Neste blog vou fazer várias comparações que, em rigor, não deveria realizar, pois estou a comparar géneros diferentes e, portanto, as "comparações" visam apenas suscitar interrogações, questionamentos, na melhor das hipóteses abrir caminhos. Não aspiram a mais que uma modesta contribuição.
A primeira comparação é entre dois filmes, o "Amor é Lindo... Porque Sim!" e "O Novíssimo Testamento".
Do "Amor é Lindo..." já falei na reflexão anterior e não vou repetir especulações, tão só recordar o que, em minha opinião, me parece central: é uma comédia a traço grosso que caricatura alguns grupos sociais e algumas personalidades-tipo; é uma comédia bem dirigida e bem interpretada por actores consagrados e por jovens actores recém formados. Resolve com inteligência, criatividade, plausibilidade, situações onde não era fácil encontrar uma saída. Embora, sempre a traço grosso. Sorri-me ou ri-me com força frequentemente.
O filme "O Novíssimo Testamento" traduzido em português por "Deus existe e mora em Bruxelas" é uma co-produção belgó-francesa, vem nomeado para o Globo de Ouro do melhor filme estrangeiro e já venceu um prémio não consegui perceber em que certame.
Vem definido como uma comédia (só pode ser negra, negríssima, pela violência da visão que carrega sobre as relações familiares e a União Europeia), realizado por Jaco van Dormael, aureolado com muitas estrelinhas pelos críticos de serviço, com a chancela de Benoît Poelvoorde, actor de méritos consagrados na Bélgica.
Parte da ideia simples e simplista, bastas vezes antes usada, de que, se cada ser humano conhecesse antecipadamente a data da sua morte (exacta ao ano, dia, hora, minuto, segundo), destrambelharia completamente, manifestando variações pessoais desde a total abulia à mais frenética agitação, passando pela concentração de monge budista ou a expectativa esperançada.
Coloca a ideia fina de centrar a Sagrada Família, numa família belga, a residir em Bruxelas (apenas por acaso o polo de comando institucional da UE), na qual o Pai - tirano - exerce o seu poder sobre a Mãe - que nunca é chamada aos berros pelo nome; escrava doméstica dos cozinhados e das limpezas - e sobre a Filha (Ea, clara transposição do nome de Eva), único ser que o enfrenta, que leva cargas de cinturão, que ousa entrar no seu enorme escritório, forrado de cacifos com dossiêr's de todos os humanos do planeta, unicamente iluminado por um candeeiro de secretária, ao lado de um computador onde se diverte a inventar torturas para cada um dos homens e mulheres do planeta. Existe ainda um Filho - JC , que morreu e ressuscitou clandestinamente como boneco de louça - , o qual Filho apenas assume vida quando fala com Ea.
Parece interessante não é? Mas uma ideia filosófica não é suficiente para preencher um filme. É necessário narrá-la num enredo com um certo nexo. E "Deus existe e mora em Bruxelas" é uma fita que corre à desfilada para o seu termo, tornando-se tão previsível que os seus 104 minutos de duração semelham eternos. Pode-se perfeitamente fechar o olho aqui e ali que compreendemos tudo na mesma uns minutos adiante.
Não se safam alguns centímetros de película divertidos? Safam. Por exemplo, quando Catherine Deneuve, no ocaso da vida, dorme nos braços do seu amante, um potente Gorila, e o Gorila afugenta o marido espavorido, que chegou inesperadamente a casa. Ou, como quando o Amor desponta entre um homem-menino, traumatizado desde a infância, "voyeur" compulsivo, e a jovem idealizada, desejada e reencontrada na idade adulta.
Além disso, os pobres dos actores e actrizes bóiam na interpretação de personagens pouco consistentes, por vezes reduzidos a um único traço caracterial.
E, depois, não é que este "Deus existe e mora em Bruxelas", comédia negra violenta e virulenta, que só poderia ter uma conclusão tão corrosiva como a sua ideia de nascença, fabrica um "happy end" para todos os personagens... excepto o Criador?!!... Pela Santa, não há pachorra qu'aguente!
Últimas comparações vagamente associáveis. Morreu o actor Nicolau Breyner. É inegável que foi um bom actor de teatro, cinema, telenovelas. Tudo bem, até aqui nada a dizer, excepto apresentar as condolências à família.
Porém, as pessoas não enxergam - as gentes da área do Espectáculo, os actores e encenadores de Esquerda -, não percebem que o enorme circo montado em volta da sua morte é uma encenação de "Grand Guignol" da Extrema-Direita portuguesa?!... Há muito anos que não tinham uma oportunidade destas. Desde a morte de Sá Carneiro.
É verdade que Breyner foi muito melhor actor que o político sofrível Carneiro (que encarnou as exigências da Direita contra o Processo Revolucionário em Curso - PREC.) Breyner representava bem? Fazia o que sabia para poder ter um suculento bife no prato. Como cidadão e ser humano foi o candidato do CDS-PP à presidência da Câmara de Serpa (no coração alentejano), onde venceu e onde nunca pôs os pés nem sequer para apresentar desculpas e explicar as razões porque o fizera. Basta como exemplo do seu desprezo pelo Zé Povinho??... Poderia acrescentar outros exemplos, narrados pelo próprio na TV com a desenvoltura de quem há muito pôs a consciência de molho ( porém o luto, da parte dele, e o nojo, da minha parte são recentes).
Mas, este desenvolto desprezo pelo Zé Povinho, pela arraia-miúda, justificam estas ondas de louvaminhas a sugerir Panteão??... Pela Santa...
Nestes tempos de Cólera,
Amplexos amistosos do
Leopardo
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