monopolista, na sua fase final de predomínio do capital financeiro, para assegurar a sua sobrevivência por mais algum tempo. Puro engano. Este recurso do capitalismo na sua fase comatosa não é outra coisa senão a actualização de um processo iniciado há milhares de anos pelos deuses, colocando toda a Humanidade na sua dependência. 

Que deuses? Os deuses de todas religiões. Shiva, Jeová, o Deus Cristão do Novo Testamento, as variedades cristãs anglicanas e eslavas, o Budismo (o Nada, Buraco Negro concentrado em si, absorvente, verdadeira pulsação íntima do Universo)  e a sua variante japonesa, o Zen, Manitu (o Grande Espírito, com a Mãe Terra e o Pai Céu) dos povos indígenas da América do Norte, emigrados da Sibéria.
E que postulavam todos os deuses? Que os homens eram filhos das divindades, decaídos na sua essência de seres, divindades para as quais deviam tentar retornar mediante ofertas diárias de códigos comportamentais, provas, sacrifícios (de animais ou até dos próprios filhos) , oferendas, tributos.
Ou seja, a dívida humana para com os deuses já vinha inscrita no ADN humano. Logo que nascia o ser humano já estava em dívida para com a divindade. Dívida que podia ser redimida mediante a consagração da sua vida à divindade - através da purificação pela água (por exemplo, do baptismo, segundo nascimento), pelo fogo, pelo verter de sangue, pela concentração mental, pelo silêncio, pela prática diária de preces e rituais, pelas ofertas, pelas ofertas, pelas ofertas, mas dívida que não era NUNCA anulada, nem mesmo diminuída, permanecendo, por assim dizendo, na estaca inicial de partida.
Veja-se o castigo que os deuses reservavam para os homens que se atreviam a desafiar o poder dos deuses: o mito de Prometeu (um homem amarrado a um rochedo, onde um abutre lhe rói incessantemente o fígado) ou de Sísifo (um homem que empurra por uma montanha acima um pesado rochedo, rochedo que, chegado ao topo, torna a rolar montanha abaixo, tudo se repetindo eternamente), homens que tinham ousado roubar a sabedoria aos deuses, ilustram de forma exemplar a terrível cólera dos deuses.   
Como sistema de dívida eterna, impagável ( só não usei este último termo no título porque poderia sugerir um sentido jocoso), é brilhante, jamais se concebeu algo melhor.

O capitalismo financeiro actual, fase derradeira do capitalismo, pois a riqueza já não corresponde a nenhuma matéria concreta - produtos agrícolas, artesanais, industriais, determinadas matérias-primas -, corresponde somente a um valor virtual, fictício apenas adaptou para as sociedades actuais - onde o poder das religiões manifesta quebras absolutas e percentuais enormes (duvido que Lenine continuasse a afirmar, hoje, que "a religião é o ópio do povo") - o equivalente à dívida eterna dos antigos deuses.

Esta recuperação da dívida eterna dos deuses  de outrora caminha a par com as ditas profissões mais velhas da Humanidade: a Espionagem e a Prostituição.
Os deuses sempre precisaram de espiões entre os Homens. Ou se disfarçavam eles próprios de nuvens ou de touros, desciam à Terra, concebiam filhos/as com os/as humanos/as a fim de estarem informados do que os Homens pensavam e se atentavam contra eles, divindades, ou conquistavam/compravam para os seus serviços humanos espiões. Aquiles, Páris, Ulisses, Judite, Sansão, Cleópatra (em nome de uma autonomia relativa do Egipto em relação ao Império Romano, foi amante de três candidatos a imperadores romanos), Cristo, Maomé são exemplos célebres destas alianças/conluios entre o Céu e a Terra.

Como muito bem se sabe a espionagem não se ficou pela Antiguidade e tem até proliferado nos tempos hodiernos, constituindo-se em organizações profissionais de eficácia muito propagandeada, nomeadamente na "inteligence" britânica - MI 5 - na Mossad 
 israelo/sionista, na CIA - muito falada por operações de tráfego de droga, armamento, formação, armamento e treino dos mujahedines, depois talibans, apoio ao Estado nazi na Ucrânia, agora o denominado "Exército Islâmico" e a guerra ao Estado sírio dos Assad, na Tcheka de Dzerjinsky, que deu origem ao KGB, dissolvido em 1991,  reformado em duas agências, uma para o exterior, outra para o interior da Federação Russa.

É difícil traçar a fronteira entre a espionagem e a prostituição dado que com frequência a primeira se serviu da segunda para obter informações ou mesmo para liquidar fisicamente adversários considerados importantes. Na Antiguidade, Aristóteles foi acusado de servir Alexandre, o Grande. Serviu de tema a filmes o caso de Dalila e Sansão. Menos conhecido será que o grande filósofo francês René Descartes foi pressionado com insistência pela rainha Cristina da Suécia que queria ter aquele macaco sábio na sua corte - Descartes é considerado o fundador da filosofia moderna e foi o criador da trigonometria, isto é, da definição dos corpos geométricos sólidos através de uma combinação da álgebra e da geometria -, cuja rainha Cristina da Suécia impôs um verdadeiro ultimato ao rei francês (a quem a França devia dinheiros) para ter o filósofo na sua Corte (enviou mesmo uma esquadra para buscar Descartes). O que foi a causa da morte prematura de Descartes (com 54 anos), pois, não estando habituado a levantar-se às 5 da manhã (para conversar com a rainha) e ao rigoroso clima sueco, um ano depois morreu (1650).

Casanova, mistura de aventureiro com eventuais episódios de espionagem, "galante uomo" e investigador "sui generis", acabou prisioneiro de um príncipe - Federico Fellini realizou um belíssimo filme sobre o polifacetado Casanova.
Goethe, outro caso de génio multifacetado - filósofo, sábio, poeta, escritor, ilustrador das suas obras - exerceu espionagem de sua livre vontade inspirado em princípios iluministas heterodoxos. 
No século XX, a figura da Mata Hari, numa esteira não longe do real, é uma bandeira muito desfraldada. O actor Errol Flinn, além de uma actividade triunfante como espadachim e aventureiro nos écrans, terá sido um espião duplo, "double-cross agent" a fornecer informações à Alemanha hitleriana e a Franklin D. Roosevelt, através da mulher de Roosevelt, da qual terá sido amante.

Sobre o século XXI e em assuntos de tantos mistérios e traficâncias, apesar dos inúmeros casos badalados, será prudente deixar a poeira poisar.
Olhem, eu, pelo sim pelo sim, vou pespegar uns óculos bem escuros em cima da minha pele de Leopardo. Ficarei irreconhecível... acompanhado de uma loira.


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Amplexos amistosos de um precavido

Leopardo  
       
   


       

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