O dia 15 de Agosto é conhecido em Itália por Ferragosto. É feriado em toda a Itália, está tudo fechado e até o Superloto, se calha nesse dia, é adiado.
A expressão "Ferragosto" deriva do latim "Feriae Augusti", destinava-se a celebrar o Imperador Augusto e não se limitava ao dia 15, mas estendia-se a todo o mês.
Os antigos romanos utilizavam o fogo como fonte de purificação - os trabalhadores davam "auguri" aos patrões e recebiam em troca moedas .
Ainda hoje as pessoas acendem enormes fogueiras nas praias, saltando-lhes por cima ( o que exige coragem e é perigoso ) para combaterem as forças do mal e retardar a chegada do Outono.
O grande cineasta Federico Fellini - autor de tantas obras-primas como "Fellini 8 e mezzo", "La Strada" (com a mulher da sua vida, a espantosa actriz Giulleta Massina) , "Roma Cidade Aberta" em colaboração com o monumental "verista" Roberto Rossellini, etc, etc - focou também as festividades do Ferragosto nesse "capolavoro afascinante" "Amarcord", que é imperdoável perder-se ( os cinemas Nimas, em Lisboa, e o Teatro de Campo Alegre, no Porto, repõem até Setembro uma recolha da sua obra ).
Fellini sempre negou que a sua obra fosse autobiográfica, porém num estilo que mistura o onírico e o real mais caricato, a realidade do fascismo italiano é ferozmente caricaturada através de personagens maiores que a vida como a "beldade" de tonelada e meia que tem um orgasmo com a face sufocada do adolescente (talvez Fellini) entre os seios de arrobas, ou a ninfomaníaca que na praia se entrega a qualquer macho que surja, ou "La Gradiva", suposta rameira de luxo que todos os homens de Rimini cobiçam, ou o único antifascista ( pai de uma numerosa família, na qual só ele a mulher trabalham ) que ousa desafiar o poder militar fascista italiano, pondo a tocar na torre da Igreja a Internacional , coragem e provocação que os fascistas lhe farão pagar enfiando-lhe, com um funil, pela garganta abaixo uma mistela que o fará desfazer-se em diarreia durante dias.
Fellini negou elementos autobiográficos, todavia Rimini foi a sua cidade natal, e depois verdadeiramente não interessa - a não ser aos historiadores da Arte Cinematográfica - se o Mestre os viveu na carne ou não. Os personagens resistem ao tempo, às modas e tipificam uma época. Em meu entender, o Maestro Fellini convocou as suas memórias afectivas e, a partir delas, elaborou uma catedral cinematográfica.
Dando o meu modesto testemunho de apaixonado da "bota italiana", a cidade de Rimini é uma das poucas povoações italianas com uma praia razoável. Até tem uns trechos de areia acinzentada, para além de uns calhaus negros rolados, onde as pessoas jazem em cima de cadeiras de madeira. Nadei lá umas vezes, numa água morna e pouco transparente. Bom mesmo, só na Sicília, onde nunca pus os pés.
Agora, saltando destas notas sobre o Ferragosto - feriados que se propagaram a uma série de países ao norte de Itália, como a Áustria, a Hungria e outros mais para Norte - e passando aos incêndios que destroem Portugal e Ilhas de lés a lés, deixando o seu rastro de vidas ceifadas, terras queimadas e incultas, casas, celeiros, transportes, estradas destruídas, quiçá para sempre, com as entidades oficiais a afirmar que existem provas de uma rede de crime organizado, e as creditadas polícias lusas a deterem mais de 90 suspeitos e os Tribunais a deixarem-nos sair em liberdade condicional, assinalados por umas pulseirinhas.
Agora, mais um fogo ateado às portas da Covilhã, que mobiliza mais de um milhar de profissionais, que contracta mais 3 aviões-cisternas a Espanha - com o que isso implica em gordos €urios para o erário nacional e, portanto, para o Zé Povinho - não é aceitável que o chefe Costa venha palavrar sobre o Marquês de Pombal e delirar com harpejos de que só a destruição da Lisboa feudal pelo Terramoto de 1755 (seguido de maremoto e uns 100 mil mortos...) permitiu a construção da moderna Lisboa pombalina.
Oh chefe deixe-se de aldrabices ! O País e o Povo Português não precisam de um palhaço com queda para ditirambos. Precisam de um Chefe de Governo que legisle no sentido de travar e inverter o terrorismo do fogo encomendado.
E algo semelhante se exige de Sua Excelência Excelentíssima, o Senhor do Martelo que não pode limitar-se a ser uma carpideira de luxo, a lamuriar, abraçar e tirar "selfie's" com as vítimas ou os seus familiares. Deve assumir-se como o garante da Constituição da República - que jurou defender ! - e liderar no sentido de impedir a terraplanagem do território português.
Saudações sempre confiantes do
Leopardo
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