Wilhelm Richard Wagner nasceu em Leipzig (cidade com grandes tradições na cultura germânica), a 22 de Maio.1813, morreu em Veneza, a 13 de Fevereiro1883 (com 70 anos) de um súbito ataque de coração.
Filho de um polícia e de uma mãe cujo pai era padeiro, Wagner de facto não conheceu o pai biológico, pois ele faleceu quando o bébé tinha 6 meses. A mãe casou-se com um dramaturgo e actor ( que Wagner terá imaginado durante muitos anos ser o seu pai biológico ) e a família mudou-se para Dresden ( outra das cidades alemãs com uma herança cultural de relevo e, tal como Leipzig, arrasada pela aviação inglesa durante a 2ª guerra mundial). Duas irmãs de Wagner eram actrizes e uma delas também cantora de Ópera.
Desde cedo Wagner revela talentos acima do vulgar. Aos 13 anos traduz doze volumes da Odisseia a partir do grego antigo. Em 1827, com 14 anos, ouve música de Ludwig van Beethoven, pela qual se apaixona, em especial pela 7ª Sinfonia, e em 1929 (com 16 anos) ao ouvir a Ópera de Beethoven, ficou fascinado e obsecado pela "soprano drammatica" Wilhelmine Schröder-Devriant, escrevendo-lhe uma carta.
Como se sabe, Beethoven só compôs a Ópera "Fidelio" - à qual tencionava dar o nome de "Leonora", título do qual desistiu para não expor a pessoa que amava. Aliás, Beethoven não voltou a escrever Óperas por se achar sem talento para tal.
Provavelmente Beethoven tinha razão. Não será por acaso que o conhecemos pelas suas Sinfonias - deixou igualmente uma "Missa Funebris" notável. Porém, cá o simplérrimo Leopardo, que gosta bastante do "Fidelio" , lamenta que o Mestre não tenha feito mais nenhuma incursão no mundo da Ópera lírica ... podia ser que ganhasse balanço e coragem... Mas quem sou eu para me pôr a discutir ( e fora dos tempos, num diálogo além-túmulo ) com o Grande Mestre ??! Tal está o atrevimento!.. Ou será apenas mais um elogio disfarçado...
Apadrinhado por Giacomo Meyerbeer - que dominava os meios musicais nos territórios alemães - Wagner consegue o lugar de regente de orquestra em Magdeburgo (em 1834; tem 21 anos; o cargo é bem remunerado e, em princípio, estável). Wagner dirige o "Don Giovanni" de Mozart e arrebata o público. O mesmo acontecendo com as 7ª e 9º Sinfonias de Beethoven (a 9ª Sinfonia era considerada uma obra superior, impossível de ser dirigida, posta à margem; é Wagner o responsável por a pôr de novo em destaque).
Wagner dirige com grande rigor e entusiasmo, transmitindo esse fogo artístico à orquestra e ao público. As características de grande regente de orquestra mantê-las-à pela vida fora e é uma das razões porque não confia as suas próprias obras a outros maestros.
O seu método de trabalho quando compunha não variava: fazia primeiro o libreto em prosa, depois passava-o a versos (não sentia em si alma poética de escritor) e, por fim, deixava escorrer a partitura. Afirmam os especialistas que Wagner usava texturas musicais complexas, de harmonias ricas, com grandes recursos orquestrais, e lançava mão com frequência de "leitemotiv's", isto é, empregava temas musicais motores, associados a caracteres individuais, lugares e ideias.
Escrevi atrás que o cargo de Wagner em princípio, era estável, não fora uma série de características que também sempre acompanharam o genial músico pela vida fora: o vício do jogo (onde perdia somas exorbitantes), o feitio esbanjador em festas que organizava, a paixão por roupas, perfumes, carruagens, palacetes onde se hospedava, tudo muito acima dos seus rendimentos. O que determinou que passasse a vida a saltar de uma cidade para outra, de um país para outro, de um cargo para outro a fim de fugir aos credores e não ser preso. Em Paris chegaram a caçar-lhe o passaporte num hotel para o poderem prender por dívidas quando tentasse atravessar a fronteira.
A sua vida amorosa - ou, deverei dizer, experiências eroticó-afectivas? - correspondeu à extravagante vida do músico (extraordinário seria se assim não tivesse sido).
Em 1836 casou com Christine Wilhelmine "Minna"Planer, actriz modesta, e a ligação revelou-se infeliz, espaçada por separações derivadas dos compromissos profissionais, ameaçada por intentos de divórcio ora de um lado ora do outro. Em todo o caso durou até 1860, altura em que "Minna" obtém a prova irrefutável da ligação entre Wagner e Mathilde Wesendonk, esposa de Otto Wesendonk, um rico empresário, que consentia na relação da mulher com o Maestro e financiava Wagner a fundo perdido. Porém, "Minna" tinha outra opinião. Armou uma escandaleira de berros e esfregou, no sentido literal do termo, a prova - uma carta - na cara dos Wesendonk. O divórcio dos Wagner tornou-se inevitável. Separaram-se definitivamente. Richard vai sozinho para Veneza e depois para Zurique. Além da traição eroticó-afectiva, "Minna" nunca perdoara ao marido a sua intromissão muito activa na vida política, que ocasionara a sua expulsão de Dresden, cidade de "Minna" e do seu sonho de uma vida financeira estável.
Efectivamente ("e sem moralizar"), após apanhar a febre tifóide em Riga (Polónia), ser preso em Paris, sempre perseguido pelos credores, Wagner, apadrinhado por Giacomo Meyerbeer, tinha conseguido (1841) ser nomeado Kappellmeister em Dresden, isto é, director artístico e regente do teatro da cidade. O cargo era bem pago e vitalício.
Ora, Wagner empossado no prestigioso e bem remunerado cargo de Kappellmeister, sob a influência dos ventos e tempestades, de sentidos desencontrados, desencadeados pela grande Revolução Francesa, sob a influência da sua amizade pessoal com o anarquista russo Mikhail Bakunin, vai-se progressivamente aproximando de ideais revolucionários, publicando, sob anonimato, poemas e artigos revolucionários, mas escritos que todos reconhecem como provindos da sua pena. Para evidenciar ainda mais este empenhamento político, quando Wagner regia a 9ª Sinfonia (1.Abril.1849), Bakunin levantou-se no meio da plateia, apertou a mão de Wagner e afirmou alto e bom som que se toda a música desaparecesse numa guerra mundial, a 9ª Sinfonia devia ser salva.
O envolvimento revolucionário subiu ao ponto de Wagner emergir como um dos líderes - juntamente com Bakunin e outras personalidades anarquistas - da revolta armada da cidade de Dresden. A Revolta foi esmagada a canhonaços pelas tropas prussianas . Bakunine e os outros líderes anarquistas fugiram, abandonaram a população à violência, aos roubos, às sevícias da soldadesca prussiana , porém Wagner (honra lhe seja feita), pôs "Minna" a salvo noutra cidade, e retornou a Dresden, resistindo com a sua população até ao fim.
Os prussianos vencedores, condenaram os líderes da Revolta à morte (se e quando fossem apanhados). O nome de Wagner estava incluído nos cabecilhas condenados à morte. Condenação que, posteriormente, Bismark comutou para prisão perpétua.
Nos entretantos, Wagner ia compondo "Der fliegend Holländer" - cujo nome passou a "Le Vaisseeau Fantôme" para retornar ao "Holandês Voador" germânico, conforme Wagner espreitava oportunidade de a obra ser tocada em França ou na Alemanha. Eu, ouvi-a garoto, nos idos de 1952, no ginásio do Liceu Camões, sob o nome d' "O Navio Fantasma" e sob a batuta do maestro que apodavamos de Pedro de Freitas Amarelo para que não fosse confundido com o prestigiado pedagogo musical e democrata Pedro de Freitas Branco.
Compunha Wagner a "Tannhäuser" (grande ópera em 3 actos, elaborada e reelaborada entre 42-45 e 61) - que Napoleão III o convidava a montar em Paris - , dava à luz "Lohengrin" (45-48, ópera romântica em 3 actos), redigia partes do "Anel dos Nibelungos" ( "Der Ring der Nibelungen", tetralogia composta de "O Ouro do Reno", "A Valquíria", "Siegfried" e "Crepúsculo dos Deuses", de 48 a 74) , "Os Mestres Cantores de Nurembergue" (ópera em 3 actos, redigida entre 45 e 67), que ficará como um marco pela introdução da mitologia germânica em prejuízo da mitologia greco-romana e pelo assentar de arraiais na língua alemã , acabava "Tristão e Isolda" (ópera em 3 actos, composta entre 57 e 59).
Em 1860 Wagner foi amnistiado e voltou à Alemanha. Travou conhecimento com Luís II, rei da Baviera , o qual obviamente se encantou com a música de Wagner e com o músico, construindo-lhe uma faustosa residência dentro das suas propriedades reais, na Floresta Negra, Villa Pellet, concedendo-lhe uma pensão suficiente para Wagner viver luxuosamente (porém, já sabemos que nunca haveria dinheiro bastante para satisfazer o egocentrismo e o narcisismo de Wagner).
Luís II era assumidamente homossexual e o grande realizadocinemar tográfico e encenador teatral do século XX, amante de Ópera, Luchino Visconti (autor de filmes-arquétipo como "La Terra Trema", "Senso", "O Leopardo", "Morte em Veneza") afirmou que as relações entre Luís II e Wagner não se limitaram a uma admiração platónica do rei pelo músico, tendo-se consumado numa relação sexual concreta, a qual não seria alheia ao posterior enlouquecimento do rei e ao seu afogamento numa lagoa da Villa Pellet.
Tenha acontecido o que tenha acontecido, a vida de Richard Wagner foi uma montanha russa a girar a velocidades de bólides fórmula 1, Le Mans.
Em 1864, Hans von Büllow com a esposa Cosima (filha do grande compositor e pianista Franz Liszt) chegam à Villa Pellet e os serões conhecem uma animação nova com o convívio e as conversas animadas entre Wagner e os von Büllow. A filha de Liszt toca igualmente piano e é uma mulher com uma cultura musical, artística, intelectual superior, possui ideias avançadas. Sensivelmente um ano depois Cosima está grávida de Wagner. Os von Büllow acabam por se divorciar e Cosima casa com Wagner em 1870. Tiveram três filhos: Isolde, Eva e Siegfried (nomes que vêm a aparecer nas personagens das óperas do Mestre). Cosima ia tendo conhecimento e tolerava as inúmeras relações extra-conjugais do marido. Já agora vale a pena deixar dito que Liszt nunca aprovou o casamento da filha, embora fosse assistindo aos espectáculos do genro.
Em 1866, Bismark - qe será cognominado de "Chanceler de Ferro - unificará a Alemanha sob a sua égide e vai permitir, habilmente, que Luís II continue rei da Baviera.
Nessa altura, Luís II propôs a Wagner abandonar o reino e ir viver com ele. Wagner dissuade-o, fala-lhe nas responsabilidades de um rei para com o seu povo, sublinha-lhe que se o fizesse não poderia continuar a sustentá-lo a ele, Wagner, com a generosa tença anual, e consegue que Luís II lhe ofereça a pequena cidade de Bayreuth, no centro da Baviera e no centro da Alemanha , para a realização de um Festival , que deveio o famoso Festival de Bayreuth para onde convergem anualmente wagnerianos de todo o mundo (a cidade há décadas que vive desse turismo melómano).
Entre 1865 e 1882, Wagner compõe a ópera "Parsifal", definida como um "festival cénico sagrado", na qual muitos wagnerianos vêem a cúpula do seu magistério.
Em 1868, trava amizade com o filósofo (e filólogo, crítico cultural, poeta, compositor) Friedrich Nietzsche, amizade que finda por decepcionar ambos.
A 13 de Agosto.1876, Wagner dá inicio finalmente ao primeiro Festival de Bayreuth. Afluíram personalidades de todo o mundo: o imperador da Alemanha, o imperador do Brasil (D.Pedro II), Nietzsche, Franz Liszt, Anton Brukner, Piotr Ilitch Tchaikovsky.
A partir de 1882, Wagner começou a ter problemas cardíacos e a viajar para Itália
sempre que podia. Detestava o clima quase sempre chuvoso de Bayreuth e preferia as belas cidades ensolaradas italianas e as suas magníficas "piazze". A 13 de Fevereiro.1883, em Veneza , Wagner morreu subitamente de um ataque cardíaco.
O funeral foi em Bayreuth e, de acordo com as instruções expressas do compositor, a pedra tumular é rasa, não contem qualquer inscrição, pois o Mestre deixara dito que não era preciso, todos os visitantes saberiam quem era exactamente que repousava por baixo (sic!)...
O Festival de Bayreuth , por vezes, é associado indevidamente ao Nazismo . Após a morte de Wagner, o Festival passou a ser dirigido pela viúva Cosima e quando ela delegou o cargo, em 1906, pelo filho Siegfried . Foi a viúva do filho, militante nazi , que entregou o Festival às garras dos hitlerianos , de tal forma que só após o fim da 2ª guerra mundial e o julgamento de Nuremberga o Festival foi limpo dessa tremenda mancha.
Wagner terá composto ao todo 113 obras (a última em 1880, o "lied" "Ihr kinder, geschwinde, geschwinde") - óperas líricas, "lieds", música de câmera, sinfonias, músicas religiosas ou fúnebres, escrito libretos e ensaios teóricos sobre ópera lírica - estando eu, vulgar leopardo, de acordo com a sua concepção de que a "i drami per musica" são um espectáculo global, em que todos os artistas nela intervenientes se devem subordinar à concepção do compositor (e não improvisarem a seu talante, enquanto lhes batessem palmas, como era usual os "divos" e as "divas" fazerem patrásmente) a questão naturalmente que se coloca é porque carga de água prefiro eu, atrevido leopardo, Verdi a Wagner. Verdi não terá produzido em tal quantidade, não redigiu libretos, não definiu teoria com tal precisão e concisão. Mas antes de Wagner, Verdi subordinou a Ópera aos mesmos princípios, com o mesmo rigor, com uma precisão de notas práticas explicativas de oceano, sem lhe retirar a alegria, a leveza e a subtileza saltitante, a convivialidade. Verdi que produziu "o coro dos escravos" da Ópera "Nabucco" que chegou a ser cantado como o hino italiano contra o opressor austríaco.
A minha resposta, com toda a carga de subjectividade que assumo, dei-a parcialmente no início. Mais acrescento: sinto sempre em Wagner um sinfonista que se enganou e compôs Óperas; as suas árias são longos monólogos sinfónicos em que se perde a controvérsia própria dos diálogos operísticos; depois sempre em dodecassílabos (como se estivesse sempre na peugada de Leopardi, Petrarca, o Dante da "Divina Comédia" ou o Camões dos "Lusíadas"); nunca saímos dos cenários pesados, de escadarias intermináveis de palácios reais; ósdepois aquela maldita mitologia germânica com as espadas e os machados sempre a baterem nos escudos !; "and last but not the least", as tonitruâncias e as asperesas daquele linguajar bárbaro que é o "tedesco".
Existem belíssimas páginas de música nas Óperas de Wagner ? Existem sim senhora... pena que não tenham sido canalizadas, para sinfonias, música litúrgica, "lieds".
Mas é a diferença entre ser enterrado sob uma lage sem qualquer inscrição no campo sagrado de Baireuth , e ser enterrado num pequeno cemitério perto de Sant'Agata, onde tinha a casa em que viveu até morrer.

Lastimo, porém hoje já não estou em condições de meter as mãos na Merda
Amplexos confiantes e "pulite" do
Leopardo