Neste dia de luto e de luta em que o processo de democratização no Brasil, liderado por Lula da Silva e Dilma Rousseff, apoiado no PT , na CUT (Central Única dos Trabalhadores), no Movimento dos Camponeses Sem Terra, em milhões de trabalhadores em todas as regiões que constituem a Federação de Estados brasileira , em comunidades de índios nativos, sofreu um revés significativo, é importante salientar várias coisas:
- que o processo democrático iniciado por Lula e Dilma - que sacou o Povo Brasileiro a uma ditadura de 40 e tal anos, conhecida por "ditadura dos coronéis", caricaturada numa telenovela pelo "Sinhozinho Malta" (actor Duarte Lima) - realizou melhorias de tomo em áreas como as da Habitação (entregando dezenas de milhares de apartamentos a famílias que, até aí, só tinham morado em favelas), do Ensino (alfabetizando e escolarizando milhares e milhares de crianças e adultos), da Saúde (melhorando e ampliando o precário sistema de saúde pública existente), do Emprego (criando milhares de novos empregos e elevando os salários);
- que Lula, em conjunto com Fidel Castro, foi um dos fundadores do Foro de São Paulo, que congrega parte dos movimentos políticos de Esquerda da América Latina e do Caribe; Foro de São Paulo que tem constituído desde a sua fundação (1990) um importante pólo de contra-poder ao domínio imperial de Washington, subtraindo parcialmente a América Latina ao "quintal das traseiras" da Casa Branca e somando apoios de peso a processos de soberania, desenvolvimento, democratização em países como Cuba, Venezuela (e o seu carismático líder Hugo Chávez, falecido em 2013), Nicarágua (herdeira da Revolução Sandinista Nicaraguense, guiada pela Frente Sandinista de Libertação Nacional, FSLN, assumida por Daniel Ortega em 1985, Ortega actual Presidente da República), Colômbia (processo de democratização complexo, conduzido fundamentalmente pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC, - que já libertaram sensivelmente metade do território - negociadas com o Governo reaccionário no poder de Santos, complicadas com o Exército de Libertação Nacional, ELN, que se propõe igualmente uma sociedade libertada, porém através de acções de cunho predominantemente terrorista.
Toda esta actividade revolucionária, nacionalista, libertária, tendencialmente socialista/comunista, assente em primeiro lugar no justo prestígio interno e internacional da Revolução Cubana - dos seus já lendários irmãos Castro, de Che Guevara, - mas também nas lutas de emancipação da monarquia espanhola da América Latina (Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, Colômbia) sob a égide de personalidades como Simón Bolívar (general e político que, de 1819 a 1830, veio a ser presidente de uma vasta área geográfica que denominou de Grã-Colômbia) e Augusto César Sandino, que enfrentou o poderio militar ianque até ser assassinado (1934), cintilando na memória dos povos latino-americanos como um herói da resistência às invasões e ingerências externas.
Ora, tudo isto era desnecessário estar-lhes aqui um Leopardo a teclar (com as dificuldades inerentes às patas e às garras) se os meus Amigos tivessem ido à inauguração da sede da Associação de Amizade com Cuba, em Almada (a 20 metros da sede principal da Câmara de Almada), onde a Senhora Embaixador de Cuba em Portugal (sediada em Lisboa, a Belém), Johana Tablada de la Torre explanou, numa magnífica exposição, o que acabei de parlapatar, elevando-se a níveis que a minha modesta condição animal me não permite aspirar nem alcançar.
No que concerne à Ilha da Liberdade (a duzentas e poucas milhas da norte-americana Florida) a Embassador Johana Tablada trocou por miúdos que o propagandeado - por Obama - "desbloqueio" só existe em palavras e formalmente, pois toda a legislação imprescindível para que ele se concretize está por acordar. Ainda por outras palavras, o "desbloqueio" mesmo depois de aprovado pelas duas Câmaras dos EUA ( a dos deputados e a dos senadores) precisa de de ser assinada pelo Presidente dos EUA (dado que a Constituição norte-americana é presidencialista) e Barak Obama não o faz. Washington pretende vergar Cuba, vergá-la a conceder vantagens unilaterais aos "States", porém o Governo Cubano e 10 milhões e meio de cubanos não abdicam da sua dignidade nem da sua soberania.
O Estado Cubano considera positivo o estabelecimento de relações urbanas com a Casa Branca, não deseja um retorno ao clima de "guerra fria", pretende a continuação de uma atmosfera pacífica de negociações, julga a presente situação um pequeno passo em frente numa via melhor, mas não confunde isto com "desbloqueio" nem desiste de exigir a devolução da base de Guantánamo (ocupada à força pelas tropas ianques) e dos presos lá encerrados há anos e anos.
Estas e outras interessantíssimas matérias a Embassador Johana Tablada de la Torre esmiuçou paciente, perseverante e veementemente, numa mescla de cubano e português, que manteve suspensos num encanto a centena de pessoas que assistiu à sessão no átrio da Academia Almadense ( calcula cá o Leopardo com a sua estreita cabeça animal,uma das maiores assistências que a Associação de Amizade já conseguiu reunir).
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O que eu pessoalmente estranhei foi que o Teatro Municipal Joaquim Benite, TMJB, que tanto tem apoiado iniciativas destas ou com elas convergentes, não tenha destacado nenhum dos seus representantes para estar presente na cerimónia de esclarecimento e de luta onde nem sequer faltou um entusiástico coro feminino e um grupo de músicos onde dominavam as guitarras, as violas, um cavaquinho e uma caixa.
A razão da não-representação do TMJB estará ligada ao mesmo preconceito que num opúsculo, editado pelo Teatro, em que fornecem linhas de abordagem do "Frei Luís de Sousa" citem textos de António José Saraiva e de A.H.Oliveira Marques autores sem dúvida com préstimo, mas não refiram o grande historiador e ensaísta da literatura portuguesa Óscar Lopes ?, autor maior, com o qual, aliás, A.J.Saraiva trabalhou e do qual terá recebido grande parte do material usado e liderança na "História da Literatura Portuguesa"que assinaram em conjunto.
Todavia, voltarei a este preconceito ou à minha incompreensão da sua razão de ser numa segunda parte deste blogue (e ainda não esgotei, ainda me estão atravessadas no bestunto, na garganta, nas garras, umas quantas reflexões sobre o nefando "impeachment"- até a expressão é cowboy...), visto que o julgo significativo. Por agora, já me doem as patas. Sou apenas um Leopardo.
Amplexos amistosos
de tempos de cólera
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