Ao revés do que parece induzir o título desta reflexão, julgo justamente o contrário: considero o pensamento político e o exercício da política uma das mais altas manifestações da actividade humana.
A anulação da política (do termo grego "polis", urbe, gestão dialogada da cidade) é o retrocesso ao exercício puro e duro da lei dos mais fortes, da lei das armas.
Objectar-se-á que no exercício dialogado da urbe ("urbe" por oposição ao campo inculto, não trabalhado pela cultura humana) os que são mais fortes a lidar com as artes do discurso - os mais ricos, os que têm tempo para o "ócio", uma pequena parcela da sociedade - estão em vantagem. É verdade, porém, o diálogo obriga à argumentação, à justificação na "ágora" - praça pública, espécie de parlamento ao ar livre - , na qual, pelo menos teoricamente, todos podem estar presentes e intervir.
Não devemos esquecer que a "democracia" (poder do povo) é introduzida pelos filósofos gregos "sofistas" - os primeiros filósofos a pedir pagamento pelos seus ensinamentos, pois, ao contrário dos "aristocratas" ( de "aristoi", "os primeiros"), como Platão (descendente de famílias terrafundiárias, tradicionalmente dirigentes de Atenas) , não possuem fortunas pessoais que lhes permitam custear a prática da filosofia ("a filosofia" era entendida não apenas como um exercício de conhecimento, mas também, sobretudo, como um exercício de crescimento anímico - de "anima" que significava "sopro vital").
E a luta de argumentos inicialmente - 540 anos a.C - passa-se entre os Sofistas (os democratas) e Platão (o aristocrata) , o qual elabora uma das primeiras teorias estruturadas do poder político, sublimando o que acontecia na região de Esparta, substituindo, porém, a liderança política dos chefes guerreiros espartanos (aristocratas terratenentes) pela liderança política aristocrática dos filósofos, aqueles que indicam a via do Bem moral.
Ora, como se colocam as coisas, hoje, no século XXI, momento em que galopa num crescendo para uma terceira guerra mundial, liderada pelos EUA, com o uso dos mais sofisticados sistemas de armas da panóplia nuclear?
Hollande enfurece-se porque um padre católico foi morto em território francês e berra que não vão mais euros franceses para mesquitas. A fúria atinge diapasões inauditos apesar de os inquéritos não se terem sequer iniciado e, sintomaticamente, - tal como sucede nos EUA - o presumível autor do atentado ser morto na hora... e os mortos não falam.
É óbvio que Hollande ultimamente só anda em bicos dos pés e consta que lhe vão ser oferecidos vários pares de sapatilhas de "prima ballerina", reforçadas nas pontas, para este tipo de bailados.
Nos EUA as pessoas riem-se e perguntam se vão votar no Donald Trampas ou na Trampas da Hillary.
Hillary esganiçou a asseverar que os EUA são os campeões da democracia mundial (com o marido, ex-presidente, a apoiá-la na campanha e a Mónica Lewinsky a microfonar que a traída foi ela).
Pelo mundo fora há quem se regozije por Hillary Clinton ser a primeira mulher a candidatar-se à Casa Branca, esquecendo-se que Barak Obama e Collin Powell - respectivamente chefes político e militar dos EUA -, apesar de serem de ascendência negra, em nada alterou a política dos EUA que, na verdade é conduzida pelos enormes complexos militar-industriais norte-americanos. Passaram a ser apenas mais dois multimilionários, de pele mais morena, no topo da hierarquia politicó-militar dos "States".
A República Popular da China (capital em Beijing) afirma-se ameaçada pela presença e exercícios das esquadras norte-americanas nos Mares do Sul da China, convocando os países da ASEAN e a Federação dos Estados Russos para avaliar a ameaça e os meios de a combater.
O Papa Chico passeia-se completamente só e num silêncio total pelo campo de extermínio hitleriano de Auschvitz. Perguntando-me eu, simplório, se o isolamento e o silêncio é tanto, porque o vejo eu tão bem no meu écran de TV em Lisboa. Decerto mistérios ou milagres do Altíssimo.
Os "mírdia" nacionais concentram-se no Futebolês e suspiram pelo próximo "derbie" entre o Benfica e o Braga, enquanto vão aviando tudo quanto é jogo entre clubes da estranja de alguma monta.
Sua Excelência Excelentíssima O Primeiro Primeiro aguarda o desenho completo da situação complexa e vai medalhando, beijocando, abraçando os nossos campeões do desporto. Sua Excelentíssima Excelência O Primeiro Logo A Seguir sorri oleosamente e indaga "qual é a pressa?...".
Portantos, portantos, devemos estar a viver uma nova edição, revista e ampliada, do "Fungágá da Bicharada", catrafilada ao pobre do Barata-Moura.
Que o Altíssimo Zé Povinho nos apoie!
Do Leopardo
confiante na Luta
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