Sim, fui ver o filme "Aquarius" com a Sónia Braga no principal personagem. Eu poderia arrumar, curto e grosso, este comentário teclando: é a Sónia B encerrada, às voltas, no aquário do seu narcisismo.
Contudo, a memória do extraordinário "Gabriela, Cravo e Canela" (exibido como folhetim na RTP em 1975) merece um pouco mais de respeito.
"Aquarius" é uma película da diva Sónia B, à qual nem sequer pode ser aposta a desculpa de que a realização não é dela, porque o realizador declarou numa entrevista que a diva interferiu em cada fotograma e na sua montagem.
Escrevi em cima que a Sónia é o principal personagem, mas deveria ter redigido que é quase o único personagem, pois em cada 10 fotogramas, ela está presente em 9 ! Temos a desdita de observar a Sónia B a enrolar e desenrolar o cabelo, a maquilhar-se, a tomar banho, a dormitar, a exibir uma das mamas até à exaustão (será que, obsequiosos e subservientes, nunca ninguém lhe fez o favor de explicar que ela já não é o "sex simbol" de há 42 anos atrás?).
É uma obra recheada de boas intenções e de uma miscelânea de confusões: pretende denunciar como as grandes empresas do imobiliário esmagam os pequenos proprietários de um apartamento (mesmo que ele pertença à média alta burguesia e seja uma notável nos meios de comunicação) e acrescenta-lhe umas pitadas de feminismo e de "liberação" da mulher, que Sónia B confunde com o machismo típico de muitos homens ( a capacidade económica de comprar sexo a um prostituto masculino ou comentar os homens em torno como se fossem peças de carne dependuradas no talho ).
Na luta entre a notável dos meios de comunicação social - a televisão brasileira - e o Grande Capital Imobiliário, Sónia B encena-se como o São Galaaz a combater o Dragão: sozinha, queixo erguido virado para a direita, dedo indicador esticado, impositivo, ameaçador. Termina o filme à modernaça com um final aberto (à nossa imaginação, aos nossos desejos, aos nossos preconceitos).
Eu encerro este comentário teclando que a memória da "Gabriela, Cravo e Canela" merecia bem melhor.
O BE, isto é, as forças de Bloqueio à Esquerda, vieram nestes últimos dias vangloriar-se de que vão retirar a maioria ao PCP no concelho de Almada com a candidatura de Mariana Mortágua (parece de facto o primeiro imperativo que se apresenta a uma força que se diz de Esquerda subtrair força a um Partido de Esquerda, e não atacar a Direita...). É igualmente curioso que o BE distribua as missões mais caricatas à carinha laroca Mortágua... Devem considerar que a rapariga tem jeito para entremezes.
Depois de andarem a lutar pela legalização das "trabalhadoras do sexo", ou seja pelo comércio legal da prostituição e dos proxenetas, nada assentava melhor ao Bloqueio à Esquerda. É que os enormes "out-doors" que prantam por todo o País custam muito guito. Os favores dos "mírdia" também não são à borla. Com alguma coisa é preciso pagá-los... que se queimem os princípios...
No final desta edição, responder-lhes-ei com versos do gigantesco Neruda.
Para que esta edição do blogue não termine em desgraça, deixo aqui a notícia de que Ivan Lins vem cantar a Lisboa no dia 18 de Maio.2017. Cantará em conjunto com Paulo de Carvalho (sim, o que cantando, deu o sinal para a libertação do 25 de Abril). Confesso que não tenho presente a obra musical de Ivan Lins, todavia tenho fortemente a favor dele que faz parte das primeiras 750 personalidades de primeiro plano que, no Brasil, recusaram o Açordês/90, assinado pelo lado português pelo sr. Malaca Cauteleiro ou Malaca-Castel-Queijo ou outra infrascendência semelhante.
E nestes tempos de trampas e de re-leitura da História, vamos então às pérolas do gigantesco Neruda:
- sobre a prostituição: "Uma vez, na Bahia, as mulheres/do bairro dolorido,/do antigo mercado de escravos/(onde hoje a nova escravidão, a fome,/os trapos, a condição dolente,/vivem como dantes na mesma terra),/ofereceram-me flores e uma carta,/ algumas palavras ternas e flores./Não posso afastar a minha voz de quanto sofre."
"Da prosperidade nasceu o bordel,/que acompanhou o estandarte/das notas amontoadas:/sentina respeitada/do capital, porão do navio/do meu tempo./Houve bordéis/mecanizados nos cabelos/ de Buenos Aires, carne fresca/ exportada pelo infortúnio/ das cidades e dos campos/distantes, onde o dinheiro/espiou os passos do cântaro/ e aprisionou a trepadeira./Lenocinios rurais nas noites,/de inverno, com os cavalos/ à porta das aldeias/ e as raparigas aturdidas/que caíram de venda em venda/nas mãos dos magnates."
- ao Brasil e a Luís Carlos Prestes: "Por isso vejo Prestes caminhando/para a liberdade, para as portas/ que em ti, Brasil, parecem fechadas,/cravadas na dor, impenetráveis./Vejo Prestes, a sua coluna vencendo/a fome, atravessando a selva,/em direcção à Bolívia, perseguida/pelo tirano de olhos pálidos./Quando volta à sua terra e toca/o seu campanário combatente,/encarceram-no e entregam/a sua companheira ao pardo verdugo/da Alemanha."
- "Durante onze anos o seu nome foi silenciado./Mas viveu como uma árvore/no meio de todo o seu povo,/venerado e esperado./Até que a Liberdade/foi buscá-lo à prisão/e saiu de novo para a luz,/amado, vitorioso e cheio de bondade,/despojado de todo o ódio/que lançaram sobre a sua cabeça."
- à União Soviética e a Stalin: "Em três aposentos do velho Kremlin/vive um homem chamado José Stalin./Tarde se apaga a luz do seu quarto./O mundo e a sua pátria não lhe dão descanso./outros heróis deram à luz uma pátria,/ele ajudou também a conceber a sua,/a edificá-la,/a defendê-la./A sua imensa pátria é, pois, parte de si mesmo/e não pode descansar, porque ela não descansa."
Como mui bem percebem, o meu desejo era vazar-lhes nos toutiços o "Canto Geral", mas a mais elementar sensibilidade me sussurra que devagar se chega longe...
Bamos então aos bonecos.
Saudações confiantes na luta colectiva, organizada, debatida
o Leopardo
E nestes tempos de trampas e de re-leitura da História, vamos então às pérolas do gigantesco Neruda:
- sobre a prostituição: "Uma vez, na Bahia, as mulheres/do bairro dolorido,/do antigo mercado de escravos/(onde hoje a nova escravidão, a fome,/os trapos, a condição dolente,/vivem como dantes na mesma terra),/ofereceram-me flores e uma carta,/ algumas palavras ternas e flores./Não posso afastar a minha voz de quanto sofre."
"Da prosperidade nasceu o bordel,/que acompanhou o estandarte/das notas amontoadas:/sentina respeitada/do capital, porão do navio/do meu tempo./Houve bordéis/mecanizados nos cabelos/ de Buenos Aires, carne fresca/ exportada pelo infortúnio/ das cidades e dos campos/distantes, onde o dinheiro/espiou os passos do cântaro/ e aprisionou a trepadeira./Lenocinios rurais nas noites,/de inverno, com os cavalos/ à porta das aldeias/ e as raparigas aturdidas/que caíram de venda em venda/nas mãos dos magnates."
- ao Brasil e a Luís Carlos Prestes: "Por isso vejo Prestes caminhando/para a liberdade, para as portas/ que em ti, Brasil, parecem fechadas,/cravadas na dor, impenetráveis./Vejo Prestes, a sua coluna vencendo/a fome, atravessando a selva,/em direcção à Bolívia, perseguida/pelo tirano de olhos pálidos./Quando volta à sua terra e toca/o seu campanário combatente,/encarceram-no e entregam/a sua companheira ao pardo verdugo/da Alemanha."
- "Durante onze anos o seu nome foi silenciado./Mas viveu como uma árvore/no meio de todo o seu povo,/venerado e esperado./Até que a Liberdade/foi buscá-lo à prisão/e saiu de novo para a luz,/amado, vitorioso e cheio de bondade,/despojado de todo o ódio/que lançaram sobre a sua cabeça."
- à União Soviética e a Stalin: "Em três aposentos do velho Kremlin/vive um homem chamado José Stalin./Tarde se apaga a luz do seu quarto./O mundo e a sua pátria não lhe dão descanso./outros heróis deram à luz uma pátria,/ele ajudou também a conceber a sua,/a edificá-la,/a defendê-la./A sua imensa pátria é, pois, parte de si mesmo/e não pode descansar, porque ela não descansa."
Como mui bem percebem, o meu desejo era vazar-lhes nos toutiços o "Canto Geral", mas a mais elementar sensibilidade me sussurra que devagar se chega longe...
Bamos então aos bonecos.
Saudações confiantes na luta colectiva, organizada, debatida
o Leopardo
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