Reflexões do Leopardo

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terça-feira, 28 de março de 2017

Sónia B no Aquário

Sim, fui ver o filme "Aquarius" com a Sónia Braga no principal personagem. Eu poderia arrumar, curto e grosso, este comentário teclando: é a Sónia B encerrada, às voltas, no aquário do seu narcisismo.
Contudo, a memória do extraordinário "Gabriela, Cravo e Canela" (exibido como folhetim na RTP em 1975) merece um pouco mais de respeito.

"Aquarius" é uma película da diva Sónia B,  à qual nem sequer pode ser aposta a desculpa de que a realização não é dela, porque o realizador declarou numa entrevista que a diva interferiu em cada fotograma e na sua montagem.
Escrevi em cima que a Sónia é o principal personagem, mas deveria ter redigido que é quase o único personagem, pois em cada 10 fotogramas, ela está presente em 9 ! Temos a desdita de observar a Sónia B a enrolar e desenrolar o cabelo, a maquilhar-se, a tomar banho, a dormitar, a exibir uma das mamas até à exaustão (será que, obsequiosos e subservientes, nunca ninguém lhe fez o favor de explicar que ela já não é o "sex simbol" de há 42 anos atrás?).

É uma obra recheada de boas intenções e de uma miscelânea de confusões: pretende denunciar como as grandes empresas do imobiliário esmagam os pequenos proprietários de um apartamento (mesmo que ele pertença à média alta burguesia e seja uma notável nos meios de comunicação) e acrescenta-lhe umas pitadas de feminismo e de "liberação" da mulher, que Sónia B confunde com o machismo típico de muitos homens ( a capacidade económica de comprar sexo a um prostituto masculino ou comentar os homens em torno como se fossem peças de carne dependuradas no talho ).
Na luta entre a notável dos meios de comunicação social - a televisão brasileira - e o Grande Capital Imobiliário, Sónia B encena-se como o São Galaaz a combater o Dragão: sozinha, queixo erguido virado para a direita, dedo indicador esticado, impositivo, ameaçador. Termina o filme à modernaça com um final aberto (à nossa imaginação, aos nossos desejos, aos nossos preconceitos).
Eu encerro este comentário teclando que a memória da "Gabriela, Cravo e Canela" merecia bem melhor.

O BE, isto é, as forças de Bloqueio à Esquerda, vieram nestes últimos dias vangloriar-se de que vão retirar a maioria ao PCP no concelho de Almada com a candidatura de Mariana Mortágua (parece de facto o primeiro imperativo que se apresenta a uma força que se diz de Esquerda subtrair força a um Partido de Esquerda, e não atacar a Direita...). É igualmente curioso que o BE distribua as missões mais caricatas à carinha laroca Mortágua... Devem considerar que a rapariga tem jeito para entremezes.
Depois de andarem a lutar pela legalização das "trabalhadoras do sexo", ou seja pelo comércio legal da prostituição e dos proxenetas, nada assentava melhor ao Bloqueio à Esquerda. É que os enormes "out-doors" que prantam por todo o País custam muito guito. Os favores dos "mírdia" também não são à borla. Com alguma coisa é preciso pagá-los... que se queimem os princípios...
No final desta edição, responder-lhes-ei com versos do gigantesco Neruda.

Para que esta edição do blogue não termine em desgraça, deixo aqui a notícia de que Ivan Lins vem cantar a Lisboa no dia 18 de Maio.2017. Cantará em conjunto com Paulo de Carvalho (sim, o que cantando, deu o sinal para a libertação do 25 de Abril). Confesso que não tenho presente a obra musical de Ivan Lins, todavia tenho fortemente a favor dele que faz parte das primeiras 750 personalidades de primeiro plano que, no Brasil, recusaram o Açordês/90, assinado pelo lado português pelo sr. Malaca Cauteleiro ou Malaca-Castel-Queijo ou outra infrascendência semelhante.

E nestes tempos de trampas  e de re-leitura da História, vamos então às pérolas do gigantesco Neruda:
- sobre a prostituição: "Uma vez, na Bahia, as mulheres/do bairro dolorido,/do antigo mercado de escravos/(onde hoje a nova escravidão, a fome,/os trapos, a condição dolente,/vivem como dantes na mesma terra),/ofereceram-me flores e uma carta,/ algumas palavras ternas e flores./Não posso afastar a minha voz de quanto sofre."

"Da prosperidade nasceu o bordel,/que acompanhou o estandarte/das notas amontoadas:/sentina respeitada/do capital, porão do navio/do meu tempo./Houve bordéis/mecanizados nos cabelos/ de Buenos Aires, carne fresca/ exportada pelo infortúnio/ das cidades e dos campos/distantes, onde o dinheiro/espiou os passos do cântaro/ e aprisionou a trepadeira./Lenocinios rurais nas noites,/de inverno, com os cavalos/ à porta das aldeias/ e as raparigas aturdidas/que caíram de venda em venda/nas mãos dos magnates."

- ao Brasil e a Luís Carlos Prestes: "Por isso vejo Prestes caminhando/para a liberdade, para as portas/ que em ti, Brasil, parecem fechadas,/cravadas na dor, impenetráveis./Vejo Prestes, a sua coluna vencendo/a fome, atravessando a selva,/em direcção à Bolívia, perseguida/pelo tirano de olhos pálidos./Quando volta à sua terra e toca/o seu campanário combatente,/encarceram-no e entregam/a sua companheira ao pardo verdugo/da Alemanha."

- "Durante onze anos o seu nome foi silenciado./Mas viveu como uma árvore/no meio de todo o seu povo,/venerado e esperado./Até que a Liberdade/foi buscá-lo à prisão/e saiu de novo para a luz,/amado, vitorioso e cheio de bondade,/despojado de todo o ódio/que lançaram sobre a sua cabeça."

- à União Soviética e a Stalin: "Em três aposentos do velho Kremlin/vive um homem chamado José Stalin./Tarde se apaga a luz do seu quarto./O mundo e a sua pátria não lhe dão descanso./outros heróis deram à luz uma pátria,/ele ajudou também a conceber a sua,/a edificá-la,/a defendê-la./A sua imensa pátria é, pois, parte de si mesmo/e não pode descansar, porque ela não descansa."

Como mui bem percebem, o meu desejo era vazar-lhes nos toutiços o "Canto Geral", mas a mais elementar sensibilidade me sussurra que devagar se chega longe...
Bamos então aos bonecos. 


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Saudações confiantes na luta colectiva, organizada, debatida

o Leopardo
 


segunda-feira, 27 de março de 2017

Neruda ou o Anti-Neruda ?

É claro que os meus ilustríssimos (e pacientes) leitores já descobriram que fui ver a película "Neruda", realizada por Pablo Larrain e interpretada por actores como Luis Gnecco, Gael Garcia Bernal, Mercedes Móran, e rodada com o apoio do Chile, da Argentina, da França , dos EUA.


Os críticos encartados da cinefilia embandeiram em arco, pátáti-pátátá pardais ao ninho, que o Larrain ultrapassa, pela esquerda e pela direita, o galês/britânico Peter Greenaway, que os actores e actriz etc e tal. 
Cá o Leopardo das eras pré-glaciares dos Hermínios , no que respeita aos actores e actriz, está de acordo. Excelentes interpretações. No que concerne ao realizador Larrain , estou entre o perplexo e o pronto a desferir-lhe umas patadas com garras.
Atão não é que o fedelho nos apresenta o Pablo Neruda (L.Gnecco) como um divo mimado, gordalhufo, frequentemente bêbado e anichado nos braços da amante (M.Móran), ou de umas rameiras decadentes, a vazar espumante e o primeiro verso, sempre o mesmo, de um conhecido, belo e longo poema - "Posso escrever os versos mais tristes esta noite"?!...
Saí do cinema numa confusão tal, entre a perplexidade e a indignação, que a meio da noite me levantei da cama, procurei o meu "Canto Geral" (edição da "Campo das Letras",1998; com apresentação, tradução, glossário e notas de Albano Martins) , enfronhei-me nele e nas pouco fiáveis wikipédias (mas quem não tem perdigueiro, caça com gato) até ao luzir da alba. Voltei para a cama mais tranquilo.

Lá que o Neruda era gordo foi um facto incontornável. Que beberia sem contar os copos não vale a pena discutir. Que amou demasiado as mulheres ou demasiadas mulheres é das crónicas. Que seria excessivo nas suas explosões de afecto e desafecto não custa acreditar.

Mas reduzir a vida do enorme poeta Pablo Neruda a um duelo semi-imaginário entre ele e um polícia, símbolo metafórico da violentíssima polícia do general Videla, polícia-cão-de-fila (irmão  romanesco do inspector Javert que persegue incansavelmente Jean Valjean, fugido das galés por ter roubado um pão para alimentar a família, ambos imortalizados por Victor Hugo nos "Miseráveis" , obra escrita cem anos antes) que é o seu duplo na alma, do outro lado da frágil linha divisória entre o Bem e o Mal, é excessivo, mesmo concedendo uma enorme faixa de boas intenções para estes espíritos greenaway. Contudo, de boas intenções está o inferno terrestre cheio.

Diz-nos Albano Martins que o projecto da obra "Canto Geral", iniciado em 1938, como "um Canto geral do Chile" viria a transformar-se num "canto geral da América".
Amigos, como é possível reduzir o autor de uma obra onde a maioria dos habitantes deserdados da América Latina ( o seu grosso, afora os pata-ao-léu dos outros continentes) se reconhece e interpreta como a sua voz, a um duelo narcisista, encenado e interpretado por Neruda? Como é possível reduzir o autor de uma obra imensa (o "Canto Geral" ocupa 588 páginas, fora o glossário e notas, e é apenas uma das obras numa galáxia de poemas muito mais vasta), escrita sensivelmente entre 1921 e 1973 - foi Nobel da Literatura em 1971 - a um duelo narcísico (por mais greenaway que se seja)?!...
Neruda que escreve a sua galáxia de poemas, em condições de rigorosa clandestinidade, mudando de casa-esconderijo para casa-esconderijo, por vezes três tocas de refúgio no mesmo dia. E não viveu na era dos telélés nem dos computadores, internets, wikipédias, "and so on".

Amigos, Pablo Neruda (amigo pessoal de Federico Garcia Lorca, Rafael AlbertiPicasso e tantíssimos vultos notáveis do século XX) foi uma lenda viva das forças de Esquerda, dos militantes Comunistas do século XX ! !! (independentemente do valor artístico que se atribua à sua obra). Neruda que dedicou estrofes a Simão Bolivar, a Carlos Prestes, a Staline. 
Abdicou da sua intenção de se candidatar à presidência do Chile (tal o seu prestígio) depois da deposição de Videla , após ter conhecido pessoalmente o socialista verdadeiro Salvador Allende, massacrado no palácio presidencial de La Moneda, por Augusto Pinochet  , recém-chefe das Forças Armadas, que foi apoiado por força aérea estrangeira, ainda não claramente identificada, Pinochet que tinha jurado fidelidade a Allende, semanas antes...

Talvez , uma boa síntese do sentido da obra Neruda possa ser encontrada no filme "Il Postino", com a acção transposta para Itália, na qual um carteiro ("il postino"), após Neruda lhe ter explicado o que era uma metáfora - a fim de o carteiro poder namorar uma rapariga do seu gosto - , explicar ao poeta que, afinal, a Poesia é tão somente o Oceano onde se encontram aqueles que se amam.

Talvez, por essa mesma razão, a casa de Neruda em Santiago do Chile, apelidada de "La Chascona" foi assaltada e saqueada pelos sicários de Pinochet. Hoje, restaurada, é museu nacional e pode ser visitada facilmente.
Augusto Pinochet, posteriormente promovido a general e marechal, "always helped by dear friends britain and cowboys" , foi deposto pela luta popular e por plebiscito, após uma longuérrima e desapiedada ditadura militar com milhares de assassínios e crimes no dorso, sendo acolhido e enterrado em Londres com honras de chefe de Estado. Só crimes maiores são-lhe assacados 330, entre eles o de Neruda, que terá mandado assassinar com uma injecção letal. A versão oficial, na época, é a de que tinha morrido de um cancro na próstata, mas um assistente e motorista do poeta insiste no assassínio pela injecção. O corpo foi exumado, têm sido empregues as técnicas mais recentes de análise  e o caso continua em julgamento nos tribunais internacionais...

Talvez, Pablo Larrain não seja tanto para jogar fora, se lhe dedico tanto espaço. O esforço para combater o seu desentendimento, ou o meu desentendimento do entendimento dele, significará decerto um certo respeito. Senão bastava dizer-lhe "oh filho, chega p'ra lá, vai vender carapau podre pá tua rua". 


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Saudações militantes do

Leopardo

sexta-feira, 24 de março de 2017

Açordêses

Um estimado camarada veio-me transmitir a sua opinião sobre o Acordo Ortográfico/90. Considera que alguma coisa já precisava de ser mudada, que outras coisas são inaceitáveis, que o erro fundamental foi a forma como o AO/90 foi lançado, não tendo havido uma discussão prévia sobre ele.

Respondo-lhe nesta edição do blogue que um dos erros crassos do AO/90foi assentar no princípio de que o critério principal para a mudança deveria ser a Fonética. Nunca o foi em nenhuma Língua - desprezando a Etimologia,a Sintaxe, a Semântica, e atropelando-as - e no caso do AO/90 , com uma clara prevalência do português do Brasil sobre o português de Portugal, língua-mãe.

Lembro-lhe o caso do Inglês de Inglaterra, os que mais expandiram a sua língua a nível mundial(foi "o Império onde o Sol nunca se punha")depois dos Romanos, que nunca fez Acordo algum em tempo nenhum, nem mesmo com os seus queridos filhos (posteriormente patrões)cowboys(Shakespeare,Oscar Wilde continuam a ser representados no belo inglês de Oxford , nas Ilhas Britânicas).

O AO/90 constituiu claramente uma OPA do Governo brasileiro sobre o Governo português para facilitar a entrada das grandes empresas brasileiras nas ex-colónias portuguesas, dado o muito maior potencial do Brasil em enviar professores seus e o seu material didáctico para essas regiões.
É sempre uma elementar perguntita a colocar: a quem é que um Acordo beneficia economicamente...

Aliás, o AO/90 acabou até mesmo por abranger um país centro-africano - a Guiné Equatorial - onde nunca se falou, ou se fala, nenhuma variante do português, ou regiões administrativas da Índia - Goa, Damão e Diu - onde o português não constitui mais que uma recordação estropiada. Por exemplo, tenho uns excelentes amigos provenientes de Goa que, após 42 anos de residência no rectângulo nacional, se expressam numa miscelânea,onde os sujeitos raramente acertam com o tempo verbal, os substantivos e os adjectivos são reduzidos a um círculo restrito, as conjunções e preposições pérolas raras.
Não é de estranhar que o Governo brasileiro tenho aceite como parceiro negocial pelo lado português o doutoreco Malaca Casteleirodado os seus exíguos conhecimentos da matéria em causa, o seu nulo peso negocial, a sua avidez pelo pilim envolvente, o próprio reconhecimento da sua incompetência pessoal, que já admite rever o Acordo tão recentemente assinado.
Ao doutorico Malaca Cauteleiro não lhe suscitou nenhum prurido cerebal que a Associação Portuguesa de Escritores e a Sociedade Portuguesa de Autores rejeitem o AO/90 nem que centenas e centenas de intelectuais prestigiados (escritores, tradutores, letristas, guionistas, músicos),do lado português e do lado brasileiro, recusem usar o Açordêz.

Pode ainda ajuntar-se que o Brasil nunca implementou o AO/90 .A rica Angola,com enormes assimetrias económicas e culturais no interior, com a região do Lobito a reclamar o francês, tem mais em que pensar. Moçambique, com 3.200 quilómetros na longitude maior, vivendo essencialmente da agricultura e da pesca, com inúmeras etnias internas, a sua unidade sempre ameaçada pelo terrorismo da Renamo , a passada e pesada influência afrikander, a sua primeira prioridade está longe de ser a aplicação do AO/90. No que concerne a Cabo Verde sempre falou crioulo que só entendemos com tradutor adequado, apesar de gostarmos imenso de ouvir Cesária Évora a cantar descalça o "Nhá Crétcheu".

A questão que se coloca é o que fazer com o AO/90, que, entretanto, entalou bem entalado uma geração de alunos em Portugal e uma geração de professores tão desorientados como os seus alunos?
Evidentemente que não é remendar o Açordêz da discórdia, verdadeira falcatrua frankeinsteiniana, mas rasgá-lo, queimá-lo, e, porventura, depositá-lo nos resíduos tóxicos de Almaraz.E expedir para lá o sr. Malaca-Castel-Queijo na expectativa de que se dê bem com a atmosfera..É uma questão de autonomia cultural, um imperativo nacional,um imperativo patriótico! 

Um outro assunto tem agitado os tablóides: os alunos da Universidade Nova de Lisboa exigiram o cancelamento de uma conferência do sr. doutor Jaime Nogueira Pinto ,conferência que lhes tinha sido imposta. E exigiram o seu cancelamento mui judiciosamente, pois Nogueira Pinto é um fascista salazarento assumido, que tem vindo a ensaiar um processo de edulçoração,assim uma espécie de fascista com o qual se pode dialogar democraticamente. 
Uma recente gravação vinda a lume testemunha que, na altura da libertação de Angola do jugo colonial salazarento, o sr. Jaime Nogueira Pinto encontrava-se a jantar na casa do general Silvino Silvério Marques,prontos para emitirem ordens e resistir de armas na mão ao processo de descolonização em curso, quando recebem a notícia que o almirante Rosa Coutinho, "o almirante vermelho", acabava de chegar a Angola , representando o poder triunfante em Lisboa, e se preparava para entregar o poder às forças de libertação angolanas, decerto o MPLA.
Rosa Coutinho era visto pelo distinto grupo de fachos reunido na supra-citada sala de jantar como a própria encarnação do Belzebú chifrudo e vermelhusco,chispando terrores, as quais destacadas notabilidades salazarentas, num desânimo, braços caídos, verteram as mimosas "pérolas" que seguem. General SSMarques para a consorte:"Manda a mainata fazer as malas !". Consorte para Sexa gen. SSMarques :"Nunca as desfiz."
Enternecedor, não é?! E esclarecedor.

Ora, os alunos da Universidade Nova perceberam perfeitamente que os fachos só aparentam tornar-se dialogantes quando estão em perda. Uma vez triunfantes sacam dos varapaus...ou das câmaras de gaz. Aliás, depois da sua referida exigência de cancelamento, já sofreram umas visitas dos encapuçados trauliteiros do PNR.

Entendimento igual não tem Rúben de Carvalho, que vai alimentando umas conversadinhas com o supra-citado sr. Jaime Nogueira Pinto - ideólogo fascista que nunca publicamente traiu os seus ideais - nuns diálogos de fins de semana, crismados em momento infeliz de "Radicais Livres".
Ninguém duvida do amplo saber nem das intenções democráticas de Rúben de Carvalho ao participar nas citadas conversas radiofónicas: aguarda seguro que o confronto de ideias demonstre à saciedade quem tem razão e quem a não tem.

Porém,as citadas conversas, em horário nobre, assentam em 3 enganos cruciais:
- que os "radicais livres" são radicais pessoais, independentes de ideologias políticas partilhadas, constituídas em partidos políticos (qualquer dos intervenientes são personalidades destacadas de partidos políticos conhecidos);
- que os extremos ideológicos, no fundo, se tocam (os dialogantes até riem em conjunto e com frequência !)
- que um fascismo pode ser democrático, não está destinado a "ditar", impor pela força.

As conversas "Radicais Livres" são tão simpáticas para o semanário de Direita "Expresso" que as aponta como um paradigma de diálogo político "civilizado", "exemplo a seguir". Seria extraordinário que um tablóide enaltecesse iniciativas que ferissem os seus valores...

No meio de tudo isto o esgrouviado Presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem expeliu paleio acintoso para os Povos do Sul da Europa. Qualquer coisa como "as gentes do Sul gastam tudo em copos e mulheres, trabalhar nikles, batatóides". Mais ponto menos vírgula, o holandês (que não é "voador" como pretendia Wagner)foi de uma vezada xenófobo, racista, sexista. Porém, apesar de muito criticado, assevera que foi mal interpretado, que não pedirá desculpas e não se demitirá. Que está bem apoiado no ministro alemão das Finanças,herr Wolfgang Schäuble e em Mario Draghi,Presidente do Banco Central Europeu,e político italiano em queda livre no seu País.

Como se tudo isto não chegasse (para pior basta assim), o Toni das Guitarradas, secretário-geral da ONU , cujo assento no cargo havia quem profetizasse que seria uma mais-valia para Portugal harpejou, lá do alto assento aonde atrepou, que determinados montes em Israel foram, inegavelmente, santificados em primeiro lugar por "judeus". O que provocou de imediato um protesto e a exigência de um pedido de desculpas por parte das Autoridades do Governo Palestino por tais afirmações não serem conformes à verdade dos factos.

Neste entremez, Sua Excelência Excelentíssima o nosso Primeiro Dinossáurio atirou-se aos ares da indignação com o boicote dos alunos da Universidade Nova (que raio de democracia é esta em que os fascistas já não podem fazer propaganda!...), estica trémulo o dedo indicador contra o Presidente do Eurogrupo, mas assobia para o lado no caso do Toni das Guitarradas (talvez, avento eu, por estar em jogo Israel sionista, a Administração neonazi das Trampas e a NATO, guardiã da Paz no planeta). Ou seja, Sua Incellênssia o nosso Primeiro Dinossáurio prossegue nas águas turvas de umas no cravo, muitas na ferradura. Que o deus dos montes Golan lhe valha... 



Resultado de imagem para fotos e imagens do Acordo Ortográfico/90 Resultado de imagem para fotos e imagens do debate entre Rúben de Carvalho e Jaime Nogueira Pinto



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segunda-feira, 20 de março de 2017

A Língua Bárbara

Um estimado camarada meu tem sustentado comigo uma polémica que se iniciou por eu ter afirmado que as famosas Óperas do genial músico Wagner não teriam perdido nada se não tivessem existido, por três razões fundamentais: Wagner foi um músico enorme (116 obras no total, entre sinfonias, oratórias, músicas sacras, requiens, músicas de câmara, "lieds" e os tais "drammi per musica"- cerca  de 16 contando com as produções da adolescência) que se enganou ao escrever Óperas, pois transmutou os "drammi per musica" em longas árias sinfónicas mascaradas de personagens operáticas; introduziu na bela Ópera a terrível mitologia alemã dos Odin, dos Walhalas, das Valquírias, onde sentimos sempre o fragor das batalhas, o entrechocar dos escudos, o faíscar das lanças, o sangue vertido das vítimas; e agregado a tudo isto, e talvez o mais grave, a barbárie da língua germânica.
É difícil perdoar-lhe, apesar do acerto dos escritos sobre a estética que deve presidir às concepções operáticas, de ensaios interessantíssimos sobre música, de ter sido reconhecido como um maestro director de orquestra que levava ao rubro as plateias e, nomeadamente, pela divulgação e êxito das sinfonias de Beethovan (inclusivé a 9ª Sinfonia, que se julgava impossível de ser tocada por orquestra humana).

Que a língua alemã é uma língua bárbara não é apenas mera opinião minha, leopardo de outras eras glaciares, mas Thomas Mann, figura cimeira das letras teutónicas, tido por exemplo de espírito equilibrado, escreveu: "Goethe (frequentemente retratado como o paradigma do sábio-filósofo-romancista polimorfo, situado no topo do pensamento germanico) não há dúvida que ele vem de 'Gothe' (Godo), o bárbaro (...)" ( Obras Escolhidas de Goethe, volume um, ed. Relógio D'Água, Maio.1998, Introdução e Prefácio de João Barrento, p.7).
Uso estes cuidados académicos porque o meu estimado camarada, doutor e professor de Germânicas, me bombardeou com uma artilharia discursiva onde relampejavam os nomes do Ferdinand de Saussure, do Lindley Cintra (pai), do Thomas Mann, do Manfred Buhr.
Confesso que fiquei amarrotado. Entretanto, cobrei ânimo, recordei que eu licenciado e pós-graduado em Filosofia, mestre em Pedagogia, também tive aulas com o Lindley Cintra, também estudei com agrado o Saussure, li e tresli uma obra do Manfred Buhr (filósofo laureado da ex-RDA) sobre a Revolução Francesa (cuja qual obra me foi muito útil para leccionar umas aulas, antes do 25 de Abril, sobre a grande Revolução da "Liberté, Égalité, Fraternité", na Cooperativa dos Trabalhadores Portugueses, situada naquelas escadinhas que ligam a Estação dos Caminhos de Ferro dos Restauradores ao Bairro Alto) e resolvi voltar à liça.

Em síntese, o meu estimado camarada e contraditor, sustenta que uma língua é um sistema  estruturado, complexo, abstracto, onde a fonética não desempenha nenhuma função particular, pois onde se usa o referente "faca" para referir um determinado objecto fisicó-químico, se poderia usar o termo "mesa" ou outro qualquer com a mesma função. 
Ora, retirar à fonética e à evolução fonética, o peso determinante que também assumem na língua, tem tão pouco sentido como o tem o senhorito Malaca Casteleiro quando argumenta a favor do seu Açordês/90 que só interessa a flutuação fonética e que só os burros é que não mudam.
De caminho, lembro ao meu estimado camarada, que introduzir a pirotecnia dos grandes vultos da Ciência ou da Cultura, no meio de uma argumentação, é recorrer ao argumento da má Retórica, usar o prestígio dos grandes vultos, tentar assustar o opositor, mas não acrescenta uma vírgula à demonstração. Sabe-se isto desde Aristóteles.

Não levo demasiado a sério as afirmações de um meu professor universitário, Oswaldo Market, fenomenólogo com uma certa nomeada a nível ibérico, espanhol de orgulhosa ascendência alemã, o qual defendia que as únicas línguas que exprimiam o verdadeiro sentido da Filosofia  - a metafísica fenomenologista e anti-marxista - eram o Grego (a língua morta, está claro) e o Alemão. Não as levo a sério, contudo julgo que retêm uma parcela da verdade, pois por alguma razão se considera que a "saudade" portuguesa nunca é inteiramente transmitida para outra língua, para, por exemplo, a "melancolia" italiana que não amalga no mesmo cadinho essa "laranja amarga e doce", essa vivência secular de um Povo pressionado a enfrentar a violência desmesurada do Atlântico para assegurar a sua sobrevivência e a sua autonomia;  ou porque se afirma que a poesia, no seu âmago, é intraduzível; ou porque se caldeou a fogo "tradutore, traditore".

Um belo e terrível filme, a preto e branco, de um realizador alemão cujo nome não recordo (mas que não será difícil sacar na Wikipédia), de título "Laços Brancos", explicitava pelas malhas e pelas tralhas, a tese radical de que a crueldade hitleriana, não tinha sido inventada pelo Adolfo, mas transmitida de geração em geração pela educação e domínio dos prussianos sobre a Germânia. 

Creio que por hoje basta. O míster Trampas, de um dia para o outro deixou de acusar o KGB de manipular os "mírdia" cowboys e agora acusa a CIA ao serviço de Obama de distorcer a sua, dele, imagem. Alguém deve explicar ao míster que é impossível distorcer o que nasce distorcido. Tudo o que se pode fazer é interná-lo ou exibi-lo num Jardim Zoológico de Monstros Apalhaçados.


                 Resultado de imagem para fotos ou imagens de um bárbaro           Resultado de imagem para fotos e imagens de Manfred Buhr



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na luta colectiva, debatida, não-bárbara, organizada táctica e estrategicamente

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