Esta edição do meu blogue é laborada na praia de Moledo.
Na praia de Moledo , o campeão dos grunhos distingue-se por andar na casa dos sessenta e tantos, possuir um metro e sessenta e tantos de altura, ostentar um corpo trabalhado a ginásio e pelo iodo de Moledo, sem meio grama de lípidos, cara vincada, cabelos crespos, fortes, pigarços, cortados à rapazola (rapados nas têmporas, longos e oleados no topo). Desloca-se como se fosse o galo alfa da capoeira e tivesse avistado galinha nova.
Para quem olha? Para mulheres?... Não, para mim ! Não se precipitem, não avaliem erradamente, não se trata de bichanice serôdia. O que o impressiona é eu ser mais alto dez centímetros, pesar 100 quilos de músculos e gordura em demasia, ter, talvez, o ar truculento de quem já deu e levou muita tapona.
Dou com o grunho a mirar-me de soslaio uma e outra volta. Enfim, o olhar é livre, é filho do 25 de Abril ... e a parvoeira também o é.
Grunho concorrente: bastante mais novo, casa dos quarenta, igualmente baixote, iodado, musculado em ginásio. Os ombros estão enfiados do mesmo jeito num cabide. Circunvaga umas arrogâncias de quem não topa competidor à altura. Todavia, pelas Santas do Olimpo, alguém acredita num galaroz de óculos graduados?...
Estou inclinado para desistir da Humanidade (os meus exageros), ou atirar-lhes à mona uns tabuleiros de alumínio (o que consideraria posteriormente um exagero, mas perfeitamente justificado).
Quando, eis senão, aprochegam-se as minhas heroínas.
Uma belha muito belha, com uma cotoveleira de apoio, um pulso elástico e uma canadiana, tudo apetrechos hiper-modernos. A belha muito belha é acolitada por uma jovem mulher que a sustenta, lhe empurra a cadeira de rodas na qual acabará esparramada. O conjunto é, ou parece, tão periclitante que salto súbito para agarrar o que quer que seja.
Porém, não é preciso. Chegam ao seu destino sãs e salvas, dez metros adiante, onde assentam arraiais.
A belha a cair de podre arrasta outra ao lado, ligeiramente menos podre, também apetrechada de canadianas e uma cadeira.
A jovem mulher acolitante cuida ainda de uns ganapos, decerto produção artesanal.
O registo patético pode ser sintetizado numa idosa que poisou na esplanada da praia: é um selo em tons de cera antiga que olha sem ver o horizonte por onde a sua vida se escuou.
Todavia, a minha mais bela heroína foi, é, será a TELMA MONTEIRO.
Vítima de um erro grosseiro do árbitro, que se deixou enganar pela judoca mongol - primeira do "ranking" - a Telma conseguiu depois mais difícil : ganhar a "repescagem" frente a uma francesa excelente; a cipriota que se lhe seguiu foi um ai que lhe deu. O "bronze" era da Telma , que, de lágrimas em corropio, o dedicou a Portugal.
Fecho aqui, antes que eu próprio me desmanche em choradeiras.
Não me é possível apresentar fotos de Telma Monteiro, pois os patrocinadores - Expresso, Facebook, etc - não o facultam.
Amplexos de luta,
confiantes,
do Leopardo
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