Reflexões do Leopardo

Reflexões do Leopardo
Reflexões do Leopardo

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Bobine de Bobines

Hoje acordei logo mal disposto porque comecei a ler comentários no Facebook sobre a cerimónia dos Óscares.
Vladímir Ilicht Uliánov, mais conhecido por Lénine ( último dos seus nomes na clandestinidade, que uns amigos meus, ucranianos-russos, se esforçaram por me ensinar a pronunciar de forma mais doce - qualquer coisa como "Lhiéenine", se bem os entendi ) entre outros legados geniais que nos deixou, ao ver as primeiras imagens cinematográficas, previu que o cinema seria a grande forma de Arte e de comunicação do futuro.  

Além de Serguei Eisenstein ( e Dziga Vertov pouco ou nada conhecido entre nós portugueses ) - enormes realizadores russos e teóricos da estética cinematográfica recém-nascida , ambos militantes do poder soviético, que interpretaram, puseram em prática (na Rússia soviética) e dilataram a previsão de Lénine, também no mundo "Ocidental" - e muito por influência dos realizadores e teóricos soviéticos referidos - isso foi compreendido, desenvolvido e praticado.

Nomeadamente nos EUA, que entenderam perfeitamente o potencial de veículo ideológico da 7ª Arte, conduzindo à edificação da cidade do cinema, Hollywood (cidade satélite de Los Angeles), e, passo a passo, à cerimónia dos Óscares.
No essencial, a cerimónia dos Óscares é um instrumento de projecção da ideologia capitalista e dos seus valores - o individualismo à "outrance", a competição feroz, a guerra nas suas vertentes multifacetadas (desde a guerra pela beleza física, à guerra económica-finançeira, à guerra dos gangues, à guerra militar),  a divinização ("divos" e "divas", "estrelas") dos vencedores ("winners"), a divisão da sociedade em "winners" e "losers" (vencidos), a justificação da lei dos mais fortes, aqueles que foram seleccionados pela "Natureza" por serem os mais "aptos". 

Dito isto, é necessário acrescentar que a cerimónia dos Óscares igualmente entendeu faz tempo que, para aumentar a sua eficácia e âmbito, lhe era conveniente dar uns ares de "isenção democrática", premiar umas obras de Esquerda (umas mais, outras menos) , umas obras críticas, (não esquecendo puxar para cima hispânicos, negros, uns descendentes restantes dos índios nativos) - uma minoria, umas excepções, claríssimo está - para se caucionar à Esquerda.

A população dos EUA abrange 300 milhões de pessoas e nem todos são reaccionários empedernidos, racistas, xenófobos. Abriga igualmente gente séria, amante da paz, com um sentido humano dos valores, até militantes verdadeiros do socialismo e do comunismo (não devem ser esquecidas as lutas massivamente apoiadas de Martin Luther pelos Direitos Civis dos Negros, o enorme movimento popular contra a guerra no Vietname, etc, etc).

O que significa que não se pode pôr sob suspeita a honestidade de filmes como "Spotlight" ou "Trumbo" (e muitas outras) que denunciam a pedofilia no clero católico nos EUA e no planeta, ou o período do macartismo e a perseguição/tentativa de eliminação aos suspeitos de simpatias pró-russas, pró-socialistas, pró-soviéticas. As razões porque essas e outras obras cinematográficas e os seus profissionais são distinguidos nas cerimónias dos Óscares isso é que já são "outros vinte e cinco tostões"...

Já agora para que não fiquem com água na boca (para os que não viram ou se esqueceram) recordo alguns dos paradigmáticos filmes de Serguei Eisenstein : "Outubro", "Greve", "Alexandre Nevski" a trilogia "Ivan, o Terrivel", "Que Viva México!"  














Em apoio do que teclei cabe falar de Harry Belafonte (de seu nome inteiriço Harold George Belafonte Jr.).
Harry Belafonte nasceu no Harlem, Nova Iorque, no dia 1 de Março de 1927, sendo de ascendência jamaicana.
Foi músico, cantor, actor, pacifista, activista político ( que ainda hoje, com 88 anos, desmente notícias da sua morte e afirma que não tenciona parar).

Politicamente, destacou-se na luta pelos Direitos Civis dos Negros apoiando Martin Luther King; foi um dos organizadores da "Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade" (28.Agosto.1963) que reuniu 250 mil manifestantes, conseguindo o apoio de Marlon Brando (actor de referência e realizador, cidadão progressista,  de quem tinha sido colega brilhante no "Actor's Studio), de Tony Curtis, Sidney Poitier, Sammy Davis Jr., Tony Bennet, até de Charlton Heston (tradicional apoiante do complexo armamentista).

Esta intensa militância política valeu-lhe ser incluído na "Lista Negra" do Macartismo e ser impedido de entrar em filmes durante um período longo de anos , ele que era então reconhecido como o primeiro galã negro da história do cinema norte-americano.

A repressão política e profissional não o impediu de  combater o Apartheid na África do Sul, a fome na Etiópia (onde esteve), apoiar Fidel Castro  em Cuba, Hugo Chaves na Venezuela, atacar a política externa dos EUA (acusou os Secretários de Estado Colin Powell e Condoleeza Rice de serem criados do Governo de George Bush, ao qual chamou "terrorista"), condenar a invasão norte-americana  de Granada. Ou de ajudar a lançar a cantora Miriam Makeba nos EUA, gravando um disco com ela.

Portanto, honra e glória aos cidadãos progressistas norte-americanos, que não devem ser tratados de rasoira, e sobre os quais se abate uma repressão cruel que, por exemplo, faz distinção entre um "marxista" e um "marxista-leninista/comunista": um "marxista" pode ser convidado como curiosidade bizarra para os salões da alta burguesia ou média-alta burguesia norte-americanas, um "marxista-leninista/comunista jamais.     


Resultado de imagem para fotos ou imagens dos Óscares  Resultado de imagem para fotos ou imagens de Serguei Eisenstein  Resultado de imagem para fotos ou imagens de Serguei EisensteinResultado de imagem para fotos ou imagens dos Óscares
Resultado de imagem para fotos ou imagens de Harry Belafonte     Resultado de imagem para fotos ou imagens de Harry BelafonteResultado de imagem para fotos ou imagens de "Carmen Jones" no cinema  Resultado de imagem para fotos ou imagens de Harry BelafonteResultado de imagem para fotos ou imagens de Harry Belafonte            Resultado de imagem para fotos ou imagens de Harry Belafonte   



Guardei para o final deste blogue porventura a sua bobine mais bela. Um poema. Parece que suscitado pela minha reflexão anterior. O poema é do meu amigo Fernando Tavares Marques,  actor/encenador/declamador/poeta. Não possuo fotos do Fernando e, depois, perante um vero poema seriam talvez despiciendas. Portanto, tomem-no e desfrutem-no.


                A MÁQUINA DO FUTURO

Os Donos disto Tudo
(os verdadeiros, que nem sequer conheces)
tinham inventado,
construído e exportado
em direcção ao sul,
uma máquina sofisticada
muito bem oleada,
embalada a primor com laços e uma flor
mas que desembrulhada
e posta em movimento
mais parecia um cilindro
ou rolo-compressor.
Mas os seus mandatários
fizeram uma festa e um grande foguetório
a dizer que era este o transporte ideal
para um povo simplório.
E o cilindro lá foi comprimindo
A vida e os sonhos dos povos do sul.
Onde o sol brilha mais e o mar é azul.
Eis que de repente
esta nossa gente de tão comprimida
achou que era tempo de mudar de vida.
Parou o cilindro, despediu capatazes
e pôs-se a construir o melhor transporte
que formos capazes.
Pode não estar pronto, que o futuro demora,
Mas é mais bonito por dentro e por fora.
Para o amesquinhar,” amigos da onça”
Dizem que o seu nome é a “geringonça”.
Mas há tanta gente que precisa dela
Que a sonha ver pronta p’ra seguir com ela.
Não sendo perfeita, vai-se melhorando
porque este projecto, sendo original,
é feito por nós, é artesanal,
pois é com trabalho que a coisa se faz
e tem um cartaz: “MADE IN PORTUGAL!”
A questão maior que faz afligir os senhores do Norte
é o medo enorme de que a gente a exporte.
Para eles, pode ser muito duro

mas a “geringonça” tem mesmo futuro!            


   fernando tavares marques









domingo, 28 de fevereiro de 2016

Bobine II

Chamei a esta reflexão "Bobine II" por ela ser a continuação da reflexão anterior. É dedicada ao filme "Trumbo", o qual nos relata a vida de Dalton Trumbo (de seu nome completo, James Dalton Trumbo), escritor de guiões para filmes, peças de teatro, folhetins, durante o período do MacKartismo nos EUA.  
Dalton Trumbo fez parte dos "Dez de Hollywood"que se recusaram a testemunhar perante o Comité das Actividades Anti-Americanas ("House Un-American Activities Comittee", em 1947, ( a 2ª Guerra Mundial havia terminado 2 anos antes ) o qual investigava as influências comunistas na indústria cinematográfica (nos EUA, o cinema não é considerado uma Arte, mas uma indústria... e um forte e velocíssimo meio ideológico).

Neste período chamado do "Macartismo", dada a enorme liderança nele assumida pelo senador dos U.S. Joseph McCarthy, foi constituída uma "Lista Negra de Hollywood", que rápidamente cresceu de 10 para 250.
Estes trabalhadores da indústria cinematográfica (produtores, editores, guionistas, actores, cantores, cenógrafos, figurinistas, técnicos de luzes, de som, etc) estavam proibidos de trabalhar acusados de simpatias para com os "Russos" e os países soviéticos.

Trumbo que tinha começado a escrever artigos e histórias (muitas de humor) em 1930, sendo publicado em jornais e revistas prestigiados - como o "Saturday Evening Post", o McCall's Magazine", o "Vanity Fair", o "Hollywood Spectator" - e vindo também a tornar-se professor no Departamento de História da Warner Bros. studio, no final dos anos 30/inícios dos anos 40, era um dos escritores mais bem pagos de Hollywood.
A sua recusa a denunciar colegas de profissão valeu-lhe ser julgado e condenado (apesar de ter apelado para o Supremo Tribunal dos EUA), cumprindo uma pena de prisão de onze meses na Penitenciária Federal de Ashland, Kentucky.

Na verdade, Trumbo começou a perfilhar posturas do Partido Comunista dos EUA a partir de 1940, mas só em em 1943 se filiou formalmente no Partido. Após a pena de prisão, vendeu o enorme rancho que possuía nos EUA e auto-exilou-se na cidade do México onde escreveu, sob pseudónimos, 30 guiões para " B-movie " estúdios dos EUA.
Com o "McCarthismo" a entrar em declínio, com o apoio de Otto Preminger, Trumbo trabalha no filme onde Kirk Douglas interpreta o personagem Spartacus, do filme com o mesmo  nome, realizado por Stanley Kubrick (em 1960). Este filme assinala o fim da  "Lista  Negra". 
Em 1975, a Academia de Hollywood reconheceu Trumbo como o vencedor do Oscar pelo filme "The Brave One". Por essa altura, Trumbo acabou por aceitar o dito Oscar e proferiu um discurso notável de pacificação, dizendo que, embora aquele "Oscar"estivesse manchado pelo sangue de muitas vítimas, na realidade  todos os cidadãos norte-americanos tinham sido atingidos e apoucados pelo período macartista (discurso que o filme reproduz de forma magistral).
Dalton Trumbo morreu de um ataque cardíaco com 71 anos (para o que poderá ter contribuído o hábito que tinha de escrever numa banheira com água fria - tal como Jean-Paul Marat - enquanto bebia quantidades apreciáveis de alcóol). Sua mulher e fiel apoiante, Cleo Fincher Trumbo faleceu em 2009, com 93 anos, de causas naturais.

Ainda outra vez, espero que o que aqui teclo, pequena rábula, Vos incentive a ir ver o filme, que é servido por interpretações e uma realização soberbas.

    
Resultado de imagem para fotos ou imagens de Dalton Trumbo  Resultado de imagem para fotos ou imagens de Dalton TrumboResultado de imagem para fotos ou imagens de Dalton Trumbo  Resultado de imagem para fotos ou imagens de Dalton Trumbo   Resultado de imagem para fotos ou imagens de Dalton Trumbo

      Resultado de imagem para fotos ou imagens de Dalton Trumbo               Resultado de imagem para fotos ou imagens de Dalton Trumbo


Termino o meu blogue com um sonho onde o real o onírico se entretecem. O Sporting foi jogar a Dortmund (Alemanha) com a equipa holandesa LeverKuson. O árbitro do jogo, com as bancadas a regurgitar de holandeses, teve a seriedade e a coragem de expulsar um jogador holandês nos dez minutos finais, o que não impediu o Sporting de perder por 3 a 1.

O sr. Bruno de Carvalho, por triste sina do SCP, presidente do clube, já se sabe que não podia estar de acordo com o resultado e com a arbitragem. Investiu numa Intifada (as Intifadas palestinianas que me desculpem o onirismo) de insultos e pedras contra a equipa de arbitragem.

A polícia alemã que não é de modas (tem uma longa tradição prussiana e não só!) catrafiou o sr. BdeC e alguns dos seus guarda-costas numa cadeia arejada, iluminada ( não fosse a criatura processá-la por insuficiência de condições climatéricas), mas inexpugnável.
O sr. presidente BC saiu após uma pesada fiança paga em marcos alemães. Porém saiu numa carrinha blindada da mesma polícia, carrinha que só despejou os forçados hóspedes na fronteira austríaca, onde os processos parece que foram semelhantes (a Áustria sofre de tradições militares e policiais muito vizinhas das alemãs).

A comitiva presidencial sportinguista acabou por chegar a Portugal, depois de uns dias de viagem. Consta que não apreciaram muito a paisagem. Todavia, a sua maior preocupação, é agora desencantar o pilim, os carcanhóis, o arame, para poder custear o processo judicial em curso (germânico).

Esta crónica onírica não será acompanhada de imagens, dado todo o processo estar em segredo de justiça.   

Amplexos amistosos, mas mui cautelosos do

Leopardo

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Pedofilia no Sacerdócio Católico, MacCartismo, o sonho Dortmund

A minha reflexão de hoje é desencadeada por dois filmes notáveis, tanto no aspecto formal como quanto ao conteúdo. São eles: O Caso Spotlight ou simplesmente  Spotlight e Trumbo .
Quer um quer outro são inspirados e muito documentados em acontecimentos da vida real nos EUA, acontecimentos que, na época, provocaram um largo abalo nas consciências norte-americanas e pelo mundo fora e que ainda hoje servem de referência negativa em toda a parte, incluindo os meios de Comunicação Social (mesmo entre os "mírdia").

"Spotlight" relata-nos a investigação conduzida por um pequeno jornal de Boston (EUA) para averiguar se alegadas denuncias de pedofilia em instituições católicas ocorriam de facto, ou não.
A equipa de jornalistas encarregue da caso, céptica de início, acaba por se envolver profundamente, estipulando o director da equipa e do jornal que se um vigésimo das denúncias (eram inicialmente 60) se confirmasse as tiragens do jornal ultrapassariam o imaginável e provocariam um choque na cidade e no Estado do Massachussets. Todo o jornal, toda a equipa sabia que a investigação não poderia ser conduzida em segredo e teria em cima de si e contra si o enorme poder da Igreja Católica na cidade e no Estado.

Na verdade, a equipa de jornalistas conseguiu confirmar não 60 casos, mas 90, o que implicava necessariamente o conhecimento e o encobrimento da pedofilia dos sacerdotes pela hierarquia católica ao mais alto nível.
O jornal revelou factos como:
Sacerdotes que não tinham consciência que estavam a violar jovens e menores "porque os violados davam mostras de prazer", ou porque eles próprios tinham sido violados na infância, ou porque a pedofilia era uma prática assente e tradicional, do conhecimento de todos, naquelas instituições;
A mais alta hierarquia religiosa de Boston transferia os prelados sobre os quais incidiam mais rumores para dioceses de outros Estados dos EUA ou mesmo de outros países (por exemplo, a Argentina ou Itália), o que só podia ser feito com o conhecimento, acordo e conivência da Igreja Católica no seu topo hierárquico no Vaticano;
A hierarquia religiosa de Boston exerceu pressões de todos os tipos e ameaçou a equipa de jornalistas o tempo todo, recorrendo, por exemplo, além das transferências dos sacerdotes mais indiciados, a tentativas de suborno dos jornalistas, à compra de edições inteiras ou quase do jornal, ao desaparecimento suspeito (suicídio, crime??) de pessoas decidas a testemunhar em público e em tribunal.

A grande edição do caso "Spotlight" revelou que a pedofilia estava difundida nas instituições religiosas católicas em todo o planeta, denunciando os países em que existiam provas fortes e num número de casos impossível de calcular quer porque muitas pessoas tinham morrido, quer porque outras tinham mudado de identidade, quer porque outras tinham constituído família ou situações laborais onde o seu passado não era conhecido nem queriam que fosse. 

Para grande azar da grande edição do caso"Spotlight" ela foi publicada quinze dias depois do "11 de Setembro" e o seu impacto foi abafado pelo estrondo noticioso do derrube das Torres Gémeas, seguido do bizarro caso do ataque ao Pentágono, etc, etc. Não obstante, o impacto da investigação jornalística nos meios católicos e religiosos em geral foi grande. O jornal e a equipa foram objecto de uma distinção honorífica nos meios da Comunicação estado-unidense (incluindo os "mírdia").

Espero que esta minha breve síntese Vos incentive a ir ver o filme. Nada substitui a sua visão integral. Ou mesmo a sua revisão integral. Os crimes cometidos não prescrevem na consciência das pessoas que a têem.

E eu, por agora dou baixa. Sou um leopardo sim, mas até os leopardos se enojam com infâmias desta natureza. Preciso de desanuviar ou desato à patada nas primeiras coisas que encontrar. Amanhã continuarei e concluirei esta crónica. 


Resultado de imagem para fotos ou imagens de Boston, Massachusetts              Resultado de imagem para fotos ou imagens de Boston



Resultado de imagem para fotos ou imagens de Boston               Resultado de imagem para fotos ou imagens do caso Spotlight




                                         Resultado de imagem para fotos ou imagens do caso Spotlight



Resultado de imagem para fotos ou imagens do caso Spotlight            Resultado de imagem para fotos ou imagens do caso Spotlight   


Amplexos cautelosos
que hoje tenho o ânimo exacerbado

                                            Resultado de imagem para fotos ou imagens de leopardos
O Leopardo