Como se sabe, começou o Festival de Teatro de Almada que é uma das referências cimeiras do Teatro Ibérico, só encontrando equivalentes em França, nomeadamente no Festival de Avignon.
O Festival de Teatro de Almada está intimamente ligado à personalidade do falecido director e encenador Joaquim Benite, figura sem a qual a História do Teatro Português nos séculos XX e XXI não seria a mesma. Benite que sempre obteve da Cãmara de Almada a compreensão e as verbas que lhe permitiram atingir o alto nível alcançado.
Desde que Joaquim Benite faleceu a 5 de Dezembro de 2012, as suas funções de director e encenador do Teatro Azul ( hoje Teatro Municipal Joaquim Benite - TMJB ) e de líder do Festival têm estado entregues a Rodrigo Francisco, jovem encenador . O público habitual, fiel ao seu Teatro e ao seu Festival, numa expectativa favorável à evolução das obras em cena, aguarda que elas mantenham o claro perfil de identificação com os valores ideológicos da Esquerda , surgindo vozes nesse público a afirmar que se manifestam sinais contraditórios aqui e ali.
Este ano o Festival abriu com uma verdadeira chave de oiro "Apre - melodrama burlesco" ( ou, no título gaulês, Bigre - mélo burlesque ) apresentado por uma Companhia Francesa onde se destacavam os nomes de Pierre Guillois , Agathe L'Huillier , Olivier Martin-Salvan.
Foi de facto espantoso assistir a uma peça, sem uma palavra de tradução, onde o público do enorme auditório ao ar livre, na Escola Don António da Costa, auditório à cunha !, interrompeu variadíssimas vezes o espectáculo para rir e aplaudir às escâncaras.
A minha incompetência leopardesca é incapaz de sintetizar, sem escrever um romance, uma obra que se desenrola durante 1 hora e 25 minutos, na qual são sugeridos, numa lógica prenhe de "nonsense", as vivências num prédio de tijolo e tabopan em desconstrução, prédio que ameaça ruir a qualquer instante.
A mim só me recordava o caso relatado na RDP/Antena 1 do Bairro da Jamaica situado na Freguesia do Seixal. Os cancros do Bairro da Jamaica são infindos :
- os esgotos não funcionam e a urina e as fezes diluídas infiltram-se nas paredes das casas;
- existem milhões de mosquitos atraídos pelos eflúvios infiltrados;
- os apartamentos não proporcionam qualquer privacidade, ouvindo-se e participando no que ocorre nos vizinhos do tabique ao lado;
- coexistem no Bairro uma caldeirada de etnias culturais - angolanos, moçambicanos, são-tomenses, cabo-verdianos, guineenses, ciganos - que, não raro, entram em conflito;
- os prédios nunca possuíram elevadores e pelos vazios que lá estão em seu lugar caem pessoas uma volta por outra;
- cafés e restaurantes de "minies", frangos assados e aguardentes são improvisados nos tectos das casas, avolumando os riscos de desabamento;
- serve de exemplo às situações sociais o caso do professor de português que veio de Angola para ensinar o português aos migrantes angolanos e acabou a trabalhar na construção civil em Portugal ;
- quem baptisou o Bairro foi uma banda musical de hip-hop & liambas que considerou que Jamaica era o nome que lhe quadrava com o estilo.
Pois o "Apre", sem nunca ter lido notícia do Bairro Jamaica , foi capaz de ter representado os perfis dos infindáveis "bairros jamaicas" que abundam pelo planeta fora. Pela minha parte candidato-o já a uma das peças de teatro vencedoras do Festival.
Com pena, o mesmo não posso dizer da "História do Cerco de Lisboa" , peça encenada por Ignacio Garcia inspirada num notável romance de José Saramago . Ignacio Garcia reduz o romance de Saramago a um ensaio filosófico sobre as meta-linguagens, tema característico da epistemologia ( Filosofia das Ciências ), nomeadamente sobre a meta-linguagem da História, disciplina das Ciências Humanas mais influenciada pelos valores ideológicos de quem a pratica.
O mais suave que posso usar para caracterizar esta peça é que ela é uma não-peça, é um ensaio filosófico para divulgar uma série de lugares-comuns bem conhecidos de quem estuda epistemologia ( o meu caso ), divulgação pretensiosa de quem descobre pela primeira vez o Brasil e longe do acolhimento compreensivo da maioria do público ( o que pôde aperceber-se pelos aplausos apenas corteses ). Sobre mim teve um efeito soporífero, passando intermitentemente pelas "brasas".
O que de melhor posso teclar sobre a peça, é que os actores realizaram interpretações óptimas, decerto dando expressão ao que lhes tinha sido pedido, e animando por instantes o discurso filosófico. Louvo igualmente os cenários de José Manuel Castanheira que, concisamente, traduziram o debate meta-linguístico representado.
A milhares de quilómetros do Festival de Teatro de Almada , os EUA negaram o visto de entrada a seis jovens raparigas afegãs que iam participar num campeonato de robótica e a Administração Trampas declarou que não tolerará mais lançamentos de mísseis norte-coreanos e que exercerá represálias económicas sobre os países que mantiverem relações comerciais com Pyongyang .
De forma que é quase um consolo tomar conhecimento que a dona Chimone de Oliveira vai lançar um DVD sobre a sua vida. Espero que seja um retorno à "Desfolhada" a "quem faz um filho, fá-lo por gosto", embora me pareça um pouco tarde para quem andou nas quadrigas eleitorais do psd( para regredir no tempo era bem preferível ouvir o Fernando Tordo abrir os curros à "Tourada" do Ary dos Santos ). Todavia, sempre é melhor do que sujar os sentidos relanceando-os ao de leve pela "obra intimista (sic!) a partir de estórias reais" que vai ser lançada por dona Tareja Guilhermosca . É que ele há nódoas e nódoas !...
Saudações confiantes
na luta colectiva organizada
Leopardo
O Festival de Teatro de Almada está intimamente ligado à personalidade do falecido director e encenador Joaquim Benite, figura sem a qual a História do Teatro Português nos séculos XX e XXI não seria a mesma. Benite que sempre obteve da Cãmara de Almada a compreensão e as verbas que lhe permitiram atingir o alto nível alcançado.
Desde que Joaquim Benite faleceu a 5 de Dezembro de 2012, as suas funções de director e encenador do Teatro Azul ( hoje Teatro Municipal Joaquim Benite - TMJB ) e de líder do Festival têm estado entregues a Rodrigo Francisco, jovem encenador . O público habitual, fiel ao seu Teatro e ao seu Festival, numa expectativa favorável à evolução das obras em cena, aguarda que elas mantenham o claro perfil de identificação com os valores ideológicos da Esquerda , surgindo vozes nesse público a afirmar que se manifestam sinais contraditórios aqui e ali.
Este ano o Festival abriu com uma verdadeira chave de oiro "Apre - melodrama burlesco" ( ou, no título gaulês, Bigre - mélo burlesque ) apresentado por uma Companhia Francesa onde se destacavam os nomes de Pierre Guillois , Agathe L'Huillier , Olivier Martin-Salvan.
Foi de facto espantoso assistir a uma peça, sem uma palavra de tradução, onde o público do enorme auditório ao ar livre, na Escola Don António da Costa, auditório à cunha !, interrompeu variadíssimas vezes o espectáculo para rir e aplaudir às escâncaras.
A minha incompetência leopardesca é incapaz de sintetizar, sem escrever um romance, uma obra que se desenrola durante 1 hora e 25 minutos, na qual são sugeridos, numa lógica prenhe de "nonsense", as vivências num prédio de tijolo e tabopan em desconstrução, prédio que ameaça ruir a qualquer instante.
A mim só me recordava o caso relatado na RDP/Antena 1 do Bairro da Jamaica situado na Freguesia do Seixal. Os cancros do Bairro da Jamaica são infindos :
- os esgotos não funcionam e a urina e as fezes diluídas infiltram-se nas paredes das casas;
- existem milhões de mosquitos atraídos pelos eflúvios infiltrados;
- os apartamentos não proporcionam qualquer privacidade, ouvindo-se e participando no que ocorre nos vizinhos do tabique ao lado;
- coexistem no Bairro uma caldeirada de etnias culturais - angolanos, moçambicanos, são-tomenses, cabo-verdianos, guineenses, ciganos - que, não raro, entram em conflito;
- os prédios nunca possuíram elevadores e pelos vazios que lá estão em seu lugar caem pessoas uma volta por outra;
- cafés e restaurantes de "minies", frangos assados e aguardentes são improvisados nos tectos das casas, avolumando os riscos de desabamento;
- serve de exemplo às situações sociais o caso do professor de português que veio de Angola para ensinar o português aos migrantes angolanos e acabou a trabalhar na construção civil em Portugal ;
- quem baptisou o Bairro foi uma banda musical de hip-hop & liambas que considerou que Jamaica era o nome que lhe quadrava com o estilo.
Pois o "Apre", sem nunca ter lido notícia do Bairro Jamaica , foi capaz de ter representado os perfis dos infindáveis "bairros jamaicas" que abundam pelo planeta fora. Pela minha parte candidato-o já a uma das peças de teatro vencedoras do Festival.
Com pena, o mesmo não posso dizer da "História do Cerco de Lisboa" , peça encenada por Ignacio Garcia inspirada num notável romance de José Saramago . Ignacio Garcia reduz o romance de Saramago a um ensaio filosófico sobre as meta-linguagens, tema característico da epistemologia ( Filosofia das Ciências ), nomeadamente sobre a meta-linguagem da História, disciplina das Ciências Humanas mais influenciada pelos valores ideológicos de quem a pratica.
O mais suave que posso usar para caracterizar esta peça é que ela é uma não-peça, é um ensaio filosófico para divulgar uma série de lugares-comuns bem conhecidos de quem estuda epistemologia ( o meu caso ), divulgação pretensiosa de quem descobre pela primeira vez o Brasil e longe do acolhimento compreensivo da maioria do público ( o que pôde aperceber-se pelos aplausos apenas corteses ). Sobre mim teve um efeito soporífero, passando intermitentemente pelas "brasas".
O que de melhor posso teclar sobre a peça, é que os actores realizaram interpretações óptimas, decerto dando expressão ao que lhes tinha sido pedido, e animando por instantes o discurso filosófico. Louvo igualmente os cenários de José Manuel Castanheira que, concisamente, traduziram o debate meta-linguístico representado.
A milhares de quilómetros do Festival de Teatro de Almada , os EUA negaram o visto de entrada a seis jovens raparigas afegãs que iam participar num campeonato de robótica e a Administração Trampas declarou que não tolerará mais lançamentos de mísseis norte-coreanos e que exercerá represálias económicas sobre os países que mantiverem relações comerciais com Pyongyang .
De forma que é quase um consolo tomar conhecimento que a dona Chimone de Oliveira vai lançar um DVD sobre a sua vida. Espero que seja um retorno à "Desfolhada" a "quem faz um filho, fá-lo por gosto", embora me pareça um pouco tarde para quem andou nas quadrigas eleitorais do psd( para regredir no tempo era bem preferível ouvir o Fernando Tordo abrir os curros à "Tourada" do Ary dos Santos ). Todavia, sempre é melhor do que sujar os sentidos relanceando-os ao de leve pela "obra intimista (sic!) a partir de estórias reais" que vai ser lançada por dona Tareja Guilhermosca . É que ele há nódoas e nódoas !...
Saudações confiantes
na luta colectiva organizada
Leopardo
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