Nunca escondi que não sou um particular entusiasta das Óperas de Wagner. Sempre achei que o genial músico devia ter ficado pelas sinfonias, "lieds", oratórias, requiens, música de câmera, missas - que lhe esperrichavam da batuta para as partituras como os pássaros saltam de ramo. Mas, Óperas?... Um raio o tivesse partido !! Houve o condão de as ter transformado a todas - talvez, com excepção dos "Mestres Cantores de Nuremberga" - em intermináveis árias sinfónicas disfarçadas de diálogos de Ópera.
Contudo, dada a escassez das temporadas líricas nas 4 salas que apresentam Óperas em Portugal - São Carlos, Centro Cultural de Belém, Casa da Música e o malfadado Coliseu dos Recreios , que não reúne condições acústicas, visuais, nem a atmosfera de uma sala ovóide mais fechada para os "drammi per musica" - um patuleia não pode desprezar a ocasião de assistir , mesmo que seja ao "Tristan und Isolde", até porque íamos ter ocasião de rever Elisabete Matos , lírica portuguesa na esfera das maiores sopranos a nível mundial, que canta habitualmente nos mais famosos teatros de Ópera dos cinco continentes.
Wagner cometeu três pecados capitais contra a Ópera : inoculou nela a maldita língua alemã, apenas adequada para comandar exércitos e urlar palavras de interdição como "verboten!" , "halt!", etecetera (podem contra-argumentar com Mozart, todavia, a quem foi "amado pelos deuses" tudo é lícito) ; cataplasmou-lhe a bárbara mitologia alemã e a concepção de um povo eleito, que jaz nas catacumbas das ideologias hitlerianas e sionistas (embora não seja legítimo assacar-lhe simpatias pelas doutrinas nazis que se devem, sim, à viúva do filho de Wagner, que, uma vez na posse da herança wagneriana, se foi anichar no ovo da serpente nacional-socialista e, também, ao magnífico filme "Apocalypse Now" de Francis Ford Coppola que associou a música da "cavalgada das valquírias" a um bombardeio terrorista norte-americano sobre uma aldeia vietnamita; Wagner, antes pelo contrário, bateu-se com a música, um "libretto" e de armas na mão pelas ideias liberais na Comuna de Dresden) ; cadenciou-lhe aquele tom heróico, mesmo nos momentos de melancolia, de quem escreve sempre em dodecassílabos (colar de diamantes que os deuses gregos só admitiram a Luís Vaz, a Homero e a Shakespeare), cadência pomposa, solene, caricata de quem sobe uma escadaria até ao Altíssimo.
Por outro lado, é verdade que Wagner contribuiu meritoriamente para a evolução da Ópera ao escrever uma Estética na qual a obra lírica devia estar subordinada à partitura do compositor e não aos devaneios e vaidades das "divas" e dos "divos" que multiplicavam as suas árias ao sabor das palmas do público. Porém, Verdi já tinha feito igual e publicado obra escrita com indicações praticó-concretas nesse sentido (obra que eu ainda não consegui comprar em Itália, até porque custa a bela maquia de 100 euros; mas, se algum dos meus admiradores ma quiser oferecer esteja à vontade... em troca, eu autografo-lhe a t-shirt...), obra que é uma referência para os amantes dos "drammi per musica", Verdi já o tinha realizado sem retirar ás composições operáticas aquela mescla da transição súbita da gargalhada satírica para a tristeza pungente, tão característica do espírito italiano.
Posto isto, devo declarar que "Tristan und Isolde" era a única Ópera de Wagner que eu nunca havia visto. Ainda bem que vi, porque a achei uma senhora... chatice! Desde a concepção wagneriana - muito bem esmiuçada por Yvette Centeno - que preside à obra: aquilo que "os amantes amam é o amor, é o próprio facto de amar" (...) "o mito que é uma narrativa fundadora (...) de uma mudança no comportamento civilizacional ou cultural" (...) compreende o mundo material do Corpo, o do Espírito que é o do Verbo, e finalmente o da Alma, centro das emoções, e neste caso, das emoções amorosas na relação com o outro."
Ora esta concepção, em minha opinião, é um rematado disparate, que estabelece esferas separadas para o mundo das Sensações (o Corpo), o mundo da Razão (o Verbo) e o mundo dos Afectos (a Alma), - ainda, para mais, associada ao pessimismo schopenhaueriano que sustentava a impossibilidade radical de amar - , quando o que na realidade se passa é uma acção interdialéctica entre estas instâncias que vão agindo umas sobre as outras, alterando-se, e que o Amor é de facto o vero motor da Vida e da Alegria.
Isto equivale a dizer que não valeu a pena ter assistido a este "Tristan und Isolde"? De forma nenhuma. O espantoso elenco de cantores safam a Ópera da vulgaridade. Um tenor norte-americano, Erin Caves, uma mezzo-soprano australiana, Catherine Carby, um baixo, com uma longa carreira, Kristinn Sigmundsson acompanham ao nível (o que não é dizer pouco) a espantosa Elisabete Matos - da qual não basta destacar as enormes proezas técnicas de cantar de pé, sentada, de joelhos, deitada, torcida sobre ela própria, de sobrepor a sua voz à da orquestra a tocar no seu pleno, mas de o conseguir mantendo a expressividade dramática requerida à personagem - , jovens cantores portugueses em ascenção - Marcos Alves dos Santos, João Terleira, João Oliveira - o barítono luso, consagrado, Luís Rodrigues, que se bate a cantar ao lado de Erin Caves. O maestro e a orquestra estiveram no plano requerido, podendo perdoar-se as "modernices" de actualizar a encenação, a cenografia e os figurinos para acentuar a intemporalidade da obra, só não percebendo eu, velho leopardo caturra, o que ganha o Público quando lhe são mostradas as vísceras do palco do CCB e distingue o extintor de incêndios vermelho ou as placas verdes das portas de saída...
Mas, pequenas traições, mais patetas que traições, quem as não comete?!...
Saudações calorosas, confiantes
do Leopardo
Wagner cometeu três pecados capitais contra a Ópera : inoculou nela a maldita língua alemã, apenas adequada para comandar exércitos e urlar palavras de interdição como "verboten!" , "halt!", etecetera (podem contra-argumentar com Mozart, todavia, a quem foi "amado pelos deuses" tudo é lícito) ; cataplasmou-lhe a bárbara mitologia alemã e a concepção de um povo eleito, que jaz nas catacumbas das ideologias hitlerianas e sionistas (embora não seja legítimo assacar-lhe simpatias pelas doutrinas nazis que se devem, sim, à viúva do filho de Wagner, que, uma vez na posse da herança wagneriana, se foi anichar no ovo da serpente nacional-socialista e, também, ao magnífico filme "Apocalypse Now" de Francis Ford Coppola que associou a música da "cavalgada das valquírias" a um bombardeio terrorista norte-americano sobre uma aldeia vietnamita; Wagner, antes pelo contrário, bateu-se com a música, um "libretto" e de armas na mão pelas ideias liberais na Comuna de Dresden) ; cadenciou-lhe aquele tom heróico, mesmo nos momentos de melancolia, de quem escreve sempre em dodecassílabos (colar de diamantes que os deuses gregos só admitiram a Luís Vaz, a Homero e a Shakespeare), cadência pomposa, solene, caricata de quem sobe uma escadaria até ao Altíssimo.
Por outro lado, é verdade que Wagner contribuiu meritoriamente para a evolução da Ópera ao escrever uma Estética na qual a obra lírica devia estar subordinada à partitura do compositor e não aos devaneios e vaidades das "divas" e dos "divos" que multiplicavam as suas árias ao sabor das palmas do público. Porém, Verdi já tinha feito igual e publicado obra escrita com indicações praticó-concretas nesse sentido (obra que eu ainda não consegui comprar em Itália, até porque custa a bela maquia de 100 euros; mas, se algum dos meus admiradores ma quiser oferecer esteja à vontade... em troca, eu autografo-lhe a t-shirt...), obra que é uma referência para os amantes dos "drammi per musica", Verdi já o tinha realizado sem retirar ás composições operáticas aquela mescla da transição súbita da gargalhada satírica para a tristeza pungente, tão característica do espírito italiano.
Posto isto, devo declarar que "Tristan und Isolde" era a única Ópera de Wagner que eu nunca havia visto. Ainda bem que vi, porque a achei uma senhora... chatice! Desde a concepção wagneriana - muito bem esmiuçada por Yvette Centeno - que preside à obra: aquilo que "os amantes amam é o amor, é o próprio facto de amar" (...) "o mito que é uma narrativa fundadora (...) de uma mudança no comportamento civilizacional ou cultural" (...) compreende o mundo material do Corpo, o do Espírito que é o do Verbo, e finalmente o da Alma, centro das emoções, e neste caso, das emoções amorosas na relação com o outro."
Ora esta concepção, em minha opinião, é um rematado disparate, que estabelece esferas separadas para o mundo das Sensações (o Corpo), o mundo da Razão (o Verbo) e o mundo dos Afectos (a Alma), - ainda, para mais, associada ao pessimismo schopenhaueriano que sustentava a impossibilidade radical de amar - , quando o que na realidade se passa é uma acção interdialéctica entre estas instâncias que vão agindo umas sobre as outras, alterando-se, e que o Amor é de facto o vero motor da Vida e da Alegria.
Isto equivale a dizer que não valeu a pena ter assistido a este "Tristan und Isolde"? De forma nenhuma. O espantoso elenco de cantores safam a Ópera da vulgaridade. Um tenor norte-americano, Erin Caves, uma mezzo-soprano australiana, Catherine Carby, um baixo, com uma longa carreira, Kristinn Sigmundsson acompanham ao nível (o que não é dizer pouco) a espantosa Elisabete Matos - da qual não basta destacar as enormes proezas técnicas de cantar de pé, sentada, de joelhos, deitada, torcida sobre ela própria, de sobrepor a sua voz à da orquestra a tocar no seu pleno, mas de o conseguir mantendo a expressividade dramática requerida à personagem - , jovens cantores portugueses em ascenção - Marcos Alves dos Santos, João Terleira, João Oliveira - o barítono luso, consagrado, Luís Rodrigues, que se bate a cantar ao lado de Erin Caves. O maestro e a orquestra estiveram no plano requerido, podendo perdoar-se as "modernices" de actualizar a encenação, a cenografia e os figurinos para acentuar a intemporalidade da obra, só não percebendo eu, velho leopardo caturra, o que ganha o Público quando lhe são mostradas as vísceras do palco do CCB e distingue o extintor de incêndios vermelho ou as placas verdes das portas de saída...
Mas, pequenas traições, mais patetas que traições, quem as não comete?!...
Saudações calorosas, confiantes
do Leopardo
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