Reflexões do Leopardo

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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Piscares de olhos ao Centrão, à Direita, à Esquerda e ao Passado

Como se sabe a expressão "piscar o olho" foi cunhada na linguagem política por Carlos Carvalhas, então secretário-geral do PCP, e o camarada muito foi satirizado por ela pela social-democracia dos diversos matizes e pela direita pura e dura.

É, no mínimo, divertido que a expressão e a prática, sobretudo esta, sejam agora repescadas em crescendo nas Comemorações da Implantação da República Portuguesa.

O tom foi dado por Sua Excelência Excelentíssima, o Primeiro Absoluto nos patamares do Estado Português. Num discurso matinal, acolitado por duas centenas de pessoas, perorado nos Paços do Município em Lisboa, Sua Excelentíssima Excelência piscou seus olhos deliquescentes para o Centrão, a Direita, a Esquerda e, mesmo, o Passado.
Garantiu Sua Excelência Excelentíssima que o "conceito" e o "sentimento" de República estão profundamente enraízados no Povo Português, razões pelas quais os que são afectos à Causa Monárquica são acolhidos com tolerância e mesmo alguma simpatia pelos restantes cidadãos (eu diria que esta é uma elipse verbal suave para lhes dar duas palmadinhas amigáveis nas costas e os tratar como os tontos da Companhia).

Aliás, esta "delicada" simpatia presidencial pela Causa Monárquica despertou nos seus prosélitos um ardor submerso, pois têm aparecido no Facebook, a partir daí, uns escritos laudatórios a Dom Afonso Henriques (filho de um emigrante francês à cata de fortuna nas estranjas) e a sua mãe, Dona Tareija (espanhola do Norte, depois de viúva, amancebada com um galego), escritos certamente da autoria de vários pseudónimos de um mesmo "historiador" pouco preocupado com a realidade ida, todavia, preocupado com a sobrevivência da Causa Monárquica (dependurada num quinto andar escalavrado no Largo de Camões, em Lisboa). Aguardemos para verificar se o dislate atinge o ponto de tanger ditirambos a Dom Duarte Nuno, objecto de divertimento e pilhérias sem fim no Colégio Militar quando por lá gaguejou.

Acrescentou ainda Sua Excelência que os anelos da Arraia Miúda por salários e pensões de reforma mais entumescidos são perfeitamente compreensíveis, porém, têm que ser compatibilizados com o reequacionamento do Superior Orçamento do Estado - que pertence à ordem dos "factos" - e com o igualmente Superior compromisso do Estado Português na Aliança Militar de que faz parte, vulgo NATO, cuja qual é, como faz parte da sabedoria generalizada, um organismo pacífico, que uma vez por outra lá é obrigada a distribuir "uns safanões a tempo" (os deuses sabem como é pesado o fardo do homem branco para trazer o gentio à civilização "empreendedora"...).

Aqui, desculpem-me, mas tenho de pausar, pois é tamanha a omnisciência de Sua Excelência que me chegaram as lágrimas aos olhos. Já me imagino a pedir emprestado um super-jacto da Força Aérea ou um submarino da Marinha de Guerra (ainda que alemão, velho, só a navegar à superfície) - não esqueçam que são materiais da Rés-Pública, ou seja, da Coisa Pública - para ir passear até Caminha, vila minhota na foz do rio Minho, vila dos meus encantos. Com um bocadinho de sorte, ou de azar, consoante os ventos, posso até gozar da companhia de Sua Excelência, que rubicundas bochechas não lhe faltarão para oscular, ao som das trauteadas e coreografadas intervenções do Abrunhosa , que é mui amigoche do Excelentíssimo. Com ventos dominantes favoráveis, digam lá se este não é um sonho 28 estrelas...

Antes de falar Sua Excelência Excelentíssima, pronunciou-se o recente Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, cujo nome não retive devido à sua recente notabilidade. O cujo qual presidente, com nome em processo de sedimentação, ao som de fanfarras tonitruantes , assegurou que a "Geringonça"está para lavar e durar, apesar dos pauzinhos na engrenagem introduzidos pelos estropícios do costume - leia-se, PCP, CDU, ID, Verdes, CGTP-IN e Sindicatos afins - e que passos pequenos, é certo, mas seguros, se vão dando, direitos, não "a amanhãs que cantam", mas, direitos a um futuro mais justo e consensual.

Logo que a recente notabilidade findou sua falação, "os mírdia"esganaram-se a sugerir que aquele era decerto um discurso de primeiro-ministro e não, apenas, um discurso de um mero presidente de Câmara, embora a Câmara seja a de Lisboa, e Lisboa seja a capital do País.

 É óbvio que este discurso "mírdial" é um epitáfio antecipado - e encomendado - ao nosso Primeiro Primeiro Logo A Seguir e uma via de despejo das suas actuais funções. Pelo que ficamos todos a conjecturar qual será o desenho completo das intenções e programas da Direita.
Óbvio igualmente, que a "Geringonça" , pese embora os seus "pára-arranca", alguns progressos arrecada para a vida da Arraia Miúda.

Sua Excelentíssima Excelência o Primeiro Absoluto nos patamares do Estado Português congratulou-se hoje com a vitória de António Guterres (também vulgarizado como Bochechas 2, versão suavizada) na sua eleição-cooptação para o cargo de director da ONU. Congratulou-se com uma eufrásia épica, luminosa: "está bem tudo o que acaba bem e ganham os melhores".
Não duvido da originalidade e do adequado da frase, mas, derivado do meu modesto QI - que de forma nenhuma aspira a equiparar-se ao de Sua Excelência - e da desconfiança característica dos Felídeos, não consigo entender em que é que a designação de um português para um alto cargo das mais altas Organizações do "Ocidente" benefícia o Povo Português e Portugal, dado que, até ao presente, mal estas notabilidades abandonam o solo nacional são acometidas de uma amnésia súbita, olvidam o solo natal, e nada na sua prática concreta traduz o amor pela Pátria e o seu Povo.

Contudo não devo deixar que esta edição do blogue finde no politikês. A sua dimensão explicitamente cultural vem da primeira edição. Também ontem e hoje, na RDP, Antena 1, ouvi uma dupla - uma voz masculina e uma voz feminina, cujos nomes ainda não 
fixei (podem enviarmos porque eles merecem) a cantar muito bem. Que cantam eles? Na sua essência apenas um estribilho, que redunda em afirmar que vivemos sós, estamos sós e sós morremos. Terminam em dó menor de fado negro.

Ora, tendo eu apreciado as vozes que cantam, discordo profundamente do conteúdo da mensagem transmitida. E discordo a partir da minha militância política, da minha vivência da criatividade literária, da minha vivência afectiva. E porquê? Porque todas elas estão pranhas de outras vozes que não a minha, porque em todas elas ressoam outras vozes que constantemente me acompanham, com as quais discuto, argumento, converjo, divirjo. Sinto sempre relutância em apodar de meu os textos que vou parindo, pois todos eles ressoam de vozes que me assaltam de todos os lados.
E é também para os outros - os que conheço, os que ainda não conheço e os que nunca conhecerei - que escrevo. O socialismo, o comunismo - as suas variantes à viola e à guitarra, e os seus antípodas mail'os seus matizes -  não se fecham na gaveta, enxameiam o que sentimos, o que pensamos, o que fazemos.
E, afirmo eu, também ocorre semelhante com a dupla que canta tão bem que, embora assevere o contrário, grava um CD, vai à Antena1 defendê-lo e aguardará que se venda, que seja ouvido muitas vezes, que se escrevam recensões favoráveis. Se fosse apenas uma questão de sobrevivência e de "money, money, money" poderiam arriscar menos, praticar um jogo mais caseiro, cantarolar uns romantismos róseos com um acorde por outro levemente ácido, mas camuflado.

Se os ditos cantores respingarem, ou algum do meus pacientes leitores, poderei desenvolver o tema das convergências entre a Filosofia e a Música, que, aliás, me foi suscitado por esta dupla tão bem cantante . Sempre as vozes dos Outros que ressoam nos meus interiores !...  



Caros Amigos não consigo aqui enfiar as fotos que pretendia de Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa, António Guterres, Cavaco Silva, dado que os stocks de imagens das personalidades referidas, as bloqueiam e o tornam na prática impossível para as minhas reduzidas competências de internauta. 



Amplexos desconfiadamente confiantes do

Leopardo, confiante apenas na Luta Colectiva           

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