O magnífico Festival de Teatro de Almada, levado a cabo pelo Teatro Municipal Joaquim Benite/TMJB ( embora com muito menos apoios financeiros da actual Presidente da Câmara - tava a linda Inês posta em sossego lá nos seus Parises... ) , continua a apresentar um elenco de peças prometedor dos maiores entusiasmos.
Após abrir o Festival com a reposição da peça premiada no ano anterior - "Apre", peça da Companhia Francesa "Le Fils du Grand Réseau" - obra de dois actores e uma actriz encantadora que nos deixou de novo de queixos descaídos de admiração, no segundo dia brindou-nos com as peças "Lulu" e com "Kalakuta Republik" , a confrontação das quais provocam a minha presente reflexão.
"Kalakuta Republik" , da Companhia oriunda originalmente de África , "Faso Danse Théatre" , peça para três bailarinas ( duas negras, uma branca ) e quatro actores ( todos negros ) , agarrou a enorme plateia ao ar livre da Escola D. António da Costa ( mil e muitos lugares ) desde os primeiros minutos, num ritmo infernal de duas horas e tanto, onde se acendiam e apagavam para se reacenderem outra vez o desejo, a sedução, a raiva, o ódio, a violência, o exigir de um mundo novo, mais justo, um mundo solidário, um mundo Socialista.
"Kalakuta Republik" é bastante uma dança - que cruza as raízes de uma África negra com bailado moderno europeu - mas , que não recusa a representação, o uso dos gritos selvagens, os voos dos homens em ânsias de libertação. Os corpos simulam comer-se a si próprios e uns aos outros no sacrifício supremo de ultrapassar as barreiras que os tolhem.
Em certo sentido é um panfleto político, que nunca parece sê-lo e que sempre nos surpreende pela resolução dos conflitos representados no palco. Os cenários, minimalistas, sobrepõem a pobreza das cidades africanas actuais aos rastos sangrentos das guerras que têm devastado África faz décadas.
É simples de descrever num texto, exige um exercício de criatividade impossível para mim de concebê-lo e figurá-lo num palco .
Confrontado com "Lulu" que se me oferece dizer ? "Lulu" é uma peça, com um elenco numeroso de actores e actrizes - muito centrado nos corpos desejáveis de duas delas - encenada por Nuno M Cardoso, saído de um "círculo teatral alternativo do Porto", que utiliza uma parafernália de recursos técnicos abundantes: simulação de dois palcos no mesmo palco, miscigenação de canto, dança e declamação, uso variegado de diferentes iluminações.
É igualmente um panfleto político ( no que não vejo mal nenhum, pois, desde Sófocles , Eurípedes, Ésquilo , se o teatro não problematiza a política, fala de quê ?... ). O que eu considero de menos acertado nesta peça, é que é um panfleto político, nunca nos deixa esquecer que o é... e é facilmente previsível. É claro que se sente tratar-se de um grupo profissional de actores e encenador. Uma equipa de amadores, por mais dotados, não levaria a obra a cabo. Porém, aquele "quantum satis" de sal imaginativo - mui provavelmente impossível de definir - não está lá. Admito, com Mário de Carvalho, que "quem disser o contrário é porque tem razão".
E antes que esta reflexão resvale para níveis de amargura e violência desgostantes até de teclar ( já que terei de os expurgar em nova reflexão... ) hoje, fecho por aqui.
Saudações fraternas do
Leopardo
Após abrir o Festival com a reposição da peça premiada no ano anterior - "Apre", peça da Companhia Francesa "Le Fils du Grand Réseau" - obra de dois actores e uma actriz encantadora que nos deixou de novo de queixos descaídos de admiração, no segundo dia brindou-nos com as peças "Lulu" e com "Kalakuta Republik" , a confrontação das quais provocam a minha presente reflexão.
"Kalakuta Republik" , da Companhia oriunda originalmente de África , "Faso Danse Théatre" , peça para três bailarinas ( duas negras, uma branca ) e quatro actores ( todos negros ) , agarrou a enorme plateia ao ar livre da Escola D. António da Costa ( mil e muitos lugares ) desde os primeiros minutos, num ritmo infernal de duas horas e tanto, onde se acendiam e apagavam para se reacenderem outra vez o desejo, a sedução, a raiva, o ódio, a violência, o exigir de um mundo novo, mais justo, um mundo solidário, um mundo Socialista.
"Kalakuta Republik" é bastante uma dança - que cruza as raízes de uma África negra com bailado moderno europeu - mas , que não recusa a representação, o uso dos gritos selvagens, os voos dos homens em ânsias de libertação. Os corpos simulam comer-se a si próprios e uns aos outros no sacrifício supremo de ultrapassar as barreiras que os tolhem.
Em certo sentido é um panfleto político, que nunca parece sê-lo e que sempre nos surpreende pela resolução dos conflitos representados no palco. Os cenários, minimalistas, sobrepõem a pobreza das cidades africanas actuais aos rastos sangrentos das guerras que têm devastado África faz décadas.
É simples de descrever num texto, exige um exercício de criatividade impossível para mim de concebê-lo e figurá-lo num palco .
Confrontado com "Lulu" que se me oferece dizer ? "Lulu" é uma peça, com um elenco numeroso de actores e actrizes - muito centrado nos corpos desejáveis de duas delas - encenada por Nuno M Cardoso, saído de um "círculo teatral alternativo do Porto", que utiliza uma parafernália de recursos técnicos abundantes: simulação de dois palcos no mesmo palco, miscigenação de canto, dança e declamação, uso variegado de diferentes iluminações.
É igualmente um panfleto político ( no que não vejo mal nenhum, pois, desde Sófocles , Eurípedes, Ésquilo , se o teatro não problematiza a política, fala de quê ?... ). O que eu considero de menos acertado nesta peça, é que é um panfleto político, nunca nos deixa esquecer que o é... e é facilmente previsível. É claro que se sente tratar-se de um grupo profissional de actores e encenador. Uma equipa de amadores, por mais dotados, não levaria a obra a cabo. Porém, aquele "quantum satis" de sal imaginativo - mui provavelmente impossível de definir - não está lá. Admito, com Mário de Carvalho, que "quem disser o contrário é porque tem razão".
E antes que esta reflexão resvale para níveis de amargura e violência desgostantes até de teclar ( já que terei de os expurgar em nova reflexão... ) hoje, fecho por aqui.
Saudações fraternas do
Leopardo
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