Fui ver o filme "Heróis da Nação" - tradução pouco adequada para o título original "Their Finest" - , filme que recomendo vivamente pois transmite os bombardeamentos que, em 1940, a aviação da Wehrmacht realizava todos os dias, várias vezes, deixando cair sobre Londres toneladas e toneladas de bombas, abandonando a cidade e as regiões em seu redor em escombros, filme que, em simultâneo, mostra como se constrói um filme, o seu artesanato, as complexas relações entre a arte, a ideologia e a vida, ou seja, um filme que reflecte sobre a metalinguagem do ofício artístico.
A obra é uma produção britânica, de uma realizadora dinamarquesa, Lone Scherfig, onde avulta a sóbria e sucinta escola de representar inglesa, na qual cada alçar de sobrancelha, cada gesto vale por oratórias de vinte linhas. No esplêndido elenco de actores é justo pelo menos destacar Gemma Arterton, Sam Claflin, Bill Nighy, Jeremy Irons.
A película, baseada numa encomenda real do Ministério da Guerra Britânico à indústria cinematográfica britânica ( toda ela ao serviço do "esforço de guerra" inglês ), narra-nos a estória da construção de um filme que visava levantar a moral do povo britânico, nomeadamente das mulheres ( horas e horas encerradas em fábricas a produzir munições para os "seus" soldados - pais, maridos, filhos a combater em partes incertas - ou a prestarem serviços de saúde em hospitais a estropiados recém-chegado da "frente" ). O filme deveria transmitir um "toque" feminino, agarrar uma atmosfera entre o drama, a comédia, o amor, mesmo o lamechas, que fosse transversal à sociedade inglesa e lhe alimentasse a moral ( "acabem o filme, antes que "Eles" - os Alemães - acabem connosco" ).
Nas interessantes reflexões sobre a metalinguagem artística ( no caso em questão a cinematográfica ) cruzam-se afirmações como : "os factos reais são uma coisa, os factos artísticos outra, não deixe que se confundam ou atrapalhem uns aos outros" ; um herói militar não resulta necessariamente um actor "herói" convincente, e um actor que representa bem o "herói" no 'plateaux' não é necessariamente um herói na vida real... "and so on" ... ).
Posto isto, e recomendando-Vos vivamente, de novo, que vejam "Their Finest" , não me peçam que confunda o filme com a vida, que morra de amores pelos líderes britânicos e, ainda menos, pelos "gauleiteres", "sub-gauleiters" e "sub-sub-gauleiters tedescos.
Abraços confiantes na luta colectiva, organizada, democraticamente debatida,
do Leopardo
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