Na sofreguidão de Vos transmitir o lodaçal que foram as eleições estado-unidenses - lodaçal que porta no bojo inúmeros ovos de serpente, lodaçal cujo único aspecto positivo que tem revelado é uma enorme rejeição da eleição do Trampas por parte substancial da população dos EUA -, esqueci-me de Vos falar de dois espectáculos a que assisti recentemente. Nessas eleições-lodaçal que importa já que os 155 mil votos que Hillary teve a mais tenham subido para 668 mil votos nas contagens que ainda não fecharam, ou que a actual mulher do Trampas , 30 e tantos anos mais nova do que ele, tenha pousado nua para a revista porno "Playboy" ou que tenha dançado no varão?!... Pelo que é dado observar, ser mulher do Presidente da "maior democracia do mundo", os "States", é uma lexívia que lava tudo...
Dentre os dois espectáculos esquecidos, um deles magnífico, um "capolavoro", a Ópera "OEdipus Rex", que resplandeceu no Teatro de São Carlos (em Lisboa, ao Chiado) durante três exíguas sessões.
Acrescento já que o único aspecto censurável é que uma obra de tal esplendor , e tão dispendiosa, só seja exibida 3 vezes (sempre com a lotação esgotada), e não seja levada, pelo menos, ao Porto.
Nas três récitas levadas ao palco do São Carlos não sei o que mais devo salientar: se a interpretação exemplar do Coro (elemento crucial da obra), dirigido pelo maestro Giovanni Andreoli (um italiano em aportuguesamento progressivo), se o tenor Nikolai Schukoff (OEdipus), se a mezzo-soprano Cátia Moreso (Jocasta), se a encenação com um ritmo trágico de estatismo de Ricardo Pais, se o despojamento espectacular da cenografia e figurinos de António Lagarto, se o acerto à altura da obra (o que não é dizer pouco) da Orquestra Sinfónica Portuguesa , dirigida superiormente pelo maestro Leo Hussain , de renome internacional em ascensão, se do empenhamento e acompanhamento invulgar de todos os que integraram as récitas.
A Ópera, resultante de uma colaboração entre Igor Stravinsky e Jean Cocteau, reinterpretou a tragédia grega de Sófocles, vazou-a no latim clássico, não tanto para nos dar o drama familiar (elemento central da teoria psicanalítica de Sigmund Freud) ou para se constituir como uma parábola sobre o Destino, mas, sim para ser uma alegoria entre as pulsões insubordinação/orgulho e a submissão que habitam o espírito humano. Além disso, Stravinsky pretendia virar uma página da Música, afastando-a das influências dominantes germânicas, "nebulosas", de Wagner e do romantismo de Debussy.
"OEdipus Rex" foi recebida sem entusiasmo pelo público nas primeiras récitas, que só lhe encontrava desarmonias, e recebeu dos músicos opiniões muito dissemelhantes, desde o louvor extremo ao desagrado total.
Entre os primeiros, Francis Poulenc - "A vossa arte alcançou tais alturas que seria necessária a língua de Sófocles para poder expressá-la" - e Maurice Ravel - "Stravinsky nunca está, felizmente, satisfeito com as suas últimas obras: ele está sempre à procura. (...) OEdipus Rex mostrou que, enquanto ele se diverte com as velhas formas, ele está, na realidade, a encontrar algo de novo."
Da banda dos segundos, Benjamim Britten - "(...) O entusiasmo do maestro pareceu não se ter transmitido aos espectadores. O coro cantou com a necessária precisão, mas monotonamente e sem grande vitalidade. A atitude da orquestra pareceu ser a mesma: os solistas (...) pareciam estar totalmente à deriva." Arnold Schönberg (considerado o pai do dodecafonismo) ajuizou: "Não sei o que deva gostar no OEdipus... é tudo negativo; invulgar teatro, invulgar encenação, invulgar resolução da acção, invulgar escrita vocal, invulgar representação, invulgar melodia, invulgar harmonia e contraponto, invulgar instrumentação - tudo "in" sem ser nada em particular... Tudo o que Stravinsky compôs é ruído, tudo o que é desagradável esta sua obra deve inspirar."
Quando Stravinsky morreu - a 6 de Abril. 1971, em Nova York, sendo sepultado, a seu pedido expresso, a 15 de Abril do mesmo ano, no cemitério ortodoxo San Michele, em Veneza - já ninguém contestava o marco incontornável que as suas obras constituem no património da Música, música de um finlandês que tão bem assumiu o espírito tradicional da música russa.
E depois de ter escrevinhado sobre a obra-prima "OEdipus", chamo-Vos a atenção para o filme "O Herói de Hacksaw Ridge", não para o irem ver, mas para não caírem na esparrela de o verem.
Inspirado num caso verídico da 2º guerra mundial, no caso de um americano, objector de consciência, que se oferece voluntariamente a ir para o campo de batalha, integrado nos serviços de saúde, para salvar vidas, mas se recusa a usar uma arma e, muito menos dispará-la. Afirma que deus é que o comanda e é o seu escudo. Em pleno campo de batalha, praticando actos de um heroísmo extremo e de improvisos de inteligência, salvará 86 militares americanos e uns tantos japoneses (japoneses que os serviços de saúde norte-americanos deixaram morrer) , na batalha pela ilha de Okinawa (no Japão, único teatro de guerra no qual as Administrações dos EUA investiram realmente, desejosas que estavam - e estão - de penetrarem economicamente na China e na Índia).
Portanto, um caso inspirado em acontecimentos reais - e entrelaçado com uma história romântica, igualmente inspirada no real - que poderia ter uma leitura pacifista, tão necessária nos tempos hodiernos. Porém, assim não pensam os donos de Hollyhood. Entregaram a direcção do filme a Mel Gibson e, nas mãos deste realizador troglodita, todas as películas se transformam num campo virtual de batalha sanguinolenta com os tambores da guerra a sobreporem-se a qualquer lampejo de pacifismo.
Se, apesar da minha advertência, insistirem em ir ver as duas horas de palavrões, explosões, estertores mortais, tudo servido em bandas sonoras mega-estereofónicas, verifiquem no final se algum sangue não Vos escorre também nos neurónios.
Todavia, no domingo jogou a Selecção Nacional de Futebol - sénior, masculina - superiormente liderada pela cara torturada do Fanan (do qual sou "tiffoso" à séria... tocam-me a alma a sua modéstia, ponderação, coragem, capacidade de sofrimento). Lá ganhamos, como não podia deixar de ser, a uns matarruanos de uns lapónios, brutos com'às casas... Eu, que não percebo nikles de futebol nem exibo pretensões a perceber, falhei no resultado (costumo acertar, vá-se lá saber porquê). Tinha previsto que ganhávamos por 3 a 0 e o Fanan compensou-nos com 4 a 1. É de míster !! Eu festejei com uma garrafa de bom tintol da península de Setúbal e umas aguardentes velhas. É também o meu desforço sobre o Trampas .
No registo trágico-cómico tivemos a prisão do Piloto . O psicopata com vários assassínios às costas, que os "mírdia" agora apodam de "presumível delinquente", entregou-se às forças policiais exigindo a presença dos órgãos da Comunicação Social. E as polícias anuíram ! O malandro, acolitado e instruído por uma equipa de advogados (pelos vistos dinheiros não faltam...) , exibindo um focinho de pão sem sal, defende-se afirmando "eu sou maluco!, então não se vê logo?! não me lembro de nada", afirmações que demonstram que psicopata será, mas com perfeita consciência de tudo o que cometeu.
E eis o Piloto transformado em folhetim nacional... Isto não se faz à Teresa Guilherme que praticó-concretamente usufruía do exclusivo com a sua Casa dos Segredos dos"bas-fond" ...
É verdade que o Piloto apresenta uma vantagem: parece que o homem sobreviveu durante um mês a castanhas. O que constitui, como é óbvio, uma excelente propaganda à boa da castanha nacional. Proponho imediatamente que se proponha a Castanha Nacional a Património Cultural da Humanidade. E que se envie uma arroba de castanhas nacionais ao Obama, ao Trampas e à Hillary... só para aquilatarem o que são os portuguesinhos valentes...
Outro caso de milagre são as descidas e subidas da economia nacional e alemã. Todos os dias sobem ou descem, variam (ou vareiam? ou varejam? , o sr. Malaca Castel-Queijo que me desculpe, porém aquele seu iluminado Açordês deslumbra-me e entontece-me !) uns pontos. O Instituto Nacional de Estatística (INE) concluiu à pouco que o PIB (Produto Interno Bruto) português, em 2016, subiu para 1,61. É de maravilha, sobretudo face à economia alemã que desceu não sei quantos pontos, apesar da alegria incurável de herr Schültz e da chanceler Merkel .
Sua Excelência Excelentíssima, o nosso Primeiro Absoluto nos Negócios do Estado encontrou uma expressão sublime para definir a subida do nosso PIB: afirma Sua Excelentíssima Excelência que mais ponto menos vírgula do nosso PIB, ele prefere ver "o copo meio cheio" em lugar do "copo meio vazio" dos do bota-abaixismo. Medir o PIB aos copos só uma inteligência com'à dele s'alembraria... Digamos que é uma pipa de esperança que Sua Excelência oferta à Nação. Retiro-me, curvado, às arrecuas.
E para terminar com sal esta parlenga de hoje, quero recordar que o nome Vatel não surge por acaso como marca de alguns tipos de sal. Foi repescado de um famoso cozinheiro do rei Luís XIV (século XVII) que bastante contribuiu para a fama, justificada, da cozinha francesa. Entre outras coisas é-lhe atribuída a invenção de creme de "chantilly" (o que é contestado por italianos, espanhóis e "tutti quanti" eram Nações de peso na época... a cozinha tem igualmente um importante papel político e ideológico!). Vatel ficou de tal forma famoso que, quando se quer afirmar que fulano é um grande cozinheiro, se diz "é um Vatel". O grande actor Gerard Depardieu já interpretou a figura de Vatel numa excelente película, lição de história sobre a centralização do poder no rei e a transformação da poderosíssima nobreza feudal numa nobreza de corte.
E, vejam lá, segundo rezam as crónicas, o talentoso e ambicioso Vatel suicidou-se aos 40 anos por supor que iam falhar uns festejos que Luís XIV o encarregara de organizar para inaugurar a abertura do Palácio de Versalhes. Festanças que duraram 2 semanas, para 60.000 convidados, festanças que incluíam espectáculos musicais, óperas, teatro, ballet, performances diversas, para além dos banquetes.
Mas, a que propósito vem esta minha referência a Vatel? Devido ao sal. O sal, usado inicialmente como um produto farmacêutico (por causa do seu preço), tornou-se posteriormente fundamental na alimentação, nomeadamente para temperar as belas das castanhas - as batatas só chegaram, infelizmente, depois da descoberta do Novo Mundo, as Américas. Ora, sem sal, que seria das belas castanhinhas portuguesas com a sua quota parte na subida gloriosa do nosso PIB ?!!...
E, como o senhorito B.de.C. não contribuiu nos últimos dias com nenhuma altercação nova para nos alegrar as existências cinzentas, para além de se ter apurado que cuspiu para o cara do presidente do Arouca e de nos termos inteirado que o designado presidente do Arouca está à altura litigiosa de B.de.C. , termino por hoje este blogue, antes que a trampa me entupa a paciência.
Saudações amistosas
e um pouco mal-cheirosas
do Leopardo
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