Uma adenda curta ao "Salário de um Escritor". Alguns de Vós poderão ter ficado a pensar que como o escritor propõe "novos mundos ao mundo", está de mãos livres para inventar os mundos que lhe derem na gana. Nada de mais falso. O escritor, como todos os seres humanos em qualquer parte do planeta, nasce e cresce dentro de um combóio em andamento, combóio que rola em cima de carris que vêm do passado e se prolongam para um futuro do qual se adivinha apenas a parte mais próxima.
Ou seja, o verdadeiro Escritor está condicionado por uma determinada leitura do passado que vai aprendendo a fazer, pela expectativa do futuro que deseja, pela língua que maneja. Estas determinações são simultaneamente as ferramentas que lhe permitem criar o Novo. Mas, tem de as respeitar, não pode fazer um uso arbitrário delas. Por exemplo, há muito que defendo que a distinção entre realismo e surrealismo perdeu a maior parte do sentido que fez. Exemplificando: Salvador Dali quando desenhava e pintava os famosos relógios que se derretiam como manteiga mostrava o império novo ( e decerto indesejado ) que a cronometragem do tempo impunha ao ser humano ( e, talvez, à sua relação afectiva com Gala, mulher e musa ).
Neste sentido vai também a famosa resposta de Picasso ao oficial hitleriano que lhe perguntou com um trejeito de desdém se fora ele que tinha pintado Guernica : "Não, foram Vocês !".
E, hoje, fico-me nesta esquina. Estou ainda a tentar digerir aquela "coisa" intragável, que aconteceu ontem, que dá pelo nome de Festival da Canção da Eurovisão. Vai uma apostinha que o grupo israelita encabeçado por aquela volumosa e espalhafatosa cantante, vai andar em digressão pelo planeta acompanhada pelo chefe do Governo sionista Benjamin Netanyahu ?...
Saudações amarrotadas, mas sempre confiantes
do Leopardo
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