Ele há verbos cuja acção é suficientemente explicita e que não precisa de ser explicada, basta indicar sobre quem ou o quê recai a acção. Por exemplo, se se disser "Rui mata" ou "Rui esfola", é suficiente indicar "quem" ou "o quê" Rui mata ou esfola : um coelho, uma pessoa, o SNS, etc.
Porém, se se disser "Santana é" é necessário explicitar o verbo ser: por exemplo, aldrabão, trapalhão, vaidoso, "tiffoso" de titis, etc. O que explicita o verbo "ser" denomina-se "nome predicativo do sujeito".
Não sei por que andanças os malabaristas que nunca riem e os palhaços dos flipes-flopes trazem-me à lembrança uma pessoa real, perdida na minha infância, que aviava sacos de carvão e copos de tinto carrascão, ali à Calçada de Sant'Ana, em Lisboa, numa travessa nas traseiras de uma igreja. Sim, naqueles tempos, as pessoas aqueciam, mal, as casas com carvão, e o sexo masculino pobre aquentava os corpos com tintos e bagaços ( baratos, na época... que o sr. Presidente do Conselho Salazar, Salazar, Salazar não queria que nos faltasse nada !... ).
Os pobres, iam queimando, lentamente, o carvão numas "braseiras" - espécie de conchas de latão amarelo, assentes nuns estrados de madeira baixinhos - por cima dos quais, as mulheres com saias até meio da canela, punham as pernas para irem aquecendo as carnes e as almas encomendadas ao Todo Poderoso .
Os ricos ordenavam às "sopeiras" que entornassem o carvão numas caldeiras, onde ardiam , aquecendo água, que circulava por uns tubos, tornando o lar inteiro tépido.
Era-se mais ou menos feliz ou infeliz - os pobres, de pobreza, sopa, lascas de bacalhau ; os ricos , de amores mal correspondidos ; todos, de fados da Dona Amália.
Ora, a pessoa que geria involuntariamente grande parcela desta Felicidade Infeliz era o senhor Amândio que vendia os tais copos, garrafas, garrafões de tinto do oeste do distrito lisboeta - vulgo, zona do Bombarral - e o carvão, talvez, das minas da Panasqueira. O senhor (não era suficientemente subido na escala social para levar um ésse maiúsculo...) Amândio era um homem rotundo, com o tronco não muito acima do balcão de madeira - onde passava constantemente um trapo húmido de cor indefinida - de carão redondo onde vogava um sorriso eterno e umas janelas oculares que piscavam de contínuo, girando timidamente na pele morena ou encardida pelo carvão. As mãos do sr. Amândio pendiam sempre à ilharga dos bolsos, com o tal trapo de cor e espécie indefinida, prontas a aviar mais um saco de carvão ou um "balde de três".
Já disse que, pelas bulas misteriosas da infância, perdi o senhor Amândio nos labirintos labirínticos da minha meninice, mas é Dele que eu tenho saudades, muitas muitas saudades, e não dos Rios-que-nunca-riem ou dos Santanas-flikes-flakes-flikes-flopes que me não fazem falta nenhuma ...
Saudações amigas e confiantes do
Leopardo
Não sei por que andanças os malabaristas que nunca riem e os palhaços dos flipes-flopes trazem-me à lembrança uma pessoa real, perdida na minha infância, que aviava sacos de carvão e copos de tinto carrascão, ali à Calçada de Sant'Ana, em Lisboa, numa travessa nas traseiras de uma igreja. Sim, naqueles tempos, as pessoas aqueciam, mal, as casas com carvão, e o sexo masculino pobre aquentava os corpos com tintos e bagaços ( baratos, na época... que o sr. Presidente do Conselho Salazar, Salazar, Salazar não queria que nos faltasse nada !... ).
Os pobres, iam queimando, lentamente, o carvão numas "braseiras" - espécie de conchas de latão amarelo, assentes nuns estrados de madeira baixinhos - por cima dos quais, as mulheres com saias até meio da canela, punham as pernas para irem aquecendo as carnes e as almas encomendadas ao Todo Poderoso .
Os ricos ordenavam às "sopeiras" que entornassem o carvão numas caldeiras, onde ardiam , aquecendo água, que circulava por uns tubos, tornando o lar inteiro tépido.
Era-se mais ou menos feliz ou infeliz - os pobres, de pobreza, sopa, lascas de bacalhau ; os ricos , de amores mal correspondidos ; todos, de fados da Dona Amália.
Ora, a pessoa que geria involuntariamente grande parcela desta Felicidade Infeliz era o senhor Amândio que vendia os tais copos, garrafas, garrafões de tinto do oeste do distrito lisboeta - vulgo, zona do Bombarral - e o carvão, talvez, das minas da Panasqueira. O senhor (não era suficientemente subido na escala social para levar um ésse maiúsculo...) Amândio era um homem rotundo, com o tronco não muito acima do balcão de madeira - onde passava constantemente um trapo húmido de cor indefinida - de carão redondo onde vogava um sorriso eterno e umas janelas oculares que piscavam de contínuo, girando timidamente na pele morena ou encardida pelo carvão. As mãos do sr. Amândio pendiam sempre à ilharga dos bolsos, com o tal trapo de cor e espécie indefinida, prontas a aviar mais um saco de carvão ou um "balde de três".
Já disse que, pelas bulas misteriosas da infância, perdi o senhor Amândio nos labirintos labirínticos da minha meninice, mas é Dele que eu tenho saudades, muitas muitas saudades, e não dos Rios-que-nunca-riem ou dos Santanas-flikes-flakes-flikes-flopes que me não fazem falta nenhuma ...
Saudações amigas e confiantes do
Leopardo
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