Uma minha paciente leitora e comentadora observou-me que eu não tinha sido completamente justo a respeito da minha estadia em Torre del Mar. De facto, não fui. Deveria ter acrescentado nos aspectos positivos que não se paga o parqueamento dos carros em sítio nenhum (também é verdade que se gastam meias-horas à procura de um lugar vago); deveria ainda ter dito que os preços nos restaurantes e supermercados são iguais ou mais baratos que em Lisboa (à parte aquela questãozita de que não gosto da comida "hermana"); deveria ainda ter teclado que o gasóleo e a gasolina são mais baratos em Espanha.
Sobretudo, deveria ter destacado a magnífica exposição de obras de Picasso - para mim, o maior génio da pintura mundial do século XX - com a qual pude mais uma vez maravilhar-me em Málaga. Apresenta obras de todos os períodos - azul, cubista, rosa, etc - , trabalhos de desenho, pintura, cerâmica, escultura, cenografia, assim como reflexões sobre a Arte, discutíveis, controversas, mas muitíssimo inteligentes.
É divertido verificar que a cidade de Málaga reclama Picasso como o grande artista malaguenho, mas Picasso saiu de lá muito cedo para a Corunha, aos 14 anos (1895) já pintava em Barcelona e, aos 16 (1897), em Madrid. É óbvio que precisava de contactos e escolas para crescer como artista que Málaga não podia proporcionar-lhe. O pai de Pablo Ruiz Picasso (o nome completo incluía 14 nomes!...) foi um pintor de rua medíocre - pintava pombos, pequenos quadros que entregava ao filho para acabar e depois venderem .
O psiquiatra português e excelente comunicador dr. Júlio Machado Tráz, aqui há dias fazia notar que existe hoje uma hilariante avidez da banda dos capitalismos nacionais para nacionalizar tudo o que pode render juros.
Assim, os franceses vão deslizando a insinuação que Picasso foi um génio gaulês, pois passou e pintou grande parte da sua vida em França - apesar das suas temáticas serem eminentemente espanholas e de resistência ao caudilhismo-fascista franquista. Aliás, Picasso está enterrado em Aix-en-Provence, no sul da França.
Não tardará, "os nuestros hermanos" a reclamar a nacionalidade espanhola para Saramago por este ter habitado em Lanzarote, nas Canárias . Ou o Governo moçambicano a reclamar a nacionalidade espiritual de Lobo Antunes por ele lá ter combatido com todos os traumas que o próprio escritor tem narrado. Ou as Índias a reclamarem Camões e "Os Lusíadas" - que nunca leram - pelo facto do Luís Vaz lá ter naufragado.
Estas micro-avidezes serão nada quando as Administrações das "stars and stripes" demonstrarem que as grandes obras de Arte e culturais são todas "cowboys", pois, na sua maioria, estão na posse de museus ou coleccionadores privados dos "States". Quem manda no mundo, manda na cultura. Os Romanos da Antiguidade sabiam-no perfeitamente.
Decerto, inadvertidamente para divertir os portugas, o sr.Brilho de Cascalho apresentou queixa contra o Sporting de Braga por empatar com os Dragões , facilitando a vida ao SLB. De facto, é inadmissível que o Estado Português não reconheça o valor do sr. Cascalho e não o exporte, a custos zero, para qualquer parte do planeta... por exemplo, para a Patagónia ou o Polo Norte... poderá sempre jogar ao pau com os ursos.
Ou, então, alguém deveria explicar com muita, muita, muita pachorra, ao sr. Cascalho "que o futebol é a coisa mais importante das coisas não-importantes" (máxima exemplar de um ex-jogador e ex-treinador de futebol cujo nome não retive).
For today, that's all folkes
Leopardus
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