Co
Conheço este traste desde o 1º e 2º ano do Liceu ( o equivalente à 5ª e 6ª classes actuais ). O Liceu era o Camões, em Lisboa, a cerca de 200 metros do Saldanha ( ainda hoje permanece quase idêntico ao que foi, como se não tivesse sido tocado pelos ares do tempo ). O Liceu Camões, célebre na época entre os liceus para rapazes ( sim, não existiam então escolas secundárias em que os rapazes se misturassem com as meninas, numa promiscuidade "perversa", ovo de serpente de onde poderiam surdir coisas difíceis de conceber... ) era regulado com pulso férreo pelo Senhor Reitor Dr. Sérvulo Correia , interprete a nível liceal do pensamento de Sua Excelência Excelentíssima o ditador fascista Salazar , Senhor Reitor Sérvulo Correia mais salazarento que o próprio Salazar (um seu sobrinho-neto ou coisa que o valha, actual deputado do psd na Assembleia da República , comparativamente com o antepassado, pode mesmo ser considerado um representante sofrível da Democracia) , Reitor Sérvulo Correia que fora chamado às carreirinhas para restabelecer a ordem e a tranquilidade salazarenta no Liceu arquétipo da Capital - onde uns subversivos do 6º e 7º anos (equivalente aos 10º, 11º e 12º anos hodiernos) as tinham desacatado.
Reitor Sérvulo Correia que vinha possuído da mesma determinação divina com que sossegara o Liceu da Covilhã ou da Guarda, Reitor tão "estimado" dos seus Alunos que estes foram despedir-se dele à Estação de Caminhos de Ferro com uma chuva dos grossos basaltos das serranias ( é, é, o Portugal da época não era o lago adormecido, onde nem uma agulha bulia nas veredas do caminho, como algumas cabeças bem-pensantes, hoje, nos querem fazer crer ).
Pois é, eu e o Vasco - o cujo qual, a propósito, não se chama realmente Pulido Valente, mas Vasco Valente Correia Guedes ; roubou o nome ( como roubou outras coisas ) a um avô , médico e professor universitário ilustre, que foi proibido pela ditadura salazarenta de leccionar em Portugal por motivo das suas concepções democráticas - eu e o Vasco , como ia teclando, fomos amigos desde o 1º ano do Liceu Camões.
Não peçam a um garoto de 9 anos de idade responsabilidades pelos seus afectos. Talvez gostasse dele pela sua insolência de menino rico, pelo seu destempero capaz de mandar à merda a professora Helena Lucas , professora também no Colégio Ramalhão, colégio para as bandas de Sintra, professora de opções afectivas heterodoxas ( como transpirou posteriormente ) . Nunca me interroguei por que eu, filho da classe média, era castigado severamente por um comportamento a milionésima parte do dele, e ele escapava incólume, passando enxuto por entre os pingos da chuva.
Eu, ele e um terceiro colega ( cego de um olho, que veio a licenciar-se em Direito, prenunciando, quiçá, a Justiça do nosso País ) formávamos um grupo auto-denominado "Grupo da Batata Frita", mui convincente a extorquir aos outros colegas batatas fritas graças aos meus poderes de "persuasão", sobejamente conhecidos nos dois pátios do Camões. Li toda a obra do Alexandre Dumas ( "Os Três Mosqueteiros", "O Visconde de Brajelone" , "Os Vinte Anos Depois", etc, etc ) à conta da biblioteca pessoal do Vasco , na Rua de Paris, vizinha da Praça de Londres/Lisboa. Eram uns livrinhos giríssimos, de capa amarela de percalina dura, com uns filetes dourados. Faziam os meus encantos.
Entretanto os anos rolaram. As nossas vidas seguiram caminhos bastante diferentes. Apoiei à pedrada aos GNR's a cavalo e de espada desembainhada a candidatura do "General Sem Medo" ( o do "obviamente demito-o !" ), segui as lineares indicações do PCP como oficial fuzileiro da Reserva Naval ( isto é, como carne para emboscadas ) na guerra colonial em Moçambique , indicações simples de enunciar ( "os Movimentos de Libertação tinham razão , nós não" ) porém, complicadíssimas de pôr em prática nos "praticó-concretamente".
O Vasco Valente Correia Guedes tem sido "aquilo" a que se tem assistido ( de nada lhe valeram os exemplos de uns primos Correia Guedes com alguma obra progressista no cinema ). O Vasco , filho de uma senhora com abundâncias de carcanhol, tão arrogante quanto o próprio filho, quando usam o termo "Canalha" é o próprio Povo Trabalhador Português ( operários, camponeses, pescadores, mineiros ) que estão a designar !... Não é por acaso que uma das "reflexões históricas" do Vasco é dedicada ao general Paiva Couceiro, herói do colonialismo tuga do século XIX, aquele que prendeu o Gungunhama e o seu séquito de cortesãos e cortesãs e os passeou pelas ruas de Lisboa como se de macacos se tratassem... antes de os prender dentro de jaulas...
Alguns julgam que o ar destroçado que o Vasco apresenta hoje - como se tivesse chocado de frente com um camião pesado - se deve ao wiskye que ingurgita sem controlo. Ou às inúmeras companhias femininas que ingurgitou com a mesma avidez. É falso. Tudo isso são sub-consequências da razão principal. O que atropelou o Vasco foi o 25 de Abril , foi a libertação progressiva, aos saltos, dialéctica, daquele que em hora feliz Rafael Bordallo Pinheiro baptisou de Zé Povinho .
Alguns julgarão que eu estou a servir uma poção envenenada, veneziana, ao Vasco Valente Correia Guedes , não lhe perdoando que tenha dado à nossa defunta amizade uma senda diversa da minha. Admito sem nenhuma controvérsia que uma parcela da verdade se pode encontrar aí. Mas, o que está a sufocar realmente o Vasco é a própria cicuta que ao longo de décadas tem segregado dentro de si. É o seu ódio patológico e sem esperança à "Canalha", é o triunfo inevitável de Libertação do Zé Povinho !
Saudações confiantes e fraternas do
Leopardo
Conheço este traste desde o 1º e 2º ano do Liceu ( o equivalente à 5ª e 6ª classes actuais ). O Liceu era o Camões, em Lisboa, a cerca de 200 metros do Saldanha ( ainda hoje permanece quase idêntico ao que foi, como se não tivesse sido tocado pelos ares do tempo ). O Liceu Camões, célebre na época entre os liceus para rapazes ( sim, não existiam então escolas secundárias em que os rapazes se misturassem com as meninas, numa promiscuidade "perversa", ovo de serpente de onde poderiam surdir coisas difíceis de conceber... ) era regulado com pulso férreo pelo Senhor Reitor Dr. Sérvulo Correia , interprete a nível liceal do pensamento de Sua Excelência Excelentíssima o ditador fascista Salazar , Senhor Reitor Sérvulo Correia mais salazarento que o próprio Salazar (um seu sobrinho-neto ou coisa que o valha, actual deputado do psd na Assembleia da República , comparativamente com o antepassado, pode mesmo ser considerado um representante sofrível da Democracia) , Reitor Sérvulo Correia que fora chamado às carreirinhas para restabelecer a ordem e a tranquilidade salazarenta no Liceu arquétipo da Capital - onde uns subversivos do 6º e 7º anos (equivalente aos 10º, 11º e 12º anos hodiernos) as tinham desacatado.
Reitor Sérvulo Correia que vinha possuído da mesma determinação divina com que sossegara o Liceu da Covilhã ou da Guarda, Reitor tão "estimado" dos seus Alunos que estes foram despedir-se dele à Estação de Caminhos de Ferro com uma chuva dos grossos basaltos das serranias ( é, é, o Portugal da época não era o lago adormecido, onde nem uma agulha bulia nas veredas do caminho, como algumas cabeças bem-pensantes, hoje, nos querem fazer crer ).
Pois é, eu e o Vasco - o cujo qual, a propósito, não se chama realmente Pulido Valente, mas Vasco Valente Correia Guedes ; roubou o nome ( como roubou outras coisas ) a um avô , médico e professor universitário ilustre, que foi proibido pela ditadura salazarenta de leccionar em Portugal por motivo das suas concepções democráticas - eu e o Vasco , como ia teclando, fomos amigos desde o 1º ano do Liceu Camões.
Não peçam a um garoto de 9 anos de idade responsabilidades pelos seus afectos. Talvez gostasse dele pela sua insolência de menino rico, pelo seu destempero capaz de mandar à merda a professora Helena Lucas , professora também no Colégio Ramalhão, colégio para as bandas de Sintra, professora de opções afectivas heterodoxas ( como transpirou posteriormente ) . Nunca me interroguei por que eu, filho da classe média, era castigado severamente por um comportamento a milionésima parte do dele, e ele escapava incólume, passando enxuto por entre os pingos da chuva.
Eu, ele e um terceiro colega ( cego de um olho, que veio a licenciar-se em Direito, prenunciando, quiçá, a Justiça do nosso País ) formávamos um grupo auto-denominado "Grupo da Batata Frita", mui convincente a extorquir aos outros colegas batatas fritas graças aos meus poderes de "persuasão", sobejamente conhecidos nos dois pátios do Camões. Li toda a obra do Alexandre Dumas ( "Os Três Mosqueteiros", "O Visconde de Brajelone" , "Os Vinte Anos Depois", etc, etc ) à conta da biblioteca pessoal do Vasco , na Rua de Paris, vizinha da Praça de Londres/Lisboa. Eram uns livrinhos giríssimos, de capa amarela de percalina dura, com uns filetes dourados. Faziam os meus encantos.
Entretanto os anos rolaram. As nossas vidas seguiram caminhos bastante diferentes. Apoiei à pedrada aos GNR's a cavalo e de espada desembainhada a candidatura do "General Sem Medo" ( o do "obviamente demito-o !" ), segui as lineares indicações do PCP como oficial fuzileiro da Reserva Naval ( isto é, como carne para emboscadas ) na guerra colonial em Moçambique , indicações simples de enunciar ( "os Movimentos de Libertação tinham razão , nós não" ) porém, complicadíssimas de pôr em prática nos "praticó-concretamente".
O Vasco Valente Correia Guedes tem sido "aquilo" a que se tem assistido ( de nada lhe valeram os exemplos de uns primos Correia Guedes com alguma obra progressista no cinema ). O Vasco , filho de uma senhora com abundâncias de carcanhol, tão arrogante quanto o próprio filho, quando usam o termo "Canalha" é o próprio Povo Trabalhador Português ( operários, camponeses, pescadores, mineiros ) que estão a designar !... Não é por acaso que uma das "reflexões históricas" do Vasco é dedicada ao general Paiva Couceiro, herói do colonialismo tuga do século XIX, aquele que prendeu o Gungunhama e o seu séquito de cortesãos e cortesãs e os passeou pelas ruas de Lisboa como se de macacos se tratassem... antes de os prender dentro de jaulas...
Alguns julgam que o ar destroçado que o Vasco apresenta hoje - como se tivesse chocado de frente com um camião pesado - se deve ao wiskye que ingurgita sem controlo. Ou às inúmeras companhias femininas que ingurgitou com a mesma avidez. É falso. Tudo isso são sub-consequências da razão principal. O que atropelou o Vasco foi o 25 de Abril , foi a libertação progressiva, aos saltos, dialéctica, daquele que em hora feliz Rafael Bordallo Pinheiro baptisou de Zé Povinho .
Alguns julgarão que eu estou a servir uma poção envenenada, veneziana, ao Vasco Valente Correia Guedes , não lhe perdoando que tenha dado à nossa defunta amizade uma senda diversa da minha. Admito sem nenhuma controvérsia que uma parcela da verdade se pode encontrar aí. Mas, o que está a sufocar realmente o Vasco é a própria cicuta que ao longo de décadas tem segregado dentro de si. É o seu ódio patológico e sem esperança à "Canalha", é o triunfo inevitável de Libertação do Zé Povinho !
Saudações confiantes e fraternas do
Leopardo
Caro Eduardo já pus a leitura em dia. Agradeço os momentos que proporcionas com a tua escrita e a referência a mim na lista dos teus amigos. Boas memórias. Um grande abraço
ResponderEliminarLuís Rodrigues